PSICOLOGIA PARA HOJE

Feliz Janeiro!

Passadas as urgências de fim de ano, chega o mês de janeiro, teoricamente mês de paz, calmaria, descanso do ano que terminou, da frenética correria que se instala em muitos nesta época. Essa agitação vem de dentro? Vem de fora? A intensificação da movimentação para dar conta de tudo que se deseja, pretende ou deve fazer para terminar o ano é sentida em vários setores. No trânsito, na rotina alterada que se atropela, nas compras e comidas a serem feitas, nas faxinas e reformas… Ufa! Passou! Agora, o descanso. Muitas agendas se aliviam e há tempo para existir, para pensar, para ser. Mesmo em movimentadas viagens de férias e saída da rotina, as atividades são diferentes e o tempo é de fazer coisas que, no dia a dia, nem sempre são feitas. Também é tempo de voltar-se a si e refletir… Afinal, o que foi aquilo tudo e em quê resultou? Que sentimentos foram aqueles que assolaram a muitos no fim do ano? Sentimentos ou ressonâncias de um tempo frenético em que ninguém se manda, mas muitos querem se encontrar, confraternizar? Poderíamos diluir isso durante o ano? Que ano? Durante o ano não há tempo para isso, é tempo de trabalho e de outro tipo de correria. Ou inconsciência. Jesus! Quando vamos parar? E onde? Mas parar para quê? O que fazer além de correr e esperar a sexta-feira para postar os copos cheios, as falas vazias, esperar as curtidas e lamentar novamente a chegada da segunda-feira?
Bom, o fato é que janeiro chegou e, com ele, uma chance de … reflexão. Para ajudar, temos a campanha Janeiro Branco, instituída em 2014 pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão Pires Rezende. Coordenada pelo Instituto que tem o mesmo nome, no Janeiro Branco, a idéia é chamar a atenção das pessoas, instituições, sociedade e autoridades para as necessidades relacionadas à Saúde Mental, a fim de constituir uma humanidade mais saudável e isso pressupõe respeito à condição psicológica de todos. Sendo o primeiro mês do ano, janeiro teria a propriedade de inspirar as pessoas à reflexão sobre suas vidas, suas relações, sentidos e objetivos para o novo ano, para a vida, enfim. Como um portal entre dois ciclos, um que se fecha e outro que se abre, janeiro vem com possibilidades de reflexão, ressignificação e conscientização de objetivos pessoais, profissionais, relacionais, enfim de tudo que envolve a vida humana.
A cor branca simboliza “folhas ou telas em branco”, nas quais pode-se projetar, escrever ou desenhar expectativas, desejos, histórias ou mudanças sonhadas e sua concretização. O tema de 2023 é o equilíbrio e este não isenta de desafios. Pelo contrário, é tarefa que constrói um canal de discernimento, é recurso que ajuda a estabelecer a medida do quanto é preciso e saudável se envolver com toda a oferta de estímulos a que estamos sujeitos. Equilíbrio, mais do que nunca é necessário e precioso recurso para fazer frente a este excesso que vêm de todos os lados e o tempo todo. Há que refletir sobre o que serve e o que deve ser evitado. Diante de mudanças cada vez mais desafiadoras e aceleradas que exigem novas atitudes, novas habilidades, novos entendimentos e novos comportamentos, mais do que nunca existe a necessidade de filtro, de discernimento, pois disso depende a saúde emocional e a manutenção da individualidade de cada pessoa. Esta, diluída nas redes sociais virtuais cheias de saberes e prescrições sobre o que é melhor para nós, sobre o que devemos fazer e ser leva à pergunta: como manter saúde mental neste contexto?
Mas o que é saúde mental? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um estado de bem-estar no qual a pessoa é capaz de usar suas habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Questiono a palavra “estresse” aqui colocada. Não seria melhor a palavra cansaço? Trabalhar, estudar e até brincar cansa e cansaço, pede descanso. Como está nossa autorregulação para esta volta ao equilíbrio, para o descanso? Cada pessoa sabe ou deveria saber seu limite e respeitá-lo para que não vire estresse, resultado do não descanso rotineiro. Aqui já estamos falando de ameaça à saúde mental e emocional. A reflexão traz à luz a identificação do sentimento, sensação e do cuidado que cabe a cada um deles para que a doença não seja construída, mesmo sem querer, sem intenção. Temos ainda os sentimentos não cuidados, julgados e reprimidos, quando não silenciados com distrações e drogas lícitas e ilícitas. Estes vão ficando acumulados, não atendidos, causando desconfortos, transtornos e vão evoluindo para doenças, como explica a Psicossomática, ciência que trata de distúrbios físicos decorrentes de causas emocionais.
O objetivo da campanha Janeiro Branco é despertar a necessidade de atenção a estes temas, a fim de combater tabus, como não se deve ficar triste ou com raiva, sorria sempre… Somos humanos e humanos têm sentimentos e estes tem sua forma de expressão. Dificilmente vamos ver alguem tentando reprimir a alegria, mas o contrário é comum, quando se trata da tristeza e raiva. Estes sentimentos, humanos, têm sua causa, sua razão de estar se manifestando e a saúde mental e emocional está em identificar e mobilizar recursos para sua equilibrada vazão. Identificá-los e respeitá-los evita que se acumulem e caiam no descontrole a ponto de perder o equilíbrio e os manifestar com excessos, seja na comida, na bebida, nas compras, na agressividade ao tratar com pessoas. Comportamentos agressivos, anti sociais, violentos como expressões de dor e raiva ou depressivos, no caso da tristeza, para citar somente alguns, são manifestações de desequilíbrio, resultado de desconhecimento de si e da não elaboração de recursos psicológicos saudáveis para lidar com sentimentos, com a vida. Em outras palavras, é desconhecimento da importância de estarmos atentos aos nossos sentimentos para saber o que fazer com eles quando emergem, a fim de lidarmos com eles de modo reflexivo, contrutivo e não imaturamente reativos, como vemos em casos de falta de equilíbrio.
A saúde emocional corresponde à capacidade de controlar as funções psíquicas, ou seja, a capacidade de administrar as próprias emoções, resultando, dessa forma, em um sentimento de bem-estar pelos objetivos atingidos e é possível viver uma vida mais saudável.
Como já visto, a conscientização sobre estes temas tem por objetivo combater tabus, mudar paradigmas, orientar as pessoas e inspirar autoridades a respeito de desafios da vida.
O Janeiro Branco propõe ações e reflexões sobre isso. Qual é a parte de cada um para que este todo se beneficie, se concretize? Prestemos atenção, aprendamos a identificar nossos desconfortos em vez de apenas reagirmos a eles. Cada mal-estar é sintoma, aviso que nos comunica uma disfunção interna e, se esta não for identificada e cuidada, torna-se peso, ameaça à saúde mental, emocional e, finalmente, física. Cuidar é não julgar, mas entender que algo não está bem e precisa de atenção. Não se trata de supervalorizar, mas lidar com o devido respeito e cuidado que cada situação exige. Quando um carro está com defeito no motor, acende uma luz no painel. O mesmo acontece em nós, ou seja, se há um sintoma (luz do painel) é porque algo em nosso emocional está necessitando um olhar mais profundo e reflexivo, sem julgamentos, mas com acolhimento e espaço para que eles sejam identificados, nomeados e vivenciados, pois cada um tem seu pedido, sua forma de expressão, seja verbal ou comportamental. Assim, nos tornamos conscientes de nós mesmos e descobrimos que cada sentimento bem cuidado se torna essência para a criação de um recurso a mais de saúde emocional, física, relacional, social. É disso que precisamos, é o que o mundo merece para que nossa sociedade tão doente, competitiva, agressiva e superficial comece a se recuperar e descubra seu potencial de crescimento e construção de bem estar pessoal e social.

Psicóloga e membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI).

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