No fim do século XIX, nos primórdios da colonização, quando ainda era exercida a profissão de “bugreiros”, o visionário bisavô, face as possibilidades de bons lucros no transporte de madeiras, erva-mate, pessoas, etc., importou da Alemanha lancha movida a vapor, impulsionada por roda d’água.
Despachada a lancha desmontada – casco, caldeira, roda propulsora e outros elementos essenciais – foi desembarcada no porto de São Francisco do Sul. Aventura épica foi o transporte do porto de São Francisco, SC, para a cidade de Rio Negro, PR, onde vivia a família Caesar.
O casco da lancha confeccionado de ferro, com aproximados 15 metros de comprimento, foi acomodado em improvisado carretão tracionado por quatro juntas de bois.
Ocorria que entre São Francisco e Rio Negro há a Serra do Mar e, naqueles idos do século XIX, a transposição era efetuada por precárias trilhas abertas pelos índios Guaranis que habitavam aquelas paragens. Trilha estreita marginando imensos perais, que dificultosamente passava uma pessoa de cada vez.
As dificuldades eram muitas. De início era necessário que a comitiva para o transporte fosse escoltada por homens treinados e armados para evitar o ataque dos índios, selvagens e ferozes, razão porque contratados caçadores de índios (bugreiros) para a escolta (bugreiros eram chamados os caçadores de índios – imaginem só o barbarismo).
Quando da descida de Mafra/Rio Negro para São Francisco, necessária é a travessia da Serra do Mar. Hoje, apesar de via asfaltada, é extremamente perigosa, com descidas íngremes, curvas perigosas. Naqueles dias, levando carretão que era tracionado por seis juntas de bois, inimaginavam as pessoas atuais o perigo, as dificuldades, os riscos e ainda atravessar o domínio dos selvagens extremamente perigosos índios Guaranis. Contavam que não era incomum o viajante ser atingido por flecha com a ponta impregnada de veneno-de-cobra cascavel, ou de jararaca, disparada por índio tocaiado. Andar na mata era excessivamente perigoso. O transporte de coisas e pessoas era feito no lombo de mulas, mais forte do que os cavalos, mais seguras em razão do passo, curto e rápido, trote sem galopar.
Na descida para São Francisco, contava, usando a trilha dos índios, foram alargando, cortando árvores, viabilizando a passagem do carretão. Foram muitos dias até alcançar as paragens planas, muitos acidentes aconteceram no percurso, nenhum fatal, mas que serviram de ensinamento para a futura volta.
Chegados ao Porto de São Francisco, se é que assim se podia chamar um tosco atracador que mal podia receber um navio por vez, depois de exercício de imaginação, providenciaram uma espécie de guindaste (um tronco de árvore resistente, apoiado próximo ao meio do comprimento, numa das pontas fixada no casco da Lancha que estava embarcada, noutra ponta fixada uma caixa que encheram de pedras e, quando foi possível, os marinheiros, os homens da comitiva, a escolta, de uma forma ou de outra, se apoiaram, puxaram, a outra ponta do tronco, até que deslocado o casco do convés do navio, vagarosamente foi postado no carretão que então recebeu mais um eixo e rodas.
E o retorno começou…
A trilha aberta serviu plenamente até o início da subida da Serra do Mar, depois foi necessário alargar a trilha, porquanto o casco da Lancha era mais comprido e mais largo do que pensavam os transportadores. As juntas de bois, melhores do que cavalos e mulas iniciavam a marcha vagarosamente, sem arrancos, possibilitando o manejo seguro, um boiadeiro para cada junta. E o boi mais manso, mais prático, segue à frente, orientando os demais.
Oora Boi! Firme barroso! Força mulato!… e outros, eram gritos que se ouviam dos boiadeiros estimulando os animais. Foram-se dias trafegando, ora em subidas, ora em descidas, sempre com muito cuidado e esforço. Na subida do carretão todos empurravam, nas descidas o esforço era para segurar para não disparar.
Pouco mais de mês e lá estavam às vistas de Mafra, nas cercanias da cidade.
Chegados, festas, contos, histórias, cada um tinha a sua. Os homens eram fortes, corajosos, empreendedores, trabalhadores.
Para nós resta a imaginação…
A verdade é que a Lancha que tomou o nome de Rosa, navegou por muitos anos no Rio Negro, no Rio Iguaçu, transportando os bens industrializados, passageiros e outros, levando e trazendo fortunas, auxiliando o progresso.
Cercam a Lancha Rosa muitas histórias, muitos contos…