PROJEÇÕES DA HISTÓRIA

Saudades e homenagens a grandes amigos

O objetivo desse texto não é realizar um pomposo obituário – vários já foram escritos por mãos muito mais capazes que as minhas – ou fazer uma homenagem grandiosa, à altura do inigualável Odilon Muncinelli – isso seria impossível, ainda que os competentes autores e editores da revista Contestado, publicada em nossas cidades, tenham chegado muito perto de consegui-lo em seu primoroso número especial. Não. Meu objetivo aqui é muito mais simples. Restringe-se a contar um pouco do que me fez admirar tanto essa figura ímpar, uma das mais incríveis que conheci na barranca do rio Iguaçu (sempre gostei desse seu modo de se referir a essa região).
Recém-chegado a essas plagas, vindo de longe, rapidamente me convenci de que era de bom alvitre dedicar-me a estudar sua história, sua gente, seus desafios intrínsecos e especiais. Afinal de contas, historiador por profissão, não seria desejável e nem correto aqui trabalhar e não me esforçar por colaborar com os esforços para contar as histórias de tão especiais cidades. Rapidamente descobri o conflito do Contestado (pois é, esse acontecimento é muito pouco lembrado em outras regiões do país), a saga dos sempre injustiçados caboclos, a chegada dos imigrantes, os tropeiros, a navegação, a construção da estrada de ferro. Quanto mais mergulhava nos poucos livros então disponíveis (basicamente Cleto Silva e a excelente obra da professora Leni Gaspari, os primeiros volumes que tive em mãos) mais me inquietava com dúvidas e curiosidades não plenamente sanadas com o conhecimento então existente. Seria necessário conversar com os autores da História. Com quem a viveu, com quem dela se lembra. Foi por uma série de felizes coincidências que conheci em uma rápida sucessão, grandes e queridas personalidades: Therezinha Wolff, Antônio Xavier Paes, Sérgio Buch (então secretário de cultura de Porto União), Delbrai Augusto Sá, Aldair Muncinelli e, através dessa grande mentora, Odilon Muncinelli.
O Chimarrão Cultural, organizado pela grande professora nas dependências da Secretaria de Educação de Porto União contou com a participação de interessantes personalidades e, entre elas, adorado e disputado por todos, de “seu” Odilon. O contato foi rápido, porém marcante. Seguiram-se cumprimentos e mensagens carinhosas intermediadas pela professora Aldair durante várias semanas, inclusive com a oferta de um presente que ainda me emociona: volumes históricos que contam a história não apenas de nossas cidades, mas de todo o Paraná, oriundos diretamente do acervo pessoal de Odilon. Que honraria! Realmente tocado, rapidamente compreendi a nobreza e a generosidade inigualáveis do gesto. A doação de volumes pessoais com mais de cem anos de história a um professor desconhecido e recém-chegado, com quem apenas poucas palavras haviam sido trocadas, diz muito sobre o caráter ímpar, raro e cada vez mais necessário de Odilon Muncinelli.
Reuniões agradáveis se seguiram na casa do casal de amigos. Entre conversas sérias acerca de temas profundos, surgiam risadas oriundas de tiradas impagáveis do grande amigo Odilon. Ensinamentos acerca de passagens importantes da história de toda a região. Como foi a fundação da Associação Atlética Iguaçu? Onde ficava o antigo entreposto de Nossa Senhora das Vitórias, fundado em 1768? Como era a vida nos tempos idos de nossas cidades? E quantas histórias incríveis ligadas ao terno, carinhoso inquebrantável vínculo de uma vida com a professora Aldair, a quem Odilon sempre se referia com emocionante ternura e deferimento – no que sempre foi plenamente retribuído, aliás. Que figura! Que casal! Quantas histórias!
Com o desencarne de Odilon perdemos o contato físico com grande parte de nossa trajetória enquanto sociedade. Perdemos, também, um bom humor e um otimismo que se faz cada vez mais necessário nos dias que correm. Ganhamos, contudo, um ícone, um personagem histórico a quem se faz necessário, sempre, homenagear. E continuamos, graças a Deus, contando com o exemplo de perseverança, trabalho e humildade da professora Aldair Muncinelli, grande amiga que muito fez e fará por nossas cidades, e muito ensinará a esse comportado aluno que, se não teve a honra de conhecê-la enquanto sentado nos austeros bancos do ambiente escolar, pode se orgulhar de tê-la como guia nos difíceis e tortuosos caminhos dessa existência material. Ao amigo Odilon, ofereço meu agradecimento, minhas memórias e minha admiração. À amiga Aldair, deixo meu fraterno abraço e o compromisso de, tão logo seja possível, novamente nos reunirmos em animada conversação em torno de uma cuia de chimarrão. Até a próxima!

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