BREVES HISTÓRIAS

As formas transversas do amor adolescente

Nos anos 70, um grupo de amigos conheceu um grupo de amigas. Logo de cara Antônio se apaixonou por Sofia, enquanto Analu gostou de Rivaldo que gostou de Nara, que gostou de Elton, que gostou de Lumara, que gostou de Saulo, que gostou de Lenize.
Saulo foi embora da cidade e os elos de correntes já partidas se desfez.
Mas Antônio continuou gostando de Sofia que continuou gostando dele.
Nesse meio tempo Rivaldo namorou Nara. No início as coisas até que foram bem, mas Nara que parecia mesmo gostar de Elton, que continuava gostando de Lumara, terminou o namoro. Rivaldo muito entristecido e querendo reatar os laços rompidos decidiu fazer uma serenata para Nara. Pediu ajuda para Antônio, seu inseparável amigo. Rivaldo sabia que Antônio tinha o disco A Arte de Gal Costa e a música escolhida para recuperar o encanto de Nara foi, Sua estupidez, de Roberto e Erasmo Carlos.
Lá pela meia noite os dois, com a vitrola portátil de Rivaldo embaixo do braço, rumaram para o bairro de Nara, que era também o de Sofia, mas que nessa noite não receberia serenata, pois a atenções estavam todas voltadas para a suposta reconquista de Nara.
Infelizmente, como Antônio já havia dito a Rivaldo, a bela voz de Gal dizendo que “sua estupidez não deixa ver que eu te amo”. E Nara não aceitou reconciliar o namoro.
No dia seguinte Antônio foi ver Sofia, contou do ocorrido e disse não entender porque Nara não queria Rivaldo, que era um cara bacana, inteligente, bonito e com ótima cabeça. Sofia que tinha em Analu sua melhor amiga, disse que Rivaldo deveria ter continuado seu namoro com Analu. Antônio teve que concordar, também achava que Rivaldo e Analu combinavam muito mais, mas concluiu dizendo que eram estranhos os caminhos do coração.
Algumas semanas se passaram e Rivaldo que estudava a noite, passou na casa de Antônio, que neste ano não estava estudando, e disse que passaria em sua casa depois da aula. Precisava contar uma decisão que havia tomado. Antônio pediu que contasse naquele momento e ele disse que não dava tempo e que viria mesmo mais tarde. Antônio ficou imerso em pensamentos, tentando decifrar o que passava na cabeça do amigo. Horas depois, Rivaldo chegou na casa de Antônio, que o esperava na sala, ouvindo música. Rivaldo então contou que iria prestar o serviço militar em Brasília. Antônio tentou convencer o amigo que isso era uma insanidade e que Nara não merecia esse sacrifício. Nada adiantou e no início de janeiro, do ano seguinte, Rivaldo foi embora.
Também no início desse mesmo janeiro, Elton sofreu um acidente de moto e teve uma grave fratura na perna, tendo que ficar imobilizado por várias semanas.
Numa manhã desse mesmo janeiro, Antônio foi visitar Elton. A porta de sua casa estava sempre aberta e Antônio, como sempre, foi entrando e se deparou com Elton e Nara se beijando. Pediu desculpas e disse que não queria atrapalhar e foi embora furioso com Elton. Voltou na tarde daquele mesmo dia e interpelou o amigo que se defendeu dizendo que aquilo havia apenas acontecido e que eles estavam apaixonados. Antônio redarguiu dizendo que havia outras mulheres no bairro, na cidade, no planeta e que ele sabia que Rivaldo era louco por aquela menina. Saiu ainda mais enfurecido com Elton e disse que não voltaria mais a vê-lo.
Por carta, contou a Rivaldo o que havia acontecido.
Em julho daquele mesmo ano Nara foi embora da cidade e dessa forma também deixou Elton.
A vida desses jovens seguiu seu curso e nenhum daqueles casais formados na adolescência sobreviveu a turbulência de anos tão intensos e reveladores.
Nessa mesma época alguns acontecimentos haviam afastado Antônio de Sofia, mas essa é uma outra história, que eu conto em outro dia.
Qualquer semelhança com personagens reais não é mera coincidência. Apenas os nomes foram trocados evitando assim eventuais constrangimentos.

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