HABEAS DATA

Jornal Caiçara

O ano era 1980, já no segundo semestre. Por indicação de meu pai, Darcy, fui até a redação do Jornal Caiçara, na Rua Costa Carvalho, 634, onde hoje está instalado o lendário Bar da Lya. Ali funcionava a redação e oficinas do Jornal. Eu ainda menino de tudo, fui anunciado e adentrei a sala da direção. “Com licença e bom dia”, expressões que aprendi em casa e que sempre fizeram diferença. Permaneci em pé, até que fosse convidado a me sentar. A mulher que estava do outro lado da mesa era charmosa e muito elegante, lembro de anéis e um belo colar. O perfume era doce e marcante. Quando ela me olhou, confesso que fiquei nervoso, pois sua personalidade era conhecidamente forte e era transmitida pelo semblante sereno.
Essa foi a primeira vez que conversei com Lulu Augusto. Ali teve início uma relação de mestre com aprendiz, intensa e de convivência diária. Na data de 1º de fevereiro de 1981, a página 10 da minha Carteira de Trabalho (CTPS), recebia o primeiro registro de contrato de trabalho e ao final a assinatura e carimbo do Jornal Caiçara e M. DALUZ AUGUSTO. Quanta alegria e orgulho, para um menino que tinha sonhos e aos poucos os caminhos da vida foram se abrindo e novos horizontes resultaram em muito amadurecimento.
Esta história, por este fato já poderia terminar por aqui. Minha Carteira de Trabalho, com o primeiro registro, marcante, me acompanha até hoje e será o documento oficial da minha vida. A Lulu e o Jornal Caiçara foram um divisor de águas na minha caminhada. Dentro do Jornal conheci pessoas, fiz amizades, entendi processos de convivência, mas acima de tudo fui apresentado às artes e a erudição. Para conversar com a Lulu, se fazia necessário um mínimo de base cultural. Isso, pra mim, se tornou objetivo. Melhorar, ler bons livros, assistir filmes de qualidade e ouvir música de autores que ela gostava. Sempre procurava observar e imitar os gostos, até mesmo pra me parecer um pouco mais culto do que realmente eu era.
Fiquei alguns anos nas oficinas e redação do Jornal Caiçara. Mas esse aprendizado abriu portas e horizontes, logo fui para emissoras de rádio e depois trilhei meu caminho no magistério, com a graduação em Educação Física e na sequência a faculdade de direito. Hoje me orgulho de ter formado com a minha parceira Cinthya uma família maravilhosa (eu assim considero) e quando olho para meus netos, Noah e Lúcia, procuro em rápidas reflexões agradecer o passado e as pessoas que encontrei. Já fiz isso inúmeras ocasiões e repetidamente fortaleço minha gratidão aos céus por ter cruzado os caminhos com a Lulu e toda Família Augusto. Talvez se assim não fosse minha caminhada seria completamente oposta.
Quando o Delbrai me convocou para esta edição especial de aniversário, pensei por horas em todos os bons e marcantes dias vividos com o Caiçara. Nesses momentos, guardo com extrema gratidão o aprendizado e a formação na minha juventude. Pilares sólidos que se sustentam hodiernamente. Vida longa ao legado da inesquecível Lulu.

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