Ao terminar a rápida e agradável leitura da obra de Mitch Albom, “A última Grande Lição”, fiquei por dias lembrando os ensinamentos e das pessoas com quem tive o privilégio de conviver. Foram poucas, mas as lições extraordinárias com absoluta certeza. Em seu livro o autor, que é jornalista esportivo, resume sua obra em um questionamento:
“Você já teve um professor de Verdade?”
“Cada um de nós teve na juventude uma figura especial que, com paciência, afeto e sabedoria, nos ajudou a escolher caminhos e olhar o mundo sob uma perspectiva diferente. Talvez tenha sido um avô, um professor ou um amigo da família – uma pessoa mais velha que nos compreendeu quando éramos jovens, inquietos e inseguros”.
Poderia utilizar este espaço para lembrar dessas pessoas extraordinárias. Cometeria algumas injustiças, pois em cada época, ao seu tempo e modo, elas apareceram. Lembro com carinho do casal Aludino e Liege, ambos já falecidos. Eram jovens com 75 anos de idade. Gostavam de boa música, literatura, teatro, esoterismo. As “aulas” eram diárias. A cada comentário, ação, exemplo. Me emociona ainda a lembrança da ligação telefônica da “Vó” Liege, anunciando a morte do companheiro Aludino. “Carlão, antes de morrer, ele pediu pra avisar você”. Minhas filhas, ao longo dos anos, se acostumaram a chamar e trata-los como avós. Era muito familiar. Eles partiram e ficou o gosto amargo que nossos momentos poderiam ser mais intensos e frequentes. Nessa mesma linha, perdemos recentemente nossa tia Déa Costa Roehring. Eu a chamava e considerava, de tia mais linda, e era assim mesmo que gostava. Ela sempre foi bela, simpática e com sorriso encantador. Sabe aquelas pessoas que você conversa, e o tempo passa de forma agradável? Era assim. Ainda mais com uma xícara de café, que ela não dispensava.
O Professor e Doutor João Paulo da Rocha Filho, era uma pessoa enigmática. Só utilizava veículo automotor em extrema necessidade e para deslocamentos longos, salvo engano não possuía CNH. Com sua característica barba, bem cuidada, livros e jornais debaixo do braço, suas passadas pelas ruas centrais de Palmas e Curitiba, eram conhecidas de longe. Respeitado e admirado por todos os seguimentos da sociedade. Mas se via que, como pessoa pública, era reservado, com poucos amigos próximos. Tivemos um convívio, ele diretor da faculdade e eu como acadêmico, meados dos anos 80, país se livrando da ditadura militar, Ayrton Senna era referência, perdemos as copas de 82 e 86 e uma nova Legião Urbana tomando conta. Mestre JP extrapolou em alegria quando a “sua” FACEPAL se tornou de maneira inédita campeã dos jogos universitários na cidade de Guarapuava. Extrapolou sua felicidade como nunca. Certa ocasião, eu andando pelo centro de Curitiba, rua XV, ouvi alguém me chamar pelo nome completo. Era ele. Sim, meu velho professor, acomodado, lendo um livro e tomando um café. Foram horas de conversa. Ele me parecia um amigo de infância. Sabedoria absurda. De repente o garçon nos convida a nos retirarmos, pois o café estava fechando. Fomos adiante, como se fosse nosso último encontro. E foi. Ainda bem que aproveitei cada minuto. Depois disso, trocamos cartas com frequência. Cartas sim . João Paulo gostava de escrever a próprio punho, várias laudas. Além de me mandar artigos e outras produções literárias, algumas próprias, outras de autores paranaenses. Ele me compreendia e a minha geração também. Observava o mundo sob um prisma diferenciado, evoluído, apaziguador e resolutivo. Mestre João Paulo nos deixou prematuramente no mês de fevereiro, deste ano, aos 72 anos. O Mundo merecia mais tempo de suas aulas. Advogado, sua inscrição histórica na OAB/PR era de 1978, sob n 7.532. Ele morreu e eu não mandei uma resposta a sua última carta. A missiva inacabada, de minha parte, ficou pela metade no meu computador. Não me perdoarei jamais por isso. Devo ter perdido tempo nas redes sociais ou cumprindo outra tarefa desnecessária ou fútil.
Assim, o livro de Mitch Albom fez sentido. Que falta fazem os grandes professores das nossas vidas.
E você, já teve ou reconhece seu professor da vida? Preste bem a atenção, pois ele ou ela, pode estar ao seu lado, passando desapercebido. Reconheça, aprenda e evolua. Não espere o final do livro.