NACO DE PROSA

Jô Soares

Aqui tem feito dias de céu azul e, às vezes, cinza. Lembro que justo neste dia, o céu estava azul, a temperatura agradável, ainda estava deitada, quando fui checar as notícias no celular. O dedo foi deslizando na tela, quando parou em uma notícia, a qual eu realmente não queria para começar o meu dia. Não que fosse meu parente, ou pessoa mais próxima, mas nos apegamos, sentimos carinho e admiração, nós respeitamos. E naquela manhã, ler sobre a morte de José Eugênio Soares, fez o céu ficar, de repente, cinza. Jô era desses artistas completos, como costumam chamar por aí, apresentador, ator, comediante, diretor, produtor, dramaturgo e artista plástico. Poliglota, falava português, francês, espanhol, inglês e italiano. Atuou e dirigiu quinze ou mais espetáculos. Apresentou-se em palcos, telas e, era engajado à literatura, unindo o humor ao jornalismo. Entrevistou mais de quinze mil personalidades brasileiras e internacionais. Criou personagens e bordões, que marcaram a TV brasileira. Suas críticas com pitadas de humor, eram encontradas em suas personagens no programa como: “Viva o Gordo”.

Além das telinhas, telonas, palcos, pudemos acompanhar o brilhantismo de Jô em páginas de livros, escreveu nove livros que se transformaram em best sellers, como foi o caso de o Xangô de Baker Street. Em 2016, entrou para a Academia Paulista de Letras, assumindo a cadeira 33, seu patrono era Teófilo Dias.

Jô foi o precursor de talk show no Brasil, entre artistas consagrados e novatos, ele conseguia extrair o melhor dos seus convidados.

Enquanto eu lia a notícia, uma história de um tempo bom foi passando em minha cabeça, tempo esse em que podíamos um pouco além, em que críticas eram aceitas para que se melhorasse tal situação, e não para ofender ou rebaixar a alguém.

Lembro da família reunida, lembro do relógio marcando meia-noite, e eu segurando o sono para assistir ao último bloco do programa.

Lembro do bordão, lembro de Jô brincando com a banda ou com o seu fiel escudeiro e garçom.

São tantas lembranças, momentos de como a vida é feita.

Lembro também de críticas a ele, seja por uma personagem, ou pela vida real em relação ao seu filho, também falecido.

Muitas vezes, as pessoas confundem a realidade com a ficção, e muitas outras não sabem da história a fundo e apenas criticam pelo sabor de criticar.

Jô é digno de aplausos, desses raros artistas que dão chance a outros que estão começando ou já esquecidos, de pessoas anônimas, mas de grande importância para o Brasil.

Deixa um legado admirável, sua história não será esquecida, e quiçá, eu ainda possa ver nascer um artista tão completo quanto ele.

“O Jô só pensava em uma coisa: repartir o pão da alegria”.

“Tudo ele acabava levando para o lado do humor, da alegria, e até há uma frase, que ele adorava, de um ator inglês, Edmund Gwenn que dizia o seguinte: ‘morrer é fácil, humor que é difícil’. Ele disse essa frase no leito de morte. E ele, agora nos últimos dias no hospital, voltou a repetir essa frase: ‘viver não é problemático, difícil é fazer humor’.

Em um ano em que o Brasil perde tanta gente importante, Jô Soares fará muita falta, como amigo, como artista, como ser humano.

E mais uma luz se apagou nos palcos da vida.

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