BREVES HISTÓRIAS

50 anos depois

Em 1972, há 50 anos, eu então com 13 anos tinha como únicas preocupações os jogos do Fluminense e a montagem de um campo de futebol em um terreno baldio, quase em frente à minha casa, onde ainda moro, na rua Barão do Cerro Azul.

Preciso confessar que não era bom aluno. Muito dispersivo, quase só pensava na bola e em estripulias que inventávamos em nossos domínios, nas imediações da rua onde eu morava.
Nessa época decidimos fazer mais um campo de futebol. O primeiro que havíamos feito, ficava em um terreno nos fundos de minha casa e que havia sido comprado pelo senhor Dario Bordin que iria fazer ali um depósito de madeiras. Ficamos ali até sermos desalojados pelas pilhas de madeira que chegaram.
Sem campo, logo fizemos outro, desta vez bem ao lado de minha casa, no terreno onde morava o amigo e como tal, integrante de nossa trupe, José Roberto Machado. Permanecemos ali até que o vizinho, um senhor muito bravo não só começou a não devolver as bolas que caiam em seu terreno, como certo dia irrompeu em nosso campinho e agarrou o primeiro menino que encontrou, Dario Bordin Lenci e passou a esganá-lo, só parando quando tia Lulu ao ver a insólita cena de sua janela, foi até o campinho e desaforou o velho ensandecido, que foi embora praguejando.
Percebemos que ali não daria mais. Foi então que resolvemos fazer o campo no terreno onde reside o amigo Fauzi Bakri. Começamos por cortar o mato e arrancar as árvores menores, ficando apenas uma enorme pereira, que para nossa sorte, ficava bem no final do campo, quase junto ao corner esquerdo. Feita roçada, o terreno ficou de terra batida, o que nos motivou a aterrá-lo com serragem que buscávamos na Empresa Dalmaz. Como éramos muitos meninos, cada um trazia nas costas um saco de serragem e logo o trabalho ficou pronto.
Faltavam as traves. Novamente fomos aos amigos do Dalmaz e ganhamos as ripas para fazê-las.
O terreno embora fosse baldio, ainda conservava intacto seu muro de frente, que também ainda tinha um pequeno portão de ferro. Melhor impossível. Pintamos então no muro, com tinta verde, o nome de nosso time, Cerro Futebol Clube.
Partimos então para a aquisição de um jogo de camisas. Nos cotizamos e decidimos por uma camisa verde e vermelha. Os números nas camisas, acho que foram confeccionados por Dona Juraci Bughay, mãe de meu amigo e componente da turma e do time, Vilmar Antônio Bughay, que nos deixou muito antes da hora, em janeiro de 1990, aos 29 anos, em um acidente de carro. Os distintivos foram criados e desenhados, posteriormente, no pano por Paulinho Rochembach, que além de exímio desenhista, era também o craque de nosso time, e foram costurados também por Dona Juraci.
Os primeiros treinos de nosso time eram animados por boa música, oriunda de um equipamento de som de Fernando Boni que morava na rua Costa Carvalho e colocava as caixas de som em cima do muro de sua casa. Em 1975, fiquei amigo de Boni e, finalmente, conheci seu fantástico equipamento de som e luz.
Mas nem tudo era só futebol, por volta dessa época, como era natural, surgiram as primeiras paixões. Acho que já comentei por aqui, que meu primeiro amor foi Rosemari Neninha Deiling, aos 8 ou 9 anos de idade, quando eu estudava no Externato Santa Terezinha. Nunca nos falamos. Estudamos juntos de novo na terceira série do,antigo ginásio, no Túlio de França e mais uma vez jamais nos falamos. Creio que a timidez de ambos não permitiu. Nos reencontramos há uns 10 anos, em uma rede social. Contei-lhe essa história e meio perplexo, descobri que ela também havia gostado de mim. Hoje somos bons amigos. Também no Túlio me interessei por Jocélia Paes, mesmo sabendo que minhas chances com ela eram zero, uma vez que ela era cortejada por meninos mais velhos. Há cerca de uns 30 anos o acaso fez com que nos encontrássemos e contei a ela essa história. Ela muito gentil, disse que se sentia lisonjeada e que talvez tenha sido uma pena, nunca termos nos falado.
Ainda no Túlio eu gostei de Marisa Forostecki. Com ela, acho que já aos 13 anos, troquei alguns olhares, mas também foi só isso. Hoje, nada sei sobre ela. Já aos 14 anos e, portanto, depois de maio de 1972, comecei a perceber uma menina que estava em uma série depois da minha, Maristela Dalmaz Morais, com quem troquei longos e lânguidos olhares, que nunca passaram disso e, provavelmente, tenha sido ela a inspiradora do imenso interesse que comecei a ter pela música.
Em 1972, eu comecei a fazer a cobrança de assinaturas do Jornal Caiçara. Tia Lulu me dava a excepcional comissão de 30% daquilo que eu cobrasse, dizendo que com aquele dinheiro eu poderia comprar minhas HQs. Eu era incondicional fã da Marvel Comics e colecionava as histórias do Capitão América, Homem de Ferro, Hulk, Namor – O príncipe submarino, Thor, Quarteto Fantástico, Homem Aranha e Demolidor, este meu favorito até hoje. Da DC Comics eu colecionava as histórias da Legião dos Super Heróis.
Como o dinheiro dava e sobrava na compra das HQs, comecei a comprar discos e iniciei pelos compactos. São de 1972, Alone again, de Gilbert O’ Sullivan, que foi a segunda música mais tocada nas rádios americanas daquele ano e a primeira mais tocada no Brasil. Também desse memorável ano, “Oh Babe What Would You Say”, de Hurricane Smith, Rocket man, de Elton John, I’d love to want me, de Lobo, Without you, de Harry Nilson, Listen to the music, dos Doobie Brothers, Rock and roll lullaby e Longa go tomorrow, de B J Thomas, Ben, de Michael Jackson e Summer breeze dos Seals & and Crofts, que minha mãe, Ofir Augusto Sá, adorava.
Também foi em 72, que comprei meus primeiros LPs e entre eles estavam as trilhas sonoras internacionais das novelas O primeiro amor, Selva de pedra, O Bofe e Uma rosa com amor, entre outros. Imagino que todo menino ou menina acaba se apaixonando por um astro ou atriz e minha primeira paixão foi a personagem Titina, vivida por Bete Mendes, na novela Super Plá, de 1969/1970, da Rede Tupi.
A segunda paixão novelística viria em 1972, pela personagem Fernanda, vivida pela atriz Dina Sfat, na novela da Globo, Selva de Pedra.
Naquela época a “namoradinha do Brasil” era a atriz Regina Duarte e eu parece que prenunciando sua adesão, quase 50 anos depois, ao bolsonarismo e ao atraso, a ignorei por completo.
Também foi em 1972, que descobri as fantásticas rádios Continental, de Porto Alegre, Excelsior, de São Paulo e Mundial, do Rio de Janeiro, todas do Sistema Globo de Rádios, que antecipariam em alguns anos as FMs.
Para encerrar, não posso deixar de mencionar que Clube da esquina, de Milton Nascimento e Lô Borges, que é apenas o maior disco da história da MPB, também é desse magnifico, mitológico e inesquecível ano.
PS: Clube da esquina merece uma crônica só para ele e a escreverei em uma de nossas próximas edições.
Até lá então.

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