CONEXÃO IFPR

O programa de energia nuclear do Brasil

Por: Fabiane Ap. de Souza S. da Silva

Em novembro de 2019, foi citado pelo Ministro de Minas e Energias do Brasil que se pretende retomar em 2020 o projeto de construção da usina nuclear Angra 3, situada em Angra dos Reis, no estado do Rio de Janeiro. Com tal intento, para a construção da usina, já foram gastos desde o início desta obra, em 1984, aproximadamente R$ 10 bilhões e para a sua conclusão são previstos mais R$ 15 bilhões. Esta usina comporia, junto com Angra 1 e Angra 2, o complexo Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto.
Sobre este assunto, produção de energia nuclear, em 27 de junho de 1975, houve uma publicação no boletim da sociedade brasileira de física-SBF- voltada ao programa de energia nuclear do Brasil, no qual foram apresentados estudos a respeito de alternativas nucleares ao problema energético nacional, em relação à construção de um reator nuclear de potência brasileiro e um estudo sobre problemas de poluição e segurança com a utilização desses reatores. Como fato já conhecido, o desenvolvimento industrial brasileiro não se deu simplesmente pela criação de empresas nacionais, mas sim com o transplante de empresas estrangeiras em nosso território, apenas trocando a importação pela produção destes produtos em território nacional, fato que provocou atraso no desenvolvimento de tecnologia em nosso país. Para nós coube a adaptação de tais tecnologias às necessidades locais, promovendo nossa dependência das empresas proprietárias das tecnologias. Foi dentro deste cenário que ocorreu o “Acordo Nuclear Brasil-Alemanha”, no qual previu-se a transferência de tecnologia e desenvolvimento de Know-how, não apenas compra de um produto acabado.
Como conclusão do estudo à época apresentado pela SBF, identificou-se que o Brasil em termos de recursos humanos possuía capacidade para ter uma indústria nuclear forte desde que fosse capaz de em curto prazo capacitar pessoas para “absorver e incorporar” as tecnologias do acordo nuclear e demais tecnologias desenvolvidas no mundo e desenvolver um processo de inovação tecnológica para longo prazo. Sobre a tecnologia nuclear brasileira, a comissão orientou que fossem desenvolvidos projetos próprios de construção de reatores nucleares com tecnologia nacional. Como recomendações, praticamente todas estavam relacionadas à formação e aproximação dos físicos à área de energia nuclear. Este acordo nuclear junto à Alemanha já dura 45 anos, para o uso pacífico da energia nuclear, para construção de reatores nucleares.
A usina de energia nuclear Angra 3, aqui citada, já teve suas obras paralisadas algumas vezes, em decorrência de problemas econômicos e desaceleração do programa nuclear brasileiro. Além disso, foi alvo de atividades de corrupção na operação Lava-jato. Vale ressaltar que a produção de reatores nucleares não é o único objeto de desenvolvimento de tecnologias com o uso de energia nuclear no Brasil, existem várias pesquisas na medicina e produção de radiofármacos utilizados no diagnóstico de doenças, formando o campo da medicina nuclear. Essas substâncias são inseridas no corpo humano, cuja duração de emissão da radiação em nosso organismo é curta, no entanto, são muito importantes como contraste no auxílio da produção das imagens utilizadas pelos médicos para a identificação de doenças em nossos órgãos. Neste sentido, espera-se que pesquisas em torno da energia nuclear sigam, e se de fato for retomado projeto da Angra 3, estaremos ainda precisando desta usina? Fica a reflexão ao leitor.

19 de junho de 2020 – Conexão IFPR

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