Uma questão recorrente nos círculos da educação inclusiva é como podemos aperfeiçoar o aparelho institucional para garantir a acessibilidade dentro do ensino superior para que indivíduos com deficiências tenham acesso?
Para chegar a algumas propostas é preciso analisar as políticas públicas educacionais inclusivas e as garantias de acesso ao ensino aos estudantes com algum tipo de deficiência, identificando quais fatores interferem no acesso desses estudantes ao ensino superior.
Um começo pode ser discutir os desafios ligados ao ingresso de alunos com algum tipo de deficiência no ensino superior no atual cenário brasileiro, buscando propor algumas diretrizes para a capacitação institucional, formação de professores e alterações no cotidiano escolar que viabilizem a acessibilidade de alunos com deficiência.
Como desafio fundamental podemos listar de princípio a construção de uma ferramenta de diagnóstico da realidade enfocada, com o propósito de subsidiar políticas públicas que garantam uma educação de qualidade para todos os alunos com algum tipo de deficiência.
Há uma proposta de “reforma do Estado” em direção a um “Estado necessário”, rompendo com a herança rançosa do “Estado mínimo”. Sem esta reforma talvez desperdicemos o vigor de nossas lutas sociais e políticas, que tanto tem conseguido ao longo dos anos de conquista democrática. Um bom caminho para a construção de um país mais justo e igualitário é a mobilização política e a conscientização do povo chamado a participar de sua vida social, fortalecendo a democracia participativa e o controle social.
A Declaração de Salamanca, documento de 1994 apresenta os procedimentos-padrões das Nações Unidas para a equalização de oportunidades para pessoas com deficiências. É considerada mundialmente um dos mais importantes documentos que visam a inclusão social, juntamente com a Convenção sobre os Direitos da Criança (1988) e da Declaração Mundial sobre Educação para Todos (1990).
Com o avanço do processo de democratização as demandas por políticas públicas tomarão um volume tal que a agenda política haverá de ser reformulada, a fim de que as reformas de que precisamos sejam implementadas, principalmente relacionadas ao acesso dos alunos com deficiência no ensino superior.
Nos últimos tempos várias questões têm sacudido a questão de inclusão no ensino superior, especialmente o que a mídia veicula em relação às quotas para segmentos raciais. A inclusão de alunos com deficiência no ensino superior é um desafio a ser enfrentado pelos educadores.
Neste cenário ainda em construção surge o avanço da inteligência artificial que já ocupa espaço nas escolas, estabelecendo novos paradigmas. Antes de conseguir dar solução para alguns problemas fundamentais no ensino, como a questão da inclusão e da acessibilidade, surge um novo abismo entre o mundo digital e o mundo real. E a desigualdade se acirra ainda mais. Populações sem acesso à Internet e às novas tecnologias vão ficando a cada dia mais marginais, incapazes de compartilhar o banquete da informação e do conhecimento. Quem domina as ferramentas digitais assiste ao mesmo tempo a emergência de “deficientes” digitais. Será que se pode incorporar ao rol de deficiências que muitos possuem essa deficiência digital com muita semelhança à deficiência intelectual?
O questionamento é cabível uma vez que a ignorância acerca do avanço da inteligência artificial e a crescente falta de domínio das ferramentas digitais que impulsionam o mundo atual, cria uma enorme desvantagem em diversos setores da vida social. Assim surgem hordas de “párias” digitais que desconhecem o mundo das maravilhosas tecnologias autônomas que substituem com vantagens a intervenção humana. Neste sentido há que se propor o termo “deficiência tecnológica”.
Por exemplo, alimentamos tomógrafos e aparelhos de ressonância magnética nuclear com hipóteses diagnósticas durante mais de trinta anos, e esses aparelhos estão interconectados mundo afora, “conversando” sobre tais hipóteses diagnósticas e estabelecendo padrões imaginológicos que os tornam capazes de rastrear e sugerir diagnósticos com mais eficácia que um ser humano.
O exemplo nos leva a pensar que, enquanto padecemos de uma epidemia de problemas mentais e físicos na pós-pandemia de Covid, os computadores do planeta cruzam dados e informações o tempo todo, capacitando-se a resolver problemas e com isso criando um abismo tecnológico que vomita “deficientes digitais”.
Se precisamos de professores especializados para incluir os sujeitos com deficiências já bem conhecidas como visual, intelectual, física e outras, como será o trabalho de inclusão e acessibilidade dos “deficientes digitais”?