LÍNGUA VIVA

Diminutivos

É verdade que nós, brasileiros, usamos muito o diminutivo? O Professor José Lemos Monteiro acredita que sim, pois escreveu em seu livro “A Estilística” que “a frequência de diminutivos na fala de um povo se correlaciona com o seu grau de afetividade, a sua disposição emotiva. Daí, sem dúvida, a explicação para o excesso de diminutivos, tão constante entre portugueses e brasileiros”. Luís Fernando Veríssimo também disse que sempre achou que “ninguém batia o brasileiro no uso do diminutivo, essa nossa mania de reduzir tudo à mínima dimensão, seja um cafezinho, um cineminha ou uma vidinha”. Em 2014 a Coca-cola brincou com o jeito de falar do brasileiro, numa campanha na América Latina, convidando para a Copa do Mundo: “Todos sabemos falar portuguesinho”. No Brasil o uso do diminutivo funciona muito bem, e é constantemente explorado na propaganda: “Dá pra viver na cidade com um pezinho na praia”; “Toda tarde temos pão quentinho”.
A gramática diz que o diminutivo identifica a pouca intensidade com que um atributo se manifesta, diminuindo não só o seu tamanho, mas também o seu valor ou importância; e que é formado pelo acréscimo de sufixos a substantivos e adjetivos, como – inho(a), -isco ou – ito. Mas nem sempre ele é usado apenas com essa função literal. O diminutivo pode, ao contrário, enaltecer, exaltar; acordar cedinho é acordar muito cedo – não pouco.
Os diminutivos são cheios de emoção, e fazemos diversos usos deles em nossa língua. Amenizamos o problema chamando-o de “probleminha”, ou o valor negativo da pressa ao dizer “Só mais um minutinho!”, e expressamos afetividade chamando a irmã de “irmãzinha”. Mas nem tudo é positivo no sentido dos diminutivos. Acrescentamos sentido pejorativo e constrangimento ao chamar o parque de “parquinho” e o jornal de “jornalzinho” ou “jornaleco”; ofendemos e desprezamos ao referir-nos ao médico como “doutorzinho”; revelamos antipatia e espezinhamos ao dizer “aquela mulherzinha”; intensificamos a compaixão ao chamar alguém de “coitadinho”; e, finalmente, o diminutivo às vezes é apenas o nome, sem que denote algum tipo de grau: Garotinho é um político carioca.
E tem diminutivo que deixou de sê-lo. O mosquito, no começo, veio da palavra “mosca” mais o sufixo – ito; mas hoje em dia, mosca é mosca e mosquito é mosquito, são insetos diferentes. E o palito veio de pau (que no latim era escrito palu) mais a terminação diminutiva – ito; mas hoje há o “palito” e o “palitinho”. O “marisco” é um pequeno animal do “mar”, e o “asterisco” é um “pequeno astro”. Uma “película” é uma “pelezinha”, e a “cutícula” é a “pequena cútis”. Sabe a libélula? Seu nome indica uma “pequena libra”, sendo que “libra” significa “balança”; a libélula, quando voa, parece que está imóvel no ar, em perfeito equilíbrio, como uma balancinha. A pílula, essa é uma bolinha; porque os romanos usavam pila, do tamanho de uma bola de tênis, para jogar. De pila também veio a palavra “pelada” para jogo de bola. Mais uma para terminar os exemplos: Será que “golfinho” é diminutivo de “golfo”? Não, isso não faz sentido. A palavra é uma variação de dolphin, do inglês; até o século 19 esses cetáceos eram chamados de “dolfinhos”.
Do estilo ao usar o diminutivo todo mundo entende. Um pouco mais difícil é acertar o seu plural. São “florzinhas” ou “florezinhas”? “Colherinhas” ou “colherzinhas”? As “florezinhas” e a “colherzinha” ajustam-se mais ao padrão do substantivo terminado em consoante e recebendo o sufixo – zinho/a; “colherinha” é mais antiga, mas ambas as formas são aceitas e corretas, pois com os substantivos terminados em R ou Z podemos fugir à regra.

17 de agosto de 2018 – Karim Siebeneicher Brito

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