Queria falar das alegrias, somente delas. Talvez não fosse difícil contá-las, e se pensasse bem elas seriam muitas. Lembrou-se da infância, da adolescência e da juventude. Pensou nos irmãos e irmãs, no jeito de ser de cada um. Recordou das festas de aniversário, e das aulas de pintura, teatro e inglês, ministradas pela prima; momentos mágicos nunca esquecidos. Sorriu das brincadeiras ao anoitecer e da mãe a chamar pela janela. Pensou nos passeios nas tardes de domingo e do pai a comprar pipocas, revistas e gibis. Relembrou a sala cheia à espera do seriado favorito. Recordou o caminho da escola, da palmeira e seus coquinhos espalhados pelo chão. Lembrou-se da máquina de costura e dos lindos retalhos de tecidos trazidos pelos primos. Pensou nos carnavais, nas discotecas, na faculdade, e nos livros preferidos. Sentiu o aroma das laranjeiras e pessegueiros floridos que perfumavam o pátio da casa. Retomou, por instantes, os lugares mais bonitos da sua vida. E falou das alegrias. Elas bastavam.