MEMORIA E DISCURSO

Fala Renato, que o povo escute!

Quem é Renato Freitas, o jovem Deputado Estadual do Paraná, que tem instituído uma marca própria de fazer política? Para responder ao questionamento, comecei a pesquisar: Freitas é graduado e mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná. Também é pesquisador na área de Direito Penal, Criminologia e Sociologia da Violência. Já trabalhou na Defensoria Pública do Estado do Paraná e atuava como professor universitário e advogado popular. Entre suas principais bandeiras de luta encontra-se a educação, segurança e moradia. Em sua biografia disponibilizada no site da Assembleia Legislativa do Paraná é possível ler seu testemunho de luta: “Sou ciente do poder emancipador que a educação tem e desejo que essa transformação alcance todos e todas”. Fala Renato, que o povo escute!

Renato deixou o PSOL em 2018, e, se filiou no Partido dos Trabalhadores. Seu modo de agir na arena política devagar vai afastando-o do núcleo do poder do petismo mais conservador e pragmático paranaense. Se Renato já incomoda a direita, à esquerda começou a se incomodar com ele. É que a forma de fazer política da esquerda moldado pelo pragmatismo lulista não gosta de confronto, prefere o consenso. É mais afeito as conversas dos bastidores, aos acordos que esse estilo político impõe na hora de “fazer política” em nome da civilidade. Os gestos e a postura política do Deputado Estadual Freitas, o afastam do PT e criam soçobra e pânico nas velhas raposas da Assembleia Legislativa do Paraná, e a uma grande parcela da sociedade conservadora, preconceituosa e autoritária. Por tudo isso, a cada dia fica evidente que uma possível cassação de Renato Freitas, é uma questão de tempo. A elite política paranaense, a casta política não aceita que um jovem negro da periferia seja protagonista no embate com as elites políticas representadas pelas notórias e velhas raposas acostumadas a criar espaços de poder por meio de “consensos” pouco ortodoxos.

O jovem deputado, foge desse marco clássico de fazer política. Freitas, vai ao confronto. Ele não se intimida. Não “negocia” suas convicções. Provoca debate. Confronta com discursos. Encara os adversários com argumentos eloquentes, com dados históricos e com provas que estremecem a estrutura do politicamente correto. Rogerio Galindo jornalista e editor do portal Plural, afirma: “Dá para olhar para essa história de diversos ângulos. Um deles dá razão para os petistas que se incomodaram: Renato Freitas, de fato, não é o tipo do cara que joga junto com o partido. Tem uma atuação meio à margem do petismo oficial – e por vezes nem parece tão bem-vindo no partido. E o pessoal acha que ele devia ser mais parceiro. Mas… existe pelo menos um outro ponto de vista. Quando querem que Renato entre no ritmo do partido, faça as coisas coletivamente, os demais deputados parecem não entender a essência do que é o trabalho de Renato. Ele não está ali pelos mesmos motivos deles, nem tem os mesmos interesses. Querer colocar ele no jogo tradicional é como tentar usar uma coleira num gato. O petismo clássico faz uma oposição moderada na Assembleia (e eu sei que os deputados que estiverem lendo isso jamais concordarão). Jogam dentro do regimento, apresentam seus requerimentos, fazem contestações da tribuna. Cuidam para jamais ultrapassar os limites da civilidade – afinal, se eles forem vistos como bárbaros que não sabem jogar dentro das regras e com quem é impossível negociar não vão aprovar mais nada. E talvez seus mandatos fiquem sem muito sentido. Dá para entender essa lógica. É a lógica dos avanços pontuais, da mudança gradual, da tentativa de desgastar o poder aos poucos. De mostrar o que está errado sem precisar para isso cometer nenhuma ação tresloucada”. A política do “consenso” foge dos debates acalorados. Fala Renato, que o povo escute!

Não seria estranho, nem a primeira vez que a própria elite do seu próprio partido o PT (Partido dos Trabalhadores) entregue na boca dos leões o jovem político, que surgiu e se alimentou na luta dos movimentos populares. O pragmatismo em demasia, termina produzindo como resultado a inoperância, a falta de força. A esquerda paranaense vem, paulatinamente, se enfraquecendo ao longo do tempo.

Nesse contexto, abrangente, Renato Freitas representa um modelo pouco ortodoxo dentro da prática da política tradicional. Ele não se move com diplomacia. É ousado e ao mesmo tempo kamikaze, como bem o descreve o jornalista Galindo: “Renato tem muito mais a ver com esse tipo de movimento. Porque ele não está nem aí para o seu mandato, na verdade. A sua atuação é kamikaze: se para explodir o inimigo ele precisar ir junto, Renato se explode. Se precisar ser visto como bárbaro, ele não está nem aí. Se precisar jogar sozinho, ele joga. Na cabeça dele não faz o menor sentido esperar uma reunião com um grupo de parlamentares para decidir pedir a cabeça de Traiano. Ele fez disso uma missão suicida, e numa jihad você não espera a reunião do grupo de zap para saber quando se explodir. Talvez a oposição clássica tenha suas vantagens e acabe conquistando vitórias de grande monta (embora o passado recente não indique isso). Mas existe outra hipótese: a de que o pessoal que faz essa oposição mais comedida, de fraque e cartola, possa aprender algo com quem vem de outro mundo e vem tendo um resultado muito mais visível na luta contra os poderes constituídos. O bom mocismo da atuação parlamentar poderia ceder um pouco de espaço ao terremoto que, em poucos meses, conseguiu impor o maior golpe ao núcleo do poder que se instalou no Paraná há tanto tempo, e que ninguém tem conseguido sequer abalar pelo modelo tradicional de oposição. Talvez, para encurtar a conversa, seja hora de injetar um pouco de adrenalina na veia de nossa oposição. Porque de discursos longos que não mudam nada estamos todos meio cansados”. A ousadia é uma virtude pouco apreciada na política contemporânea. Em nome do “consenso”, tudo pode ser permitido e superado. A ousadia, pelo contrário, questiona, inquieta, provoca. Cria crise, para instalar o debate, para revelar o que está embaixo do tapete. Fala Renato, que o povo escute!

A figura política de Renato Freitas, está em evidência, sua luta e sua resiliência e resistência nos últimos anos demonstram sua coragem. Sua luta e sua coragem se fortalecem a cada dia. O deputado negro e filho da periferia, carrega em si, a memória e a luta de sua própria história e de seus antepassados. O menino nascido na cidade de Sorocaba, no interior paulista, está fazendo história na política Paranaense. Parte da Elite política da esquerda, por enquanto, ainda o olha com desconfiança incomodada com sua ousadia e coragem. A centro-esquerda pragmática que se acostumou com as benesses do poder, assim como, a centro-direita e a extrema direita, contemplam Renato Freitas como a monstruosidade a ser expulsa do recinto sagrado da política feita com conchavos e acordos que devem ser guardados a setes chaves, inclusive com a marca de “Segredo de Justiça”. O recinto sagrado da política contemporânea, alimenta de forma compulsiva nos últimos tempos os “acordos” feitos entre os pares para ninguém sair nem ferido e menos ainda machucado perante o eleitorado.

Renato, não desista, teime, corajosamente, em não ceder à tentação opressora e domesticadora da esquerda pragmática e da direita escravocrata. Fale sempre com coragem, Renato! Que todos precisamos ouvir sua voz! A política, a sociedade e os cidadãos que almejamos por representantes com espírito público e coerência humana, ficamos gratos por você ser a voz do povo! Fala Renato, que o povo escute!.

  • As fontes de referências e consultas deste artigo encontram-se em: www.ihu.unisinos.br

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