COISAS DA BOLA

Papai Noel e o maior Natal em minha vida

Chegando em casa na boca da noite em um dia deste mês de dezembro, ao abrir o portão para que eu pudesse entrar com o veículo, minha esposa sorrindo, disse que já sabia quem ajudaríamos neste Natal. Salientou ainda, que em cima da minha escrivaninha, ao lado do computador tinha um “presente” para nós, pois deveria ter vindo através das mãos de Deus. Prosseguiu ela, nós fomos brindados com uma cartinha que alguém deixou na caixa do correio. Curioso, a primeira atitude ao sair do veículo já estacionado na garagem, foi ir rapidamente ler a dita cartinha. O teor daquela missiva, escrita de forma simples por uma mãe, que em nome do seu pequeno filho que faria 6 anos dali alguns dias, pedia para o Papai Noel, alimentos e um presente para ele e, se possível, um presente para os dois priminhos dele.
Lendo aquela pequena carta, muito emocionado, de olhos marejados à incontidos prantos, me imaginei sendo aquela criança e, meus pensamentos voaram através do tempo e me vi na década de 1950, nos meus seis anos, quando tive a quase certeza que o Bom Velhinho não ia se fazer presente naquele dia de Natal, mas ele, de forma inesperada, guiado também pelas mãos do Todo Poderoso, compareceu. E, foi assim que aconteceu…conforme a narrativa abaixo, que faz parte do texto do meu segundo livro lançado, Apócrifos da Biografia de Um Desconhecid
De todos os vizinhos que moravam perto de nossa casa, posso dizer que a minha família era, senão a mais pobre, a mais humilde. Digo isso porque os trocados que entravam pela manhã nos cortes de cabelos feitos pelo meu pai eram a garantia de um rango na hora do almoço. Trabalhando honestamente, meu pai e minha mãe, tentavam dar o melhor para sua prole, até aquela época, quatro filhos, todos piás, sendo que dois deles eram gêmeos, sendo eu, o mais velho. Como toda criança, eu e meus irmãos esperávamos naquele dezembro a chegada do Papai Noel. Com vizinhos em melhor situação financeira, muitas vezes nessa época natalina, eu e meus manos ficávamos só na contemplação dos presentes ganhos pelos filhos deles, e já estávamos acostumados a ficar felizes com pouco, por mínimos que fossem os nossos presentes, para nós era a maior alegria. Normalmente, o Papai Noel chegava e deixava o seu saco de presentes atrás do portão de entrada onde, seguidamente, no final da tarde, nós íamos verificar se ele já tinha deixado o saco por lá. Como já disse, eram presentes simples, mas que, aliado aos ensinamentos da minha mãe, que o importante era o nascimento do Menino Deus, não nos preocupávamos se era uma presente caro ou não. O importante era ganhar alguma coisa. Mesmo pequenos nós já tínhamos percebido que o Papai Noel era o nosso pai, pois sempre, antes do saco de presente aparecer atrás do portão, o meu pai sumia por um tempo da barbearia. Normalmente, com o que tinha ganho cortando cabelos durante todo o dia, ele separava uns poucos vinténs que eram destinados aos presentes, e no final da tarde, saia para comprá-los. E, naquele Natal, já na boca da noite, o meu pai não tinha sumido da barbearia e o Papai Noel não tinha deixado o saco no portão. Como filho mais velho e um pouco mais atento, eu tinha percebido que durante todo aquele dia não tinha entrado nenhum freguês na barbearia, portanto, tinha deduzido que não teríamos presentes. Por mim, até que me conformava, mas vendo a expectativa dos meus irmãos que seguidamente iam fiscalizar atrás daquele portão, senti que eles teriam uma dor no coraçãozinho maior que a minha. Entretanto, o sentimento maior foi quando, ao ir tomar água no balde que estava em cima da pia na cozinha, percebi, por trás da cortina de uma porta, que a minha mãe estava com os olhos marejados ao ouvir o meu pai dizer que não tinha vindo nenhum freguês fazer uso dos seus serviços e que as crianças, infelizmente, poderiam ficar sem ganhar nada do Papai Noel, mas que ele tentaria achar uma solução. Logo após, ouvi o barulho da porta da barbearia ser fechada e o meu pai sair rapidamente com sua bicicleta.
Quase na hora de irmos dormir, várias buzinadas vindas de um automóvel estilo “limousine”, que tinha recém parado bem em frente da barbearia nos chamou a atenção. Era a família da minha tia, uma irmã mais nova da minha mãe, que morava em Canoinhas-SC e, de surpresa, apareceu para passar o Natal conosco. A fisionomia preocupada e assustada da minha mãe mudou para uma alegria radical quando minha tia, tio e primos começaram a descarregar cestas de natal e presentes para todos. Mais contentes ainda ficamos todos quando, por volta das onze horas da noite, meu pai retornou e chegou perguntando para nós se o Papai Noel não tinha vindo ainda. Entendendo o recado, eu e meus irmãos fomos correndo verificar atrás do portão, e lá estavam, os maiores e melhores presentes de Natal que ganhamos em toda a vida. Fazendo parte daquela celebração natalina, como de costume, à meia noite, fomos todos à tradicional missa do galo na igreja matriz de Porto União.
Tempos depois, descobri que, naquela véspera de Natal, o meu pai tinha saído de bicicleta e ido até a casa do meu tio que tinha uma bodega em União da Vitória, na tentativa de emprestar algum dinheiro para ver se conseguia ainda comprar os presentes para nós. Além de emprestar a grana, o meu tio foi junto até a casa de um amigo dele que tinha uma loja no centro, a Gabriel Nemes. Mesmo estando comemorando o Natal com seus familiares, o homem foi até a sua loja e vendeu os presentes para o meu pai.
No início desta crônica, onde tudo é verídico, a minha esposa relatou que em cima da minha escrivaninha tinha um “presente” para nós, aquela pequena carta, que nos proporcionou a chance de ganharmos mais um presente em nossas vidas, pois temos o pleno conhecimento que quem ganha o maior e melhor presente é quem dá. Satisfazendo os pedidos daquela pequena cartinha, de forma anônima, ganhamos o nosso.
Feliz Natal para todos nós, adorando o MENINO JESUS.

COISAS DA BOLA são fatos vividos por mim, histórias contadas por amigos e outras frutos da minha imaginação. Qualquer semelhança será puro acaso.

23 de dezembro de 2021 – Jair da Silva

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