REMINISCÊNCIAS

2122

Nos idos de 1945 morávamos no Distrito de Poço Preto juntos com os avós maternos. Tempos da Segunda Guerra Mundial, em decorrência dela, havia carência de quase tudo, desde alimentos até combustível para acionar os poucos veículos automotores que havia. Naqueles tempos os veículos automotores muitos eram adaptados para o uso de gasogênio obtido da queima de madeiras, carvão, etc., ao invés de gasolina, menos eficientes, porém a solução. Isso no século passado, quando ainda o desenvolvimento tecnológico estava muito próximo da “pedra lascada”. Lembro do meu avô materno expressar indignação do uso da fumaça como combustível dos veículos movidos pelo gasogênio, enorme tambor cheio de lenha e fogo, instalado atrás do veículo, invés de tanque de combustível. Era o progresso, o espaço celeste era para os pássaros, poucos, raros, eram os aviões. A comunicação era muito difícil; por telegrama ou carta que demorava mês ou mais para chegar ao destino. Telefone, nem pensar, apenas ouvia-se falar da existência no exterior do país. Já em meados da década de 1950, nas casas de espetáculos, os cinemas, superados os filmes mudos, apresentavam produções futuristas que somente existiam na fantasia dos produtores, tais como viagens ao espaço (Flash Gordon, Perdidos no Espaço e outros) com ideias mirabolantes, uso de pequenos aparelhos de comunicação sem fio, que se comunicavam de longas distâncias com a nave mãe; aparelhos que tele transportavam astronautas da nave à lugares insólitos e depois de volta à nave; armas munidas com raios, e muitas outras coisas inimagináveis ao comum dos homens. Meu avô ficava abismado e afirmava que jamais essas coisas ocorreriam. Na década de 1960, agora com televisão ainda precária, a tela cheia de chuviscos, assistimos a descida do homem à lua, Neil Armstrong, o primeiro a pisar no solo lunar. Meu avô estava conosco, afirmava que não era verdadeira a descida à lua, era filme de ficção científica. Faleceu na década seguinte sem acreditar. Penso nele, meu avô, nascido no século 19 e viveu e faleceu no século 20, que foi tropeiro, carroceiro, motorista a partir da década de 1920, viveu a Guerra do Contestado e durante a Primeira e Segunda Guerras Mundiais, que visão teria do mundo hoje? A existência de aparelhos hoje que são capazes de examinar o corpo humano por dentro e por fora sem nele tocar; de se comunicar em tempo real com imagem, com o outro lado do mundo como é o caso do telefone celular; do foguete espacial que leva pessoas passear no espaço e as trás de volta; e infinitas outras coisas, que diria? Hoje sentado em uma poltrona na varanda, fico imaginando que em aproximados 70 anos (1950 a 2022) a evolução tecnológica foi tão significativa, que com o número de invenções no mundo hoje é impossível ao ser humano tomar conhecimento de todas. E fico pensando: como será daqui a cem anos? o sistema sócio-econômico-social será o mesmo? como viverão daqui a cem anos? como será o ano 2122? Espero que haja viagens ao futuro como nos filmes de ficção.

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