REMINISCÊNCIAS

Pensamentos esparsos…

Transcorria a década de 1950, os dias calmos, angustiosamente, longos, infindáveis.
Nessa época com meus pais e irmãos, morávamos no alto da Rua 7 de Setembro, em Porto União, SC, vizinhos de muitos outros infantes parceiros de folguedos, artes e tudo o mais possível de imaginar.
Na época eram poucas as vias públicas calçadas. Usava-se ao tempo paralelepípedos para o fim. O calçamento da 7 de Setembro alcançava apenas o cruzamento com a rua Frei Rogério, onde hoje se encontra instalado o Banco do Brasil S/A, local onde estava edificada a Prefeitura Municipal.
Lá onde morávamos a rua era macadamizada, pedregulho solto, alegria da “piazada” que comumente se utilizava de “cetras” para infinitos fins, poucos justificáveis, a grande maioria não muito nobre.
Muitas eram as utilidades da rua, a mais comum servir como campo de futebol: as traves um amontoado de pedras, geralmente, postados no centro da rua. Os esporádicos veículos que pela via trafegavam, eram forçados a desviar, ninguém reclamava.
E a vida ia passando, passou…
Olhos voltados ao passado lembro que, fugindo às determinações das mães, em especial no verão que os dias eram mais longos, nos lançávamos em desabalada carreira depois do jogo de futebol que combinado terminava mais cedo, em direção ao rio Pintado que nos parecia menos perigoso e não muito distante, hoje inalcançável. A aventura era certa, certo também era o castigo na volta. A constatação do banho no rio pelas mães quando a “piazada voltava, realizada usando método irrefutável: com a unha raspavam a pele do braço, se ficasse esbranquiçado o arranhão, não havia justificativa, a surra era certa.
A maioridade, os estudos, assunção de compromissos, casamentos, separação natural e consequente face a passagem temporal, laços de amizade nunca rompidos apesar de enfraquecidos pela distância.
O tempo passou, dos infantes da Rua 7, a grande maioria já falecidos em face da avançada idade, e os sobreviventes alquebrados, dominados pelo uso de medicamentos, vivem apenas de recordações.
Agora, submisso ao uso de bengala, com marcha determinada por pequenos passos, cuidadosamente, ando respeitando todo e qualquer pequeno obstáculo no caminho, no passeio, sob pena de não assim procedendo, sofrer consequências.
Não foi assim no passado, corridas desenfreadas quando não atrás de uma bola, em busca das refrescantes águas do rio Pintado, ou quem sabe de um balão nas festas de São João… Quem não fez isso?
Hoje, equilibrando-se com auxílio de bengala, superados os oitenta anos, a passos trôpegos, restam saudosas lembranças, apenas pensamentos esparsos…

25 de fevereiro de 2022 – Irapuan Caesar Costa

Clique para comentar
Sair da versão mobile