Às vezes chamo a menina que mora dentro de mim. Ela não me deixa esquecer o quanto a vida me foi bonita. O cheiro dos pessegueiros e laranjeiras floridas no pátio de casa, as brincadeiras de esconde-esconde, passa anel, amarelinha… As cantigas de roda… Os banhos de chuva de verão, o sapato de verniz com laço de cetim, o vestido vermelho, a pequenina bolsa de vime, a bola cor-de-rosa, a coleção de livros na estante, as cestinhas de Páscoa, as bolachas de Natal, o suco da melancia fatiada que escorria pelos braços, as mãos cheirando à mimosa, o caminho da escola, as amoras, os coquinhos, o aroma do pão saído do forno, os morangos no quintal… A menina ainda existe, basta fechar os olhos.