NACO DE PROSA

Lamartine Babo e Dr. Voronoff

Sempre me causou curiosidade a letra da música de Lamartine Babo, principalmente estes versos:
“Seu” Voronoff…
“Seu” Voronoff…
Numa grande operação
Faz da tripa o coração.”
Para entendê-los precisamos saber de onde saíram tais versos, e o porquê de alguns compositores usarem o Dr. Voronoff como inspiração.
Serge Voronoff foi fisiologista e cirurgião francês de origem russa e ganhou fama por sua técnica de enxerto de tecido testicular de macaco nos testículos de homens para fins supostamente terapêuticos, enquanto trabalhava na França nas décadas de 1920 e 1930.
Mundialmente famoso como um expert em cirurgias de enxertos e pelas séries de experimentos glandulares para melhoria de raças de ovinos e equinos.
Foi um dos primeiros cientistas a acreditar na relação entre atividade hormonal e o envelhecimento.Pesquisou sobre atividades sexuais no homem e melhoria no desenvolvimento mental em crianças por transplantes de glândulas de macacos.
Morou no Cairo (1896-1910) quando observou que os eunucos eram obesos, sem pelos, pélvis alargadas, músculos flácidos com movimentos letárgicos, então concluiu que a falta dos testículos envelhecia e que sua presença rejuvenescia.
Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), o Doutor Voronoff trabalhou atendendo soldados franceses feridos. Várias averiguações e pesquisas nessas ocasiões, mostraram que Voronoff fez transplantes de ossos em soldados servindo-se de material procedente de combatentes, que tiveram seus membros amputados durante as batalhas e, que,Voronoff transplantou um osso de chimpanzé em um soldado ferido em 1915 , que essa cirurgia lhe deu a ideia de transplantar o testículo de um macaco em um homem.
Segundo ele (1928), o xenotransplanteglandular permitiria uma produção constante de hormônio e que não haveria a necessidade do uso frequente de injeções. Houve numerosos fracassos, mas nada o desestimulou de prosseguir e seu crédito aumentou em toda a Europa
Afirmava ainda que o enxerto da glândula tireoide de macaco dava resultados superiores aos daqueles enxertos, em que eram utilizadas glândulas humanas, porém a sustentação para o transporte desses órgãos ou mesmo hospitais e profissionais especializados continuavam na esperança futurística. Voronoff confiava que em pouco tempo, os avanços da mentalidade e das leis alcançariam a evolução da ciência. E, que as pessoas deveriam entender que poderiam servir a humanidade mesmo depois de mortas.
“Para ele, a doação de um enxerto qualquer por um prisioneiro prestes a ser executado, por exemplo, poderia transmitir ao paciente características perversas do doador. “O macaco, por ser semelhante ao homem e com ele aparentado pela escala evolutiva, por ter um corpo forte e boa qualidade de órgãos e saúde, deveria ser o animal utilizado na melhoria dos seres humanos”, assegurava Voronoff, segundo os historiadores, que também dizia fazer uma seleção prévia baseada em um minucioso estudo sanguíneo de doador e hospedeiro, sem revelar detalhes.”
O excêntrico cirurgião operou 40 homens (engenheiros, intelectuais, arquitetos, advogados, professores universitários, um pintor, em suas clínicas particulares. E mesmo com a maior parte das operações tendo resultado em fracassos, o entusiasmo do cientista não diminuía, nem o número de seus admiradores. No final da década de 40, mais de 45 cirurgiões aderiram às técnicas de Voronoff e cerca de dois mil xenotransplantes foram realizados entre primatas e indivíduos em vários países, como Estados Unidos, Itália, Chile e Índia.

Em 1928, o médico Serge Voronoff veio ao Brasil para divulgar nas Jornadas Médicas seus curiosos xenoimplantes glandulares. Para os idosos, a novidade representava esperanças de rejuvenescimento. Já entre jovens gerou zombarias e piadas, além de marchinhas de carnaval.

Seu Voronoff
Composição de João Rossi/Lamartine Babo

Toda gente agora pode
Ser bem forte, ser um “taco”
Ser bem ágil como um bode
E ter alma de Macaco.
A velhice na cidade
Canta em coro a nova estrofe,
E já sente a mocidade
Que lhe trouxe o Voronoff

“Seu” Voronoff…
“Seu” Voronoff…
Numa grande operação
Faz da tripa o coração

Operado foi na “pança”
Um velhote com “chiquê”
Ele vai virar criança
Das cartilhas do A.B.C
Um sujeito que se operou
Voronoff desculpou-se
Logo, após, sentiu-se mal.
Voronoff desculpou-se
.. que houve troca de animal

Noel Rosa o cita em versos da canção “Minha viola”.
“Eu tive um sogro cansado dos rega-bofe, que procurou o Voronoff, doutô muito creditado, e andam dizendo que o enxerto foi de gato, pois ele pula de quatro miando pelos telhados…”
Cantou Noel Rosa em alusão ao polêmico médico russo.
Dr.Voronoff morreu rico, mas sem reconhecimento.

26 de junho de 2021 – Marli Boldori

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