Lembrei-me de um acontecimento longínquo. Ganhei de presente uma Fita do Senhor do Bonfim, vinda diretamente da Bahia. Fiéis acreditam que as Fitas carregam o poder de realizar três desejos quando se rompem, podendo ser amarradas nos punhos, tornozelos ou nas grades das igrejas. Pois, segui os fiéis. Caprichei nos pedidos. Amarrei no punho. Escolha errada. Anos se passaram, e a fita, puída e desbotada, continuou com os nós intactos. A tira fina e estreita acompanhou-me durante anos em inúmeros acontecimentos importantes, ou não, participou de festas, aniversários, casamentos, batizados, formaturas, quase sempre visível, escondendo-se apenas quando um tecido alongado a cobria. Até que um dia, com uma tesoura, me desfiz dos pedidos há tempos esquecidos. Hoje acredito que a fita, firmemente amarrada no punho, teve seu valor. Por muito tempo esteve presente fazendo lembrar-me da existência dos sonhos, por vezes realizados, por vezes cortados para que novos sonhos pudessem nascer.
