BREVES HISTÓRIAS

Perplexidade

Há alguns dias após o Palmeiras derrotar o Flamengo e sagrar-se campeão da Libertadores da América, assisti a dois dos protagonistas da vitória, Ueverson e Deiwirson, atribuírem o triunfo a Deus e não a eles próprios, nem tampouco ao treinador.
Dias depois, quando o Atlético MG venceu, com várias rodadas de antecedência, o Campeonato Brasileiro, mais uma vez assisti os próceres da vitoriosa campanha também atribuírem-na a Deus, mais uma vez deixando de lado a equipe, assim como o treinador.
O Flamengo que mesmo com uma equipe milionária, não ganhou nada e sentindo-se esquecido por Deus, tratou de se movimentar e está fazendo das tripas coração para poder anunciar a volta de Jesus.
Eu que não sou religioso, confesso que fiquei preocupado e acabei tendo um insight e estou envidando esforços para criar uma comitiva capaz de convencer meu amigo Luiz Fernando Ribeiro de Cristo para assumir a vaga de técnico de meu Fluminense, para podermos reequilibrar as forças.

São Paulo por aí
O grande jornalista e emérito polemista, Paulo Francis, que morou vários anos de sua vida em Nova York, sempre que falava da Big Apple, intitulava seu texto como Nova York por aí, dessa forma, aproprio-me da verve de Francis para falar de São Paulo que não visitava há 22 meses.
Mesmo com a precariedade de minha visão, ainda consigo andar sozinho em qualquer cidade do mundo, embora não consiga mais ler placas e nem números de casas ou lojas. Como saio sempre em São Paulo da casa de minha filha, Nina Rosa, é ela que chama meu transporte e para voltar para casa o faço de táxi, já que sozinho não consigo acessar os aplicativos de transporte.
Nina mora na Vila Romana, um simpático bairro, dentro da Lapa. Seu apartamento fica há cerca de 800m do SESC Pompéia e mais ou menos a um km do Shopping Bourbon, que por sua vez, fica ao lado do Alianz Park, que fica há 200 metros do Shopping West Plaza. A região é cercada de restaurantes, bares e bolangeries, como por exemplo, a ótima Fabrique, elogiada pela editora do caderno Paladar do jornal, O Estado de São Paulo, Patrícia Ferraz, como uma das melhores da cidade. Também fica perto dali o excelente restaurante Cacilda, onde eu e Nina almoçamos um domingo. O nome da casa deve-se a uma das grandes damas do teatro brasileiro, Cacilda Becker, cujo teatro fica na esquina do restaurante.
Ainda bastante preocupado com a Covid 19, dessa vez não fui ao teatro, cinema ou exposições. Mas fui nas duas lojas da Augusta Discos que fica é claro na rua de mesmo nome. Fiquei abestalhado com os efeitos da pandemia nesse tipo de comércio. Sempre que vou a Sampa, volto com, no mínimo, 15 discos de vinil e mais alguns cds. É, cds mesmo. Minhas filhas Nina Rosa e Mayara brincam comigo dizendo que devo ser o último morador do planeta que ainda compra cds. Pois é, mas desta vez não comprei, absolutamente, nada. Porque não havia quase nada disponível. Eu procurava, Ummagumma, do Pink Floyd, Let´s get it on, do Marvin Gaye, Band on the run, do Paul McCartney, entre outros e Nevermind, do Nirvana e ainda discos do Foo Fighter, para meu amigo e colunista aqui de Caiçara, Guilherme Takezo. Não encontrei nenhum desses e pela primeira vez, voltei de lá de mãos vazias.
Da Augusta subi até a Paulista e fui ao Conjunto Nacional, onde há uma loja da Livraria Cultura. Fui lá para verificar se havia um crédito em meu CPF, uma vez que há alguns meses comprei os livros, 4,3,2,1, de Paul Auster, Tremor, de Jonathan Franzen, Torto arado, de Itamar Vieira Jr. e Relatos de um gato viajante, de Hiro Aikawa. Paguei todos pelo cartão de crédito e nunca recebi este último. Sei que as livrarias estão em situação difícil, caso da Saraiva e da Cultura que encontram-se em recuperação judicial. Na Saraiva, que sempre foi uma livraria mais ou menos, nunca mais entrei e na Cultura fazia quase dois anos que não ia. O atendimento caiu muito, com pouquíssimos vendedores, que não sabem quase nada de livros e discos, desconhecendo até mesmo autores, notoriamente, conhecidos.
Eu mesmo sem conseguir mais encontrar um livro sozinho, gostava de ir na Cultura, que tem também um excelente café, ou tinha, nem sei mais. Gostava de sentar lá, ouvir jazz e imergir no ato da contemplação e reflexão.
Para mim a Cultura perdeu essa aura quase mítica, no momento que o proprietário declarou apoio a bolsonaro. Como pode um livreiro, propagador da arte, apoiar um sujeito como bolsonaro, declaradamente, avesso a arte e a cultura e cujo livro de cabeceira é de autoria de Carlos Alberto Brilhante Ustra, torturador assumido e denunciado. Esse livro talvez seja o único que bolsonaro leu, pois sua pobreza vocabular e de raciocínio, demonstram seu parco repertório. Inacreditável que pessoas ligadas a arte, sejam profissionais ou amadores, como alguns que conheço aqui em União da Vitória e Porto União ainda se mantenham fiéis a esse negacionista que a cada dia que passa afunda-se mais em seus impropérios e em seus absurdos, próprios de sua obtusidade e desumanidade.

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