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LITERATURA

Sobre a amizade e a poesia de José Geraldo Neres

Aristóteles, em “Ética a Nicômaco”, um de seus textos mais célebres, ao tratar da amizade, escreveu que o amigo é, de fato, um “outro si mesmo”, expressão traduzida do grego “heteros autos”. Assim como para cada um viver é desejável, porque isso é bom, se deverá “com-sentir” ao amigo aquilo que desejo para mim. Por isso, escreveu Aristóteles, “diz-se que os homens convivem e não como para o gado, que condividem o pasto”. Giorgio Agamben escreveu que a amizade é a “instância desse com-sentimento da existência do amigo no sentimento da existência própria”. Em outro momento ele observa que o amigo não é um outro eu, mas “uma alteridade imanente na ‘mesmidade’, um tornar-se outro do mesmo”. A amizade, como um “com-sentimento” do puro fato de ser, abole a necessidade de um elo entre dois sujeitos por meio de um gosto específico. Amigos não precisam como o gado condividir algo. Agamben vê nessa partilha sem objeto o “com-sentimento” originário que constitui a política. O que se reparte na amizade é o próprio fato de existir. Montaigne escreveu algo parecido: “Assim como quem quer contemplar-se olha-se no espelho, quem quer conhecer-se olha-se no amigo”. Basta!
O poeta Paulo Leminski tem um belo poema que ajuda a explicar a tese de Agamben quando diz: “ainda ontem / convidei um amigo / para ficar em silêncio / comigo // ele veio / meio a esmo / praticamente não disse nada / e ficou por isso mesmo”. Li certa vez em algum lugar – talvez em algum texto de Mário Quintana -, que a amizade é quando o silêncio a dois não se torna incômodo. É uma boa forma de se medir a amizade. Se não me falha a memória, o poeta gaúcho foi também o inventor da célebre frase: “A amizade é um amor que nunca morre”.
Quem não me conhece, pode pensar que sou um homem de poucos amigos. Até há algum tempo eu pensava que sim. Mas comecei a matutar que muitos de meus colegas poderiam muito bem ser considerados como “outros-eu-mesmo”, ou seja, amigos. Não é preciso que estejam todos os dias em minha casa para fazerem parte de minha vida. Não é preciso que condividam comigo de seus sonhos, medos, e segredos ou eles dos meus. Podem muito bem partilhar comigo apenas de uma vontade, a de existirmos de forma desejável, “com-sentindo” mutuamente nossas existências, congraçando-nos com nossas alegrias, e amparando-nos com palavras ou pensamentos em nossos pesares. É o que devemos repartir.
A poesia me trouxe muitos amigos. Poderia citar vários aqui. Um dia meu telefone toca. Quem liga é o escritor José Geraldo Neres. Surpreso, atendo e começamos a conversar. Conhecíamo-nos apenas de passagem. Líamos textos um do outro e apenas isso. Nasceu ali naquele telefonema uma amizade que carrego comigo.
O Neres é um poeta do Brasil profundo, apesar de morar atualmente no deserto do Arizona, nos Estados Unidos. Ficamos amigos logo na primeira conversa. E só depois fomos descobrindo algumas afinidades que não são condição sinequa non para uma amizade, mas temperam as conversas. Vez em quando ele me liga para bater um papo, jogar conversa fora, ler algum poema inédito. Eu, mais recluso, não tenho o costume de ligar. Contento-me em receber o chamado do amigo. O bom da amizade é essa despretensão com que tecemos nossos vínculos afetivos, apenas no prazer de “com-sentirmo-nos” em nossas existências. Só depois de algumas conversas é que fiquei sabendo de algumas magias que nos aproximam: somos filhos dos mesmos deuses, e fomos apadrinhados pelos mesmos seres encantados. Mas esses detalhes são um segredo. A aproximação entre dois amigos pode mesmo ser fruto de algum mistério divino. Mas isso são coisas que não se contam nos textos.

Desde que conheci um pouco mais o trabalho poético de José Geraldo Neres senti vontade de escrever sobre ele. Acabei sempre relutando. Como produzir uma análise sem trair o amigo ou o seu trabalho? Como conciliar a atividade de leitura com a da amizade? O único jeito seria me despir do rótulo que nunca tive e que nunca desejei, o de crítico. Ora, se sou um leitor apaixonado, e se escrevo apenas sobre aquilo que amo – mesmo que seja para falar mal -, por que não evocar neste espaço o Neres?
Eu dizia que a poesia de José Geraldo é a de um Brasil profundo. Em sua macumbaria poética estão os louvores aos caboclos de nossas matas, as preces com rosários de Nossa Senhora, os encantos dos donos da rua e da noite, as performances musicais que traduzem a alma da terra, da ancestralidade, ou como ele escreveu um dia: “Há mais poesia nos golpes de enxada de meus avós do que na minha biblioteca”. Sua arte é, ao mesmo tempo, a do tupi e a do alaúde. Tem o som dos rincões brasileiros com pitadas de surrealismo, como aparece na prosa poética de “Olhos de Barro”:
“Atravesso o calendário. Três luas são meus braços, as linhas das mãos são filetes de água a desembocar nas três dobras dos dedos. Ela curva sua cadeira, balança o corpo sem sombra, dobra os pés. Não posso sentir suas cicatrizes, tocar suas mãos. Nos lábios da lua, homens sem língua flutuam sem sentido”.
Um leitor atento perceberia Lautréamont misturado com cachaça na caipirinha de limão. Ou Breton ou Buñuel na cangira da Jurema ou no catimbó. Como um bom cavalo de santo, Neres incorpora antropofagicamente uma coisa na outra.
Claudio Willer escreveu no prefácio do “Outros Silêncios”, um livro publicado por José Geraldo em 2009, que mais do que outros silêncios, os poemas de Neres seriam antes formados por outras palavras, isso pela forma como o poeta renova a significação, pois em seu trabalho, “(…) a palavra, desgastada pelo uso comum, pela subordinação à lógica instrumental, retorna enriquecida e vitalizada”. É o que podemos ver em versos como “a lona do circo / rasga a tempestade / das secas”. A imagem inverte o lugar comum da tempestade que rasga a lona do circo. Em sua poesia é o deserto que serpenteia, e não alguma cobra sobre ele. Seus versos fogem do previsível ao produzirem correspondências inusitadas. É por isso que para Willer, os poemas de “Outros Silêncios” não apenas atestam a boa recepção de sua poesia, mas confirmam a presença de um poeta de valor, sendo o início de uma renovação. Há outras palavras, frases de José Geraldo, que poderíamos acrescentar àquelas citadas por Willer: “O silêncio é uma sombra com dedos de cera e apetite animal”; “Um pássaro canta nos olhos de um girassol”; “O céu entreabre as pálpebras do outrora telhado”; “O tempo sentado numa janela cega”. E por aí vai.
Em um dos momentos mais bonitos de “Olhos de Barro”, livro que Maria Lúcia dal Farra associou à mitologia do Gênesis, na qual o barro é alegoria não apenas de jogos de infância, mas também do “grão mítico da criação, o que engendra os olhos capazes de inaugurarem um inesperado mundo novo”, encontramos uma passagem como esta, que encerra nela mesma uma imagem de rara beleza:
“Noite dentro da noite, dentro dos nomes, dentro da mão de deus e sua chave de ossos frescos, dentro da terra úmida. As letras crescem. Os nomes saltam do útero. Pousam crianças em nossos ombros. Elas dizem: água. Era eu a chuva”.
A poesia é essa busca, essa chuva, esse conjunto de palavras saltando do útero, crescendo no livro. É com os olhos de barro que o artista esculpe seu monumento poético. É com a poesia que poeta recupera a origem de seu dizer, ali ele reencontra a infância de sua linguagem, ali ele inventa seu mundo e aumenta o nosso.
Coincidentemente, escrevo este texto no dia internacional da poesia, pensando que se existe um dia para ela é porque no resto do ano está faltando. O poeta sabe que todo dia é dia de poesia. Todo dia é dia de olhar para o mundo com olhos de barro, com sabedoria ancestral. Por isso, ao invés de celebrar hoje a poesia, celebro a amizade com essas palavras que nos ajudam a ser mais do que somos, que nos alimentam o espírito e que nos auxiliam a dizer ou a ouvir tudo aquilo que precisamos. Celebro as amizades que a poesia me deu, essa experiência que é “a forma de existir no espelho do Outro”, como escreveu Neres. Celebro todos aqueles que fazem com suas palavras a secreta e mágica alquimia do verbo, seja apenas por desespero, prazer, ou intensa fé na vida. Termino o texto e já saio pela casa lendo em voz alta um poema de José Geraldo, porque reparto com ele a amizade apenas celebrando por meio de seu existir as suas palavras ou vice-versa talvez:

“CABOCLO caminha na mata de onde venho
senta-se na grama da infância
catavento de ervas
trovão cachoeira machado
o silêncio não acorda
um oceano separa meus braços

– pesca um pouco d’água
trago nos ossos raízes de tambores e nomes
as pescarias de histórias de meu avô
abraçadas à velha casa de madeira
jacarés empalhados alimentam sonhos
nos meus olhos de barro”

26 de março de 2022 – Caio Moreira

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LITERATURA

O caso do vampiro


No último dia 14, o célebre vampiro completou 99 anos. Celebrei a data degustando uma lembrança junto com um resto de vinho que encontrei na geladeira. Volto no tempo. Há alguns anos, caminhando pela Rua XV, em Curitiba, deparo-me com o velho autor das “Novelas nada Exemplares”. Qual seria a chance de isso acontecer uma em mil? Como poderia saber que se tratava mesmo dele, se nunca havia o encontrado pessoalmente? Algo me dizia, no entanto: veja, é mesmo ele. Até então, avistara-o apenas em uma meia dúzia de fotografias velhas, dessas que circulam por aí. Poderia não ser, mas era. Avesso a fotos e entrevistas, como todo bom vampiro – talvez simplesmente tímido ou sagaz em mitificar a própria figura – o escritor aparecia ali inteiro, caminhando com relativa pressa que a muitos ali poderia parecer lentidão. Para onde? Com um tempo livre, sentindo-me já dentro de um conto do próprio, resolvi segui-lo. Aparentava os 86 ou 87 anos que deveria ter. Fingindo mirar as vitrines, fui com o canto do olho acompanhando o seu trajeto. Parou. Entrou em uma ótica. Ficou ali os dez minutos em que o esperei sentado lá fora. Voltou. Tornou a caminhar. Vez e outra, olhava para trás, enquanto eu tentava me esconder entre os passantes. Pensando que poderia perdê-lo de vista a qualquer momento, peguei o celular, daqueles antigos com uma câmera ruim, e saquei duas fotos. É a única prova que guardo daquele encontro.

Mais adiante, dobrou a esquina e desapareceu. Pensei em correr para alcançá-lo, apresentar-me diante de seus olhos, estender-lhe a mão mesmo prevendo o constrangimento que fatalmente iria acontecer (ele odeia fãs, embora seja vaidoso), mas era tarde demais. Lamentei a falta de coragem, guardei o celular e voltei para o hotel.
Empolgado com o encontro que não aconteceu, fui até a livraria do Chain na manhã seguinte, lugar que segundo dizem visitava com frequência. Percorrendo as estantes, encontro um exemplar de “Nem te conto, João”, livro que o vampiro acabara de publicar. Abro o livro ao léu. Na página 58, a frase “Curitiba está diferente. Na pensão tem uma bicha-louca. Chama-se Lu. Usa calça bem justa. Tamanquinho”. Fecho o livro e me dirijo ao caixa. Em minha frente, uma jovem comprava um exemplar de Lya Luft. Pede para embalarem o presente. Atrás de mim, aguardando na fila, um senhor, parecido com aquele que eu encontrara na rua XV no dia anterior, me cutuca. “O que está levando aí, jovem?”. “Um Dalton Trevisan”. “Um Dalton? Não seria um livro dele? ”. Eu rio e respondo que os autores ou uma parte deles vem sempre junto com o livro. “Dizem que ele é fera”. “Sim, muito”. Enquanto me aproximo do caixa, percebo duas jovens atendentes olhando surpresas para mim. Riem discretamente uma para a outra. Enquanto pago, olho para trás e não vejo mais o velho. A mais jovem me pergunta com surpresa: “Você conhece ele? ”. “Não”. “É o Dalton”. Saio da livraria procurando pelo velho. Deve ter dobrado a esquina já, ou se escondeu na antessala da livraria para tomar um café e conversar com seu amigo, o velho Chain. A chance de isso acontecer novamente, eu sabia, era nula, como era nula a possibilidade de conhecer no hotel, naquele dia ou em qualquer outro, uma bicha-louca de nome Lu, com calça justa e tamanquinho.
Depois de algum tempo, conversando com o livreiro, descubro que a livraria é o QG do vampiro. Ali, ele recebe correspondências, entrega originais ou revisões a serem encaminhados às editoras. O Aramis Chain me falou também que bastava eu deixar um exemplar ali que ele pediria para o amigo autografar para mim. Nunca tive coragem. Mas agora que o homem fez 99 anos e resolvi reler o “Nem te conto, João”, abro na folha de rosto e encontro ali a assinatura dele. A página me passara despercebida naquele 2013. Deve haver algum sentido nisso tudo. Teria rubricado um ou alguns exemplares que foram para as estantes? Isso tudo parece mentira até para quem conta.

Post scriptum: A literatura sempre fala a verdade, mesmo quando mente. O escritor é sempre um falso mentiroso, lembrando aqui do icônico título de um livro de Silviano Santiago. Fernando Pessoa afirmou categoricamente ser o poeta um fingidor. Fingir tão completamente a dor que deveras sente faz de quem escreve esse ser tortuoso. Quando alguém afirma “eu minto”, e o que diz é verdade, a afirmação será falsa ou verdadeira? Euclides de Mileto que o diga. Eis o jogo de cena. No fundo, como sugeriu Manoel de Barros, no que o poeta escreve só 10% é mentira, o resto é invenção. No caso do vampiro, minto, o que digo é verdade. Sou também um falso mentiroso. Acredite em mim.

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LITERATURA

Boxeadores, índios e outros vaga-lumes (para Roberto Cossan, lutador vaga-iluminado, e para Alberto Pucheu, the boxer):“But the fighter still remains”

O que chamamos de contemporâneo – pautado com o aval do Estado, por exemplo, pela violência policial, desprezo pela constituição, falta de respeito pelas comunidades indígenas, entre tantas outras atrocidades -, tende a cercear, mais do que o pensamento, a nossa capacidade de imaginar, ou seja, de fazer política. É um tempo em que, para usar um argumento de Didi-Huberman, os “conselheiros pérfidos” estão em plena glória luminosa (o fascismo não morreu), enquanto os resistentes “se transformam em vaga-lumes fugidios tentando se fazer tão discretos quanto possível, continuando ao mesmo tempo a emitir seus sinais”. Tempo no qual os potentes refletores das sentinelas – a perseguir o voo (vaga) iluminado dos inimigos – tendem a ofuscar seu discreto brilho. Se a experiência não pode ser completamente destruída, cabe perguntar que comunidade ainda nos é possível imaginar? Ou antes, que pode a poesia na comunidade que ainda podemos partilhar? Nesse sentido, a experiência não pode ser dissociada do exercício de contestar (palavra que vem do latim contestari e que quer dizer “trazer para testemunhar” ou “testemunhar junto”). Contestar parece ser uma das formas possíveis ainda de vermos juntos o tempo. Nessa luta, deparamo-nos, por exemplo, com o anjo boxeador de Carlito Azevedo a testemunhar o “espetáculo” de mais de uma corda “estirada verticalmente no ar tendo em uma de suas extremidades um galho bem resistente e da outra a cabeça de um índio”. Não se trata apenas de, drummondianamente, lutar com palavras, tomando-as como adversárias, mas de com elas combater seja quem for. Que a luta com palavras possa ser apenas uma “luta antes da luta”, como sugeriu Alberto Pucheu em um poema dedicado também ao boxeador. Na música de Caetano Veloso, o lutador (boxeador) se encontra com o índio do porvir, imaginado como Muhammad Ali-Haj. As poéticas ameríndias parecem hoje lutar para afirmar a sobrevivência de suas culturas, bem como combater uma certa ideia que fazemos da própria literatura, devolvendo potência a ela entendida como pensamento selvagem (o ministério dos povos originários parece ser um bom começo, mas ainda falta muito). Por meio de uma concepção perspectivista, segundo a qual não faz sentido pensar na “natureza” e na “cultura” como elementos distintos, devemos buscar responder à seguinte pergunta: o que pode nos ensinar as poéticas ameríndias? O que está em jogo na ética de sua heterogeneidade? Como podemos, ao invés de dar voz a esse outro, nos permitir ouvi-lo? E que possibilidades de experiências interculturais podem brotar dessa poética da alteridade. Incluem-se nesse caso as produções literárias contemporâneas inspiradas na poética ameríndia, como é o caso das traduções/transcriações de Josely Vianna Baptista dos cantos que integram o Ayvu rapyta, dos Mbyá Guarani. É o caso também da cosmogonia dos Tupinambá reescrita por Alberto Mussa (que virou enredo de Escola de Samba, na Sapucaí, este ano, o livro Meu Destino é Ser Onça), bem como da potência poética oriunda das mitologias indígenas que inspiram na literatura brasileira a linguagem de Wilson Bueno e Douglas Diegues. Doar nossos ouvidos à voz e à luta de um xamã parece ser uma forma não só de imaginá-lo, mas também de, politicamente, sabê-lo.

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LITERATURA

O Fantasma do Vale do Iguaçu

Subo e desço por essas ruas enlameadas sem deixar pegadas. A cidade, à noite, no vale, é esse vão escuro e quieto de quase morrer. Cruzo a linha ferroviária nas madrugadas frias de neblina sem deixar sinal ou quase. Passo de um lado para outro, de um mundo para outro, como quem escapa pelo buraco da fechadura. Por diversão, apareço para uns poucos miseráveis que perambulam pelas vielas com seus casacos de feltro a lembrar O Capote, de Gogol. Espio pelas janelas os homens que, preocupados com a ceia, nem notam minha presença. Atravesso portas sem pedir licença. Subo as escadas do prédio que é ou um dia foi uma escola. O piso não range com minhas pisadas. Do forro pulo ao telhado e deste ao chão. Desço até a esquina e dali vou levitando até a prefeitura, que um dia será antiga. Faço caretas para duas senhoras que, depois de se benzerem e gritarem, correm até a igreja em busca de salvação. Algumas horas depois, a polícia faz a ronda à procura do tal fantasma. Foi por aqui? Alguém aponta. Atrás daquele poste. Uma sentinela empunha a pistola e atira em mim. Ecoa na escuridão a risada macabra sem pingos nos is. Migro do passado para o futuro, e deste para aquele, como quem varre o soalho sujo à contrapelo. Estou sempre no presente, esse buraco negro que me traz sempre aqui. Estou preso em mim. E chego a pensar que só existo em um conto, para logo depois duvidar disso também. E se duvido é porque penso, e se penso é porque existo. Sou um ponto de exclamação no breu da encruzilhada.

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