ALINHAVAR PALAVRAS

Alinhavar Palavras…

Giselle Moura Schnorr, natural de União da Vitória, filha de mães – no plural mesmo – costureiras, bordadeiras, artesãs, trabalhadoras e mulheres de fibra. Aprendiz de contadora de histórias, educadora, professora com experiência na educação básica e universitária. Graduada em filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e mestre em educação pela mesma instituição. Doutora em filosofia da educação pela Universidade de São Paulo e professora no Colegiado de Filosofia na Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Campus de União da Vitória e no Programa de Mestrado Profissional em Filosofia, Núcleo UNESPAR. Pesquisadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Ensino de Filosofia (NESEF/UFPR) e cursando (2019) Estágio de Pós-doutorado em Educação na UFPR.
“Alinhavar palavras”que batiza esta coluna é uma homenagem as mulheres de minha família de sangue e de coração. Homenagem as mulheres que cotidianamente tecem suas vidas, nem sempre como desejam e poucas vezes são (re)conhecidas por suas contribuições à sociedade. Mulheres que tiveram e ainda tem dificuldade de escrever e serem lidas.
O alinhavo é costura temporária feita à mão. Alinhavar é esboço do que virá. A costura, o bordado são, também, textos. Textos não escritos que revelam da artífice, de quem fará uso das peças confeccionadas, como do universo sociocultural que os gestam.
Vestimos roupas, é certo. E não só.Seres imersos em nosso tempo vestimos histórias, memórias, culturas e tradições. Escrever, como coser ou bordar, é construir conexões imprevisíveis entre tradições e o tempo presente, entre o certo e o incerto, entre magia e técnica.
Inauguro esta coluna tecendo estas breves considerações sobre ofício de trabalhar com palavras. Ofício de quem escreve e de quem é profissional da educação. Palavrear como prática de alinhavar é metáfora que contém intencionalidade, se comunicar. Prática rigorosa e exercício árduo, como das grandes costureiras que presam não só pelos tecidos – sua matéria prima – mas fundamentalmente pelos corpos que habitarão as vestes por elas tecidas.
No ofício da boa costura alinhavar, mesmo deixando o trabalho mais demorado, traz segurança para a composição da roupa, principalmente se feita de tecidos finos e delicados. A convivência com costureiras, bordadeiras e artesãs talentosas pôde educar nosso olhar acerca da importância dos moldes, medidas, alinhavos, acabamentos em detalhes e do árduo trabalho de compor criativa e manualmente, em diálogo, com o misterioso universo de quem fará uso de cada peça. Exercício de ver, olhar e reparar, como sugeriu o escritor português José Saramago, no livro Ensaio sobre a Cegueira. Olhar, reparar e procurar ver além das aparências, do óbvio, como no filosofar…
Como na arte de costurar, ao escrever não temos alcance acerca dos efeitos da obra realizada e do seu tempo de duração, mas intuímos que escrever e costurar, também, tem em comum relacionar-se com identidades, pluralidades, diferenças e mesmo antagonismos, sendo portanto, ofício de risco, pode agradar como desagradar. O que não pode é se perder em rasgos, pois mesmo se rasgando algo novo pode fazer surgir.
Na escrita ao alinhavar, também, furamos os dedos nas agulhas do tempo presente, tecemos o imprevisível e, diferente mente da alta costura que também é trabalho autoral, a escrita não se faz sob medida, é quase sempre desmedida.
Ao “Alinhavar palavras” desejo deixar fluir temas relacionados ao nosso ofício: educação e filosofia. Já a arte de costurar e bordar deixo para minhas mães!

19 de abril de 2019 – Gisele Moura Schnorr

Clique para comentar
Sair da versão mobile