NACO DE PROSA

Sílvio Santos, o homem que inventou o domingo em família

Nesta manhã de sábado, o sabor do café da manhã ficou amargo.
Simplesmente algo mudou, como se os olhos já não enxergassem mais o colorido de uma manhã de sol e céu azul.
Notícias chegando a todo momento, tanto no celular quanto nos canais televisivos.
Sabemos, é claro, que todos que chegam nesta terra, um dia dela se vão.
Mas Silvio Santos era diferenciado. Era aquele cara estilo Elvis Presley, que até hoje muitos juram “que não morreu”.
Mas aí vem uma notícia que ele se foi, aos 93 anos, após duas internações consecutivas.
E os olhos param no ar, como se não entendesse muito bem o que está sendo dito.
Os mesmos olhos que acompanharam por tardes e mais tardes de domingo os programas apresentados por ele.
Há algum tempo Silvio Santos já não aparecia mais com tanta frequência em público, há algum tempo ele já vinha preparando sua filha, Patrícia, para “assumir” seu lugar na rede.
Mas ele ainda estava por aqui, e nós, na ansiedade de que a qualquer momento ele poderia voltar.
Na verdade, em uma de suas idas ao seu amigo e cabeleireiro, Jassa, ainda no início desse ano, ele externava essa vontade de assumir novamente seu espaço no SBT.
Mas os planos ficaram para trás.
Meu saudoso pai tinha um armazém aqui no bairro São Pedro, antigo bairro Tócus. E um belo dia ele apareceu com uma TV.
Foi a sensação do bairro. Muitas pessoas vinham ao armazém para assistir a muitos programas.
A gente acabava se tornando uma grande família, assistindo a novelas, programas, futebol então, esse parava o bairro.
Exageros à parte, Silvio Santos era um dos mais concorridos, lembro de que, quando mudávamos o canal, e tirávamos o programa do Silvio para agradar a todos os fregueses, alguns iam embora.
Bons tempos, amizades, papos, em volta da TV, em volta do programa que Silvio Santos apresentava.
E como era divertido, como ele conseguia nos animar e nos fazer sentir em casa, como se amigos de longa data fôssemos.
Uma de suas filhas, em recente entrevista, disse que ele sacrificava um pouco sua presença em família para estar junto às outras, milhares de famílias que o admiravam. Era de nós que ela falava, pois Silvio Santos foi isso, abdicou da sua família por muitas vezes para ficar conosco, para nos alegrar, para nos apresentar o seu “lá, lá, lá, lá”, que se eternizou entre pianos e guitarras em uma justa homenagem.
Um visionário que criou o domingo em família. O dia se tornou, inclusive, a macarronada no almoço, Ayrton Senna na corrida, e Silvio Santos animando a tarde e à noite.
Hoje as corridas não têm mais aquele friozinho na barriga e a emoção como quando era Ayrton Senna, as macarronadas deram espaço para lanches ou um prato de comida requentada comida às pressas, pois o tempo parece ter encurtado, e o nosso animador, nosso querido Silvio, a música que nos animava, deu espaço ao silêncio.
O seu legado continua, vai reverberar por anos, mas não é a mesma coisa, pois Silvio Santos nos remete a um tempo que não existe mais, que nunca mais voltará, e nem trará momentos, ou pessoas que amamos, e era com essas pessoas que nos reunimos para assistir ao Silvio.
Ele foi grande, gigante, homenagens nacionais e internacionais, e sempre tão generoso, escolheu por morrer em um sábado, pois ele sabia, que os domingos foram feitos para serem alegres, e ele não ia querer tirar isso da gente, do povo que ele tanto amava e respeitava como empresário e apresentador.
E lá se vai mais uma grande estrela desse país, juntar-se à Hebe, ao Jô, à Nair, à Nicete e Paulo, a Ayrton, a Chico, a milhares e milhares de artistas ícones em nosso país, nas mais diversas áreas, e que tinham um peso enorme, eram esculpidos, e que, tenho certeza, não haverá outros como eles.
Do lado de cá fica a saudade, aplausos ao mestre da comunicação Silvio Santos!

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