LITERATURA

A HISTÓRIA QUE NINGUÉM CONTOU OU A VITÓRIA DE OSWALD DE ANDRADE NAS ELEIÇÕES DE 1950

Escapulário
No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia de Cada Dia
(o. de andrade)

Parte 1
Um amigo costumava dizer que a história se parece com uma anedota. Uma piada. Depois de pensar sobre isso, adotei a premissa de que só posso entender a história se reinventá-la. Levei ao extremo a ideia desse juízo que me encheu de júbilo e frenesi.O passado tem vida própria e pode seguir outras vias que não aquelas que são óbvias. Por exemplo, se estou numa encruzilhada e decido seguir à direita, o caminho da esquerda não existe apenas como um trajeto não realizado. Imagine que um outro eu de mim decidiu percorrer uma via alternativa. Eu sou dois. Eu me fragmento. Mesmo seguindo um caminho e não o outro fiz as duas travessias. A diferença é que a outra viagem não é tão palpável quanto aquela que trago comigo como um feito realizado. E no meio do caminho não existia uma pedra, mas um jardim onde as veredas se bifurcam. Jorge Luiz Borges é um saci.

Parte 2
Depois das eleições é comum que os meios de informação noticiem a vitória de um e a derrota de outro, o que é sempre relativo. As vitórias às vezes não fazem sentido e muitas vezes se parecem com uma grande sacanagem. O mesmo vale para as derrotas. Na estória do outro caminho, não contada pela história, meu candidato venceu. Oswald de Andrade não tardou a desafinar o coro dos contentes e passou na prova dos nove. Depois da posse, convenceu os correligionários a defenderem um projeto antropofágico. Primeiro deveriam convencer os adversários a adotarem uma medida provisória autofágica. Só pra ver se sumiam do mapa. Deu certo. O Brasil era agora uma tribo pós-nacionalista. Para que pregar o rompimento com o FMI se poderíamos emprestar dele todo o capital necessário? Rejeitaríamos o resto. Regurgitaríamos o excesso do nacionalismo careta e pregaríamos um meta-Brasil sem muleta. Não tardou o sucesso da proposta. Alguns anos depois, Oswald foi eleito Pajé da tribo Tupiniquim. Todos usávamos óleo de urucum, colares e calças jeans. Haveria tecido melhor para bater todo dia? Jogamos fora o hinoneo-romântico e todos cantávamos “Trenzinho Caipira” sob a batuta do maestro. Mário de Andrade foi para o Ministério da Cultura, que ali nunca deixou de existir. O ministro só saía da capital federal para viagens ao interior do Norte e Nordeste em busca de materiais autênticos em suas pesquisas etnográficas. Nas escolas, os alunos aprendiam o tupi, mas também o português, o inglês e o francês. Era preciso conhecer para deglutir – não dá pra comer o que a gente não conhece. Quando consegui estabelecer uma comunicação com a outra realidade e contei o que era o Brasil desse lado, ninguém acreditou. Apontaram-me arcos e flechas: Só existia um Brasil, o deles. Minha “estória” soou como uma piada. No final, riram e prepararam um caldo com o estrangeiro. Meu “eu” daquele lado tentou me defender. Virou farofa.

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