BREVES HISTÓRIAS

Caiçara 70 anos

A trajetória do Jornal Caiçara, que neste sábado, 12 de agosto de 2023, completa 70 anos, se confunde com a trajetória da família Augusto, em especial com a de Lulu Augusto, nascida em 15 de março de 1930, e, que até seus últimos dias, em março de 2016, esteve à frente de Caiçara.

Na data de 21 de fevereiro de 2022, na Secretaria Municipal de Cultura de União da Vitória que hoje funciona na Vila Maria, antiga residência da Família Amazonas, no Distrito de São Cristóvão, o prefeito, Bachir Abbas, sancionou a Lei que denomina de Travessa Jornalista Lulu Augusto a via pública que une União da Vitória a Porto União.
A aludida Lei de nº 4986/2021, de 30 de novembro do mesmo ano, foi um projeto do Executivo, sendo, unanimemente, aprovada pelo Legislativo Municipal.
Oportuno ressaltar que em Porto União, o prefeito, Eliseu Mibach, sancionou em 28 de outubro de 2021, a Lei nº 4766/2021 que também denomina o lado catarinense da mesma via, de Jornalista Lulu Augusto, em projeto/Lei de autoria do vereador Luiz Alberto Pasqualin.
Como costumo dizer, a inextricável engrenagem do acaso fez com que pelo lado de Porto União as placas que denominam a referida Travessa de Jornalista Lulu Augusto fossem colocadas neste ano de 2023, ano dos 70 anos de Caiçara. Pelo lado paranaense a placa foi colocada exatamente na data do aniversário de Caiçara, ou seja, em 12 de agosto de 2023.
Tia Lulu, nasceu em União da Vitória, filha de Maria Joana Linhares Augusto e Didio Augusto, cresceu na Rua Barão do Cerro Azul, em três diferentes endereços.
Em 1949, com apenas 19 anos, passou a residir em Curitiba, onde ao lado da amiga, Maria Alba Mendes da Silva, fundou o jornal literário Jandaia.
No início de 1953, retornou a União da Vitória, embora ainda mantivesse até meados de 1954, em Curitiba, a publicação do Jandaia.
Em meados de 1953, no intuito de continuar as denúncias contra os algozes da menina Zilda Santos,
vítima de brutal assassinato, escreveu a radionovela, O Crime do Iguaçu, levada ao ar pelos microfones da Rádio União.
Com isso, Lulu dava continuidade às denúncias de impunidade do hediondo crime, iniciadas por seu irmão, Dante de Jesus Augusto, em seu programa matinal, Bom Dia para Você, também na Rádio União.
Ao aproximar-se o derradeiro capítulo da novela, era anunciado nos microfones da Rádio União, que no último capítulo, seriam revelados os nomes verdadeiros dos assassinos da menina Zilda.
Numa época de impunidade ainda maior que a de hoje, quando marginais ricos e poderosos silenciavam a justiça, o último capítulo foi proibido de ir ao ar e Lulu e os atores, assim como diretores da rádio ameaçados de prisão, caso insistissem em levar ao ar o derradeiro capítulo.
Temendo pela prisão de Lulu Augusto e dos membros do elenco da novela, inúmeras meretrizes da Rua Cruzeiro, em Porto União, endereço do lupanar onde Zilda foi seviciada e assassinada, postaram-se em frente a emissora, em um cordão humano para proteger Lulu e seus acólitos.
O capítulo não foi ao ar, motivando Didio Augusto, pai de Lulu e meu avô, que na época era colaborador do jornal O Comércio, tentar publicar no supracitado hebdomadário, um artigo referente a proibição do último capítulo da novela. O jornal O Comércio, temendo represálias judiciais decidiu não fazer a publicação. Indignado, Didio Augusto declarou que fundaria um jornal nem que este tivesse apenas um número, para denunciar os algozes de Zilda.
Ao chegar em casa Didio disse que iria fundar um jornal, ideia, imediatamente, acolhida por Lulu, que em 12 de agosto de 1953, fundaria o Jornal Caiçara, hoje com 70 anos de idade, e, não apenas com um único número, mas já em sua edição 2594.
Mais uma vez, o acaso moveu suas peças e foi sancionada a Lei Maria da Penha, em 7 de agosto de 2006, que objetiva promover a conscientização da sociedade para a necessidade do enfrentamento às diversas formas de violência contra as mulheres. Em 2022, foi sancionada a Lei que instituiu o Agosto Lilás, como o mês de conscientização pelo fim da violência contra as mulheres e que é o mês em que Caiçara foi fundado com o intuito da defesa da memória de Zilda Santos e com a consequente responsabilização de seus algozes.
Feminista convicta, tia Lulu desde sempre, defendeu a igualdade de gênero, exortando as mulheres que propugnavam por esta causa e repudiando peremptoriamente toda e qualquer manifestação misógina.
Religiosa que era, dizia que apenas se ajoelhava diante de Deus, procurando fazer com que Caiçara jamais se rendesse aos poderosos de plantão, sendo seu atual slogan, “Pela liberdade de expressão, por uma sociedade menos desigual e em repúdio a intolerância e ao preconceito”, criado em sua memória.

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