BREVES HISTÓRIAS
Lugares perdidos, mas não esquecidos
Começo a escrever essa breve história ouvindo a canção, Whatever happened, de Bryan Wilson, líder do lendário Beach Boys. Na canção ele fala sobre o que teria acontecido com seus lugares favoritos.
Pensando nisso, lembrei de alguns lugares que povoaram minha vida, da infância até os dias atuais. Quase nenhum deles existe mais.
Ainda menino e sempre morando na Barão do Cerro Azul, de vez em quando ia com minha mãe ao Chacaroski, um pequeno armazém que ficava na rua Castro Alves. Dona Ofir ora era atendida pela Matilde, ou pela Pelagia ou ainda pelo seu Eduardo, que os íntimos chamavam de Edio. Quando minha mãe finalizava as compras, ele antes de marcar na caderneta, invariavelmente, perguntava: E o que mais?
Eu quase sempre ganhava de minha mãe um pirulito ou outra guloseima qualquer.
Também perto de minha casa, na esquina das ruas 1º de Maio e Costa Carvalho, ficava o Armazém Rio-grandense, da família Bachinski. Lá eu ia sozinho comprar bolinhas de gude.
Num daqueles mitológicos natais, ganhei um Fort Apache, claro que comprado na Casa Willy Reiche. Decorridas algumas semanas depois do Natal, alguém trouxe a fantástica notícia de uma loja em Porto União, na Rua Prudente de Morais, entre a XV de Novembro e a 7 de Setembro, a Frau Winkler, que vendia soldados e índio, avulsos, do Fort Apache.
A loja fervilhava de garotos que ampliavam sua frota de ianques e de indígenas.
Ao lado de minha casa morava aquele que reputo como meu primeiro amigo, Tyrone José Braz Duarte, que já não está mais entre nós. Seu pai, seu Braz era o proprietário do Restaurante da Estação Ferroviária, onde Tyrone e eu costumávamos brincar. Certo dia seu Braz montou na garagem de sua casa,que ficava ao lado da minha, uma sorveteria, que não vendia sorvete, apenas dolés. Ainda não os chamávamos de picolés. Era uma festa, Tyrone se servia à vontade e eu na qualidade de seu melhor amigo me beneficiava desse luxo, sem pagar nada. Seu Braz e família foram embora daqui em março de 1969 e fiquei sem os dolés de anilina.
Na esquina das ruas 1º de Maio e João Gualberto, bem em frente à Praça João de Lima, havia o Bar da Dorilda, mãe de meu amigo, Rubiomar Antônio Savi. Como já contei por aqui, foi Dona Dorilda que nos ensinou a dançar e de quem também comprávamos dolés.
Já com uns 12 anos íamos ao Gabriel Nemes, acreditem se quiserem, para comprar pólvora. É isso mesmo, comprávamos pólvora e além dos longos rastilhos, fazíamos bombas caseiras. Felizmente, sofremos apenas algumas queimaduras leves, quando o artefato explosivo falhava.
Também veio do Willy Reiche meu autorama e minha segunda bicicleta, uma Monareta verde. A primeira veio da Hermes Macedo e era uma berlineta Caloi bordô, que vendi para meu vizinho José Roberto Machado.
Também foi da Willy Reiche meu primeiro conjunto estéreo, um Hi Fi da CCE, que me traz indeléveis lembranças.
Em meados dos anos 60, ainda não havia supermercados e minha mãe ia toda manhã comprar suprimentos para a confecção do almoço e jantar. Vez ou outra eu ia com ela a Casa de frutas do Xixo, que era na esquina da Manoel Ribas, com a Visconde de Guarapuava. Também nessa rua ficava a Padaria do Orlando, onde Dona Ofir abastecia de pães e alguns doces, nossa casa.
Minha mãe também comprava frutas e verduras no Zezito, único estabelecimento entre todos os citados, que ainda existe.
Lembro de ir com tia Lulu ao Restaurante Plaza, que ficava no Edifício Maria Thomazi, na Praça Alvir Riesemberg. Também fui algumas vezes com tia Lulu, na versão original da Pizzaria San Remo, localizada em cima do Cine Ópera e de propriedade dos grandes amigos de tia Lulu, Georgete e Josué de Oliveira. Com tio René eu ia de vez em quando, ao meio dia, na Kibelândia, na Cruz Machado, no Bar do Rozendo, na Praça Alvir Risemberg, no Círculo Militar de Porto União e no Bar do Arnoldo, na XV de Novembro e que anos mais tarde seria meu sogro, pai que era de Tereza, minha primeira mulher.
No final de 1974, eu, Nivaldo Camargo e Paulo Murara, começamos a namorar com umas meninas do Bairro São Bernardo. Elas como nós eram da mesma turma e foi aí que descobrimos o bar da Dona Dora na esquina da Santos Dumont com a Salgado Filho.
Ali fazíamos hora, esperando as meninas.
Já adolescente, comecei a frequentar a Big Lanchonete, na esquina da Praça Alvir Riesemberg, que era de propriedade da família de seu João Araújo, também dono do Restaurante da Estação Rodoviária, onde tio René e mestre Isael Pastuch eram assíduos frequentadores.
Da Big Lanchonete passamos para o El Sombrero, na esquina da Manoel Ribas com a Costa Carvalho. Ali protagonizei duas brigas. A primeira que não foi bem uma briga, já narrei por aqui, começou na noite de 24 de dezembro de 1975, quando eu por volta da meia noite, presenciei três sujeitos, que moravam próximos de mim, dando uma surra em um pobre coitado. Resolvi intervir e depois de dar alguns sopapos e levar o triplo deles, tive que bater em retirada, correndo para minha casa. O tal agredido ao invés de me ajudar, subiu em sua bicicleta e fugiu.
Dias depois passando pelo El Sombrero, lá estava um de meus agressores, que quando me viu fez menção de levantar, provavelmente, só para me assustar. Chamei-o e disse para Nivaldo que ele, provavelmente, para chegar até nós teria que passar pela pequena mureta que rodeava a lanchonete. Imaginei que ele subiria na mureta. Foi o que aconteceu, eu era ágil como um gato e dei uma voadora no peito do mancebo que caiu para dentro e ao levantar nós já estávamos em casa. Fiquei umas duas semanas quase sem sair. Hoje somos amigos.
Certa noite fomos ao Sombrero, acho que em uns 7 ou 8 garotos. Tomamos umas 10 cervejas e eis que, ninguém tinha dinheiro. O que fazer diante de inusitada situação.
Sugeri que contássemos baixinho até três e partíssemos em desabalada carreira. Deu certo, como raramente íamos ali, ninguém nos conhecia.
Passados uns dois meses, decidimos repetir a dose, mudando a rota de fuga, que seria, como foi, o Cemitério Municipal. Novamente deu certo e ficamos mais de ano sem aparecer por lá e o que ainda me motivou a clarear o cabelo.
Eu já havia encrespado meu cabelo já meio cacheado, meio rebelde e aí decidi descolori-lo. Foi nessas visitas ao Salão de Iracema Kulicheski, que conheci sua sobrinha Eli, que se tornaria minha grande amiga. Unia-nos a paixão pelo rock. Eli era moderna, descolada e mesmo assim sabia fazer tricô e me presenteou com um gorro de lã. No final das férias de fevereiro, quando ela voltou para Francisco Beltrão, lhe dei de presente um disco de Gilbert O´Sullivan, autor das inesquecíveis Alone Again e Clair.
Semana passada recebi um whatsapp seu, no qual ela me contou que seu cardiologista, cujo consultório é em Pato Branco, é daqui e me enviou um abraço. Trata-se de Edu Guérios. Ambos estudamos no Túlio de França, mas não na mesma série.
Finalmente, após frequentarmos a Big Lanchonete e o El Sombrero, já no auge da adolescência, passei a ir no X Burger.
Naquela época o programa obrigatório de domingo era a sessão noturna no Cine Ópera. Eu saia de casa um pouco antes e comia um hambúrguer no X, ao som de Walk on by, na versão de Gloria Gaynor, na lendária Juke Box da casa. Essa música também era a preferida do proprietário, o indefectível, Luís Ghidini.
Frequento o X até hoje e destes que citei, não apenas é o único em atividade, como neste ano está completando 50 anos, o que é assunto para uma próxima crônica.
É isso. Até lá então.
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BREVES HISTÓRIAS
Vida de Lulu Augusto e Caiçara são indissociáveis

Em nossa derradeira edição não poderíamos deixar de mencionar a trajetória de vida de Lulu Augusto, que se confunde e se amalgama com a trajetória do Jornal Caiçara por ela criado em 1953.
Lulu Augusto, nasceu em 15 de março de 1930, em União da Vitória, Paraná. Filha de Maria Joana Linhares Augusto e Didio Augusto.
Cresceu na Rua Barão do Cerro Azul, em três diferentes endereços.
Em 1949, com apenas 19 anos, passou a residir em Curitiba, onde ao lado da amiga, Maria Alba Mendes da Silva, fundou o jornal literário Jandaia.
No início de 1953, retornou a União da Vitória, embora ainda mantivesse até meados de 1954, em Curitiba, a publicação do Jandaia.
Em meados de 1953, no intuito de continuar as denúncias contra os algozes da menina Zilda Santos,
vítima de brutal assassinato, escreveu a radionovela, O Crime do Iguaçu, levada ao ar pelos microfones da Rádio União.
Com isso, Lulu dava continuidade às denúncias de impunidade do hediondo crime, iniciadas por seu irmão, Dante de Jesus Augusto, em seu programa matinal, Bom Dia para Você, também na Rádio União.
Ao aproximar-se o derradeiro capítulo da novela, era anunciado nos microfones da Rádio União, que no último capítulo, seriam revelados os nomes verdadeiros dos assassinos da menina Zilda.
Numa época de impunidade ainda maior que a de hoje, quando marginais ricos e poderosos silenciavam a justiça, o último capítulo foi proibido de ir ao ar e Lulu e os atores, assim como diretores da rádio ameaçados de prisão, caso insistissem em levar ao ar o derradeiro capítulo.
Temendo pela prisão de Lulu Augusto e dos membros do elenco da novela, inúmeras meretrizes da Rua Cruzeiro, em Porto União, endereço do lupanar onde Zilda foi seviciada e assassinada, postaram-se em frente a emissora, em um cordão humano para proteger Lulu e seus acólitos.
O capítulo não foi ao ar, motivando Didio Augusto, pai de Lulu, que na época era colaborador do jornal O Comércio, tentar publicar no supracitado hebdomadário, o último capítulo da novela. O jornal O Comércio, temendo represálias judiciais decidiu não fazer a publicação. Indignado, Didio Augusto declarou que fundaria um jornal nem que este tivesse apenas um número, para denunciar os algozes de Zilda.
Ao chegar em casa Didio disse que iria fundar um jornal, ideia, imediatamente, acolhida por Lulu, que em 12 de agosto de 1953, fundaria o Jornal Caiçara, hoje com quase 72 anos de idade, e, não apenas com um único número, mas chegando agora ao número 2621.
Na segunda metade dos anos 60, Lulu, ao lado da professora Arlete Bordin, fundaria o Centro de Letras Didio Augusto, confraria que reunia escritores e intelectuais para discutir e refletir a literatura e a arte em geral.
Lulu além jornalista era poeta de rara sensibilidade, exímia cronista da cotidianidade, além, de ser talentosa desenhista.
No início dos anos 60, Lulu gerenciou a Rádio Colmeia, onde passaria de agitadora cultural a espécie de promoter, iniciando tal atividade com a promoção de um show humorístico, com o cantor e menestrel, Juca Chaves, na época o enfant terrible da sátira e da paródia.
Logo em seguida Lulu retornaria à Rádio União, gerenciando a emissora até o começo da década seguinte.
Foi nos microfones da União que Lulu criaria dois quadros que se tornariam célebres no radialismo local, as crônicas diárias, Falando francamente e posteriormente, A vida em espiral.
Foi também nessa época que Lulu promoveria em União da Vitória o concurso de beleza Glamour Girl e traria para as cidades irmãs os cantores Wanderley Cardoso, JerryAdriani e Martinha, todos no auge da popularidade, surfando nas ondas da Jovem Guarda.
Em 1975, Lulu Augusto, fundaria Caiçara Gráfica e Editora Ltda., tendo como sócios Sulamita da Costa, Gilberto Francisco Brittes e Gilberto Abrão. Mais tarde, Lulu compraria as partes de Gilberto Brittes e Gilberto Abrão. Em 1986, Delbrai Augusto Sá compraria a parte de Sulamita da Costa e seguiria como sócio de Lulu até 1994, quando a impressão do Jornal Caiçara seria terceirizada e a Gráfica Caiçara encerraria suas atividades. Em 1998 foi criado o Jornal Caiçara online.
No final da década de 70, Lulu conclui o curso de técnica jornalística, na União dos Profissionais de Imprensa do Rio de Janeiro.
Em 24 de novembro de 1994, Lulu Augusto recebe em Curitiba uma Medalha de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à Ordem e à comunidade, outorgada pelo Grão Mestre, do Grande Oriente do estado do Paraná, João Darcy Ruggeri.
No final da década de 90, Lulu Augusto é homenageada pelo Conselho da Mulher Executiva de Porto União e União da Vitória, laureada reconhecida como mulher fazedora da história.
Em 26 de agosto de 2005, Lulu Augusto recebe o título de Irmã Honorária da Academia de Cultura do Paraná.
Durante a década de 70, Lulu Augusto mantém a publicação da revista Em Voga.
Na segunda metade da década de 80, Lulu Augusto ao lado de Delbrai Augusto Sá e Tereza Vitória Ruski, funda a revista Atual.
Em 1997, Lulu Augusto cria com Sulamita da Costa, a revista Perfil.
Também nos anos 90, Lulu Augusto em parceria com a publicitária Janice da Penha Augusto Rost, criaria a agência de publicidade e propaganda, Skema Publicidade.
No final dos anos 90, Lulu Augusto, lançaria pelo Jornal Caiçara uma coleção de livros denominada Grandes Clássicos da Literatura Mundial, que objetivava incentivar a leitura e era uma parceria com a tradicional Livraria do Chaim, de Curitiba.
Lulu Augusto faleceu em 13 de março de 2016, dirigindo o Jornal Caiçara até os últimos dias de sua vida, deixando um vasto legado de coragem, persistência e criatividade, ousando como mulher e solteira, criar um órgão de comunicação em uma época ainda mais dominada pelo conservadorismo e pelo patriarcalismo, muitas vezes desafiando poderosos de plantão, aos quais jamais se curvou.
Feminista convicta, desde sempre, defendeu a igualdade de gênero, exortando as mulheres que propugnavam por esta causa e repudiando peremptoriamente toda e qualquer manifestação misógina.
Religiosa que era, dizia que apenas se ajoelhava diante de Deus.
Em 2018, em homenagem prestada pela Associação de Artistas Plásticos Amadeu Bona, Lulu foi retratada pela artista plástica, Beatriz Bolbuck.
Em 2019, em obra denominada Mulheres Fazedoras, publicada pela Editora Life, organizada por Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski e Silvia Regina Delong, a jornalista é enfocada em artigo de autoria de Elaine Schmitt e Karina JanzWoitowicz, cujo título é Lulu Augusto e o Jornal Caiçara: Protagonismo feminino no jornalismo do interior paranaense.
Em 21 de fevereiro de 2022, o então prefeito, Bachir Abbas, sancionou a Lei que denomina de Travessa Jornalista Lulu Augusto a via pública que une União da Vitória a Porto União.
A Lei de nº 4986/2021, de 30 de novembro do mesmo ano, foi um projeto do Executivo, sendo, unanimemente, aprovada pelo Legislativo Municipal.
Oportuno ressaltar que em Porto União, o então prefeito, Eliseu Mibach, sancionou em 28 de outubro de 2021, a Lei nº 4766/2021, que também denomina o lado catarinense da mesma via, de Jornalista Lulu Augusto, em projeto/Lei de autoria do vereador Luiz Alberto Pasqualin.
Como nosso fiel leitor pôde observar e conforme o título desse texto, a vida da jornalista, minha querida tia Lulu, está indissociavelmente, ligada a trajetória do Jornal Caiçara, que neste 21 de maio de 2025, se despede de seus leitores, com a firme certeza de que fizemos um jornalismo único, vanguardista e corajoso.
Paramos por aqui, mas seguiremos pelo resto de nossos dias a reverenciar a memória de Lulu Augusto, que um dia sonhou em fazer um jornal e o fez por 71 anos, 9 meses e9 dias.
Obrigado tia Lulu por um dia ter me permitido fazer parte de Caiçara. Minha primeira coluna foi publicada em 6 de agosto de 1977, portanto há mais de 47 anos. Obrigado tia Lulu pelos ensinamentos e lições de vida que me ajudaram a ser quem eu sou.
BREVES HISTÓRIAS
Uma estrela a mais no firmamento

O polêmico, controverso e competentíssimo professor de Educação Física, treinador e um dos maiores formadores de atletas dos estados, de Santa Catarina e Paraná, Jorge Sérgio Schwartz, faleceu no dia 4 de janeiro de 2025, consternando as cidades irmãs.
Jorge por mais de 40 anos emprestou seu talento e sua pena afiada como uma navalha às páginas de Caiçara, onde assinou sua coluna Sem Censura.
Em 2020, Jorge trocaria as páginas de Caiçara, mediante divergências ideológicas, pelas páginas do Jornal O Iguassu, de propriedade de meu amigo, Claudio Gugelmin.
A última vez que vi Jorge, foi durante a projeção do filme Ainda estou aqui, em dezembro de 2024, no Cine Gracher, em Porto União
Ao término do filme, quando subiam os créditos, puxei os aplausos e ainda gritei: Ditadura nunca mais. Jorge que estava perto de nós, também se incorporou aos aplausos.
Esse meu caro amigo deixa uma lacuna impreenchível nos meios esportivos e jornalísticos regionais e estaduais e por que não nacionais, porque elevou quase ao máximo o nome de Porto União no cenário do Basquetebol feminino brasileiro
Em meu livro de crônicas, Meus caros amigos, publicado em 2014, escrevi uma crônica em homenagem a Jorge e que transcrevo a seguir, prestando, dessa forma, minha última homenagem ao amigo e endereçando, minhas condolências a seus familiares.
Um fim de tarde ao som de Travessia
Na manhã de terça-feira, 13 de outubro, enquanto trabalhava, ouvia algumas canções armazenadas na memória de meu micro e eis que me deparo com “Bridges”, com Sarah Vaughan e Milton Nascimento. “Bridges” nada mais é que a versão em inglês da magnífica “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que compôs um belíssimo disco da inigualável Sarah Vaughan em homenagem à música popular brasileira
Sempre achei “Travessia” uma das mais belas canções brasileiras e ainda garoto, na época dos festivais, fiquei pra lá de indignado, quando em 1967 ela foi derrotada no II Festival Internacional da Canção Popular, por “Margarida”, de Gutemberg Guarabira, também uma bela canção, mas muito aquém de “Travessia”.
Essa versão com Saraha Vaughan a que me refiro ouvi na casa de meu dileto amigo, Orleans Antunes de Oliveira Filho, a quem já dediquei uma de minhas crônicas e a quem recentemente homenageei, oferecendo a canção “What´s new”, um dos mais belos standards da canção americana, quando aqui estiveram se apresentando no Bistrô da Cultura, Saul Trumpet, Fernando Montanari e Gerson Bientine
Como “Bridges”, também ouvi pela primeira vez na casa de Orleans a versão de “What’s new”, na voz da cantora de country music, Linda Ronstadt, que gravou um disco com algumas das mais belas torch songs da canção americana, tendo ao seu lado a fantástica orquestra de Nelson Riddle, que por muitos anos acompanhou Frank Sinatra.
Mas voltando à manhã de 13 de outubro e à “Travessia”, um de seus mais belos registros me foi propiciado por meu amigo Jorge Sérgio Schwartz
No final de 1993, alguns dias após o término de meu primeiro casamento eu estava em minha casa em um fim de tarde de verão, limpando a piscina, ouvindo música e tomando um scotch, quando ouço um carro entrar na garagem. Nem fui ver quem era pois eu já deixava a porta da garagem aberta naquela hora do dia em que sempre recebia amigos para um happy hour
Ouço uma música e vou ver de que se trata. Encontro Jorge Sérgio Schwartz com seu indefectível acordeão em punho, adentrando em minha casa e tocando “Travessia” que, com sua emblemática letra, dizia muito naquele momento de minha vida.
Jorge foi sem dúvida o autor de uma das mais belas e inesperadas homenagens que recebi ao longo de minha vida
Tomamos o litro de Chivas que ali estava acompanhado por uns canapés, esperando a chegada de alguns outros amigos que vinham para a sessão diária de bate-papo
Diante de tudo isso e da data, 13 de outubro, um dia após o aniversário de meu amigo Jorge, procuro, de forma bem menos inspirada, homenageá-lo, dedicando-lhe essa crônica.
Vida longa caro amigo.
BREVES HISTÓRIAS
Ainda estamos aqui

Há mais ou menos duas semanas, fui com Margarete e alguns amigos assistir o belo e pungente, Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr.
Margarete tentou comprar o ingresso pela Internet e por algum bug do site, não conseguiu. Resolvemos no sábado ir até lá e comprarmos os ingressos para a sessão das 17h, de segunda-feira. Chegando lá fomos informados que não é possível comprar ingressos antecipados para outro dia. Acabamos desenvolvendo uma conversa com um rapaz que estava na bilheteria e aproveitei para indagá-lo se os filmes, A substância e Megalopolis, seriam exibidos aqui. A resposta foi não, o que motivou a fazer nova indagação. Por que aqui, basicamente, somente são exibidos blockbuster, comédias e filmes infantis, não sobrando quase nunca espaço para filmes de temáticas mais reflexivas. Recebemos como resposta que o fato de Porto União possuir apenas três salas, enquanto outras cidades que também tem o Cine Gracher, possuem quatro salas, o que facilita a exibição de filmes como, A substância, por exemplo. Também ficamos sabendo que aqui, tais filmes cumprem más performances de bilheteria e que também é onde o público mais solicita filmes dublados.
Fiquei ainda mais perplexo ao saber que um cidadão retirou de um display do filme, A freira, um crucifixo, alegando que se tratava de propaganda ofensiva a religião católica. Minha perplexidade e indignação aumentou ao saber que uma comitiva de mães foi até o cinema para solicitar a retirada do último Toy story. Em que em certo momento, duas meninas dão as mãos e seguem caminhando. A tal obtusa comitiva, parece que saindo da Idade Média, alegou que tal cena era ofensiva a moral e aos bons costumes e a coisa não parou por aí. Outra comitiva foi solicitar que a nova versão de A arca de Noé, não fosse exibida aqui porque distorcia uma parábola bíblica, trazendo-a para os dias atuais.
Como sou um provocador, aproveitei para dizer que o conservadorismo e a hipocrisia da extrema direita, além de acéfalo, não tem limites.
Mas falemos um pouco de Ainda estou aqui, que narra a obstinada luta da grande brasileira, Eunice Paiva, primeiro para saber o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva, covardemente arrancado de sua casa, em janeiro de 1971, por gorilas militares, sem nenhuma justificativa plausível. Eunice lutou tenazmente com as armas que tinha, até que em 1996, já no governo de Fernando Henrique Cardoso, conseguiu, mesmo sem um corpo, que jamais foi encontrado, finalmente, obter o Atestado de Óbito.
Eunice foi uma das grandes artífices do movimento pela anistia, que em mais uma terrível manobra da ditadura, também anistiou os torturadores e assassinos que agiam em nome do regime covarde e brutal que com a promulgação da Lei de Anistia, contrariou resolução da ONU que determina que crimes contra a humanidade são imprescritíveis.
A Presidente Dilma Roussef, tentou anular a Lei de Anistia e punir os praticantes de atos vis e covardes de tortura. Sua solicitação foi protocolada no STF, que estranhamente a negou, mantendo impunes os torturadores.
Na sessão em que estávamos não havia mais de 20 pessoas, que não pouparam aplausos no final do filme. Eu por minha vez, indignado, não pude deixar de gritar: Ditadura nunca mais.
E para aqueles que se diziam os corajosos e intentaram contra o estado de direito, tentando derrubar um governo legítima e democraticamente constituído e que agora acovardados temendo as prisões que a cada dia se avizinham, lembro, Ainda estamos aqui e não descansaremos até que o último golpista seja, severamente, punido.
Lágrimas
Para o falecimento do velho comunista, professor Ciro Costa, pai de minha querida amiga, Desiré e, do médico, Arthur Costa, ocorrido em 11 de outubro de 2024. Ciro foi mais uma vítima da sanha ignóbil da ditadura militar. Foi preso em 1969, condenado a um ano de prisão e teve seus direitos políticos cassados, apenas por que havia sido no início dos anos 60, um dos fundadores do PCB – Partido Comunista Brasileiro em União da Vitória. Cumpriu sua pena inicialmente em Curitiba e, posteriormente, aqui em Porto União.
Esse foi mais um ato vergonhoso praticado por um regime de exceção, que ainda é saudado por brasileiros desprovidos de consciência histórica, de qualquer espécie de compaixão e de tolerância, ao contrário enaltecem personagens nefastos como Bolsonaro, que em seus quatro anos de desgoverno, exaltou o preconceito, a intolerância e a negação da ciência, da arte, da cultura e da educação.
As outras lágrimas vão para o falecimento de minha caríssima amiga Jana Portes, ocorrido em 2 de novembro. Jana é esposa de meu grande amigo Renato Portes, a quem fui abraçar no infausto acontecimento.
Reencontro
Ainda no velório de Jana, fiquei feliz ao reencontrar meu caro amigo, Jonas Godinho, com quem não falava já há algum tempo, motivado por desentendimento que tivemos.
Em 1989, a convite de meu dileto amigo, Carlos Alberto Santos, ingressei no Clube das Terças, onde lá estavam outros caros amigos como, Renato Portes, Márcio Monte, Gilberto Brittes, Cezar Lemos, Ary Carneiro Jr, Brittes Antônio Brittes e Jonas Godinho, entre outros. Logo em seguida, tornei-me sócio do Avahi Futebol Clube, novamente, levado por Carlos Alberto Santos, Renato Portes e Márcio Monte.
Na Festa de Natal do Avahi, em 1993, fiz talvez minha primeira aparição pública com minha então namorada Margarete Schwab, hoje minha esposa.
Como chegamos um pouco atrasados, o salão já estava, praticamente, lotado e ao darmos os primeiros passos em direção à nossa mesa, onde Carlos Santos e sua então esposa, Margarete Pereira Bozza, nos aguardavam, fomos surpreendidos pelos acordes da bela e emblemática, para nós, canção de Ivan Lins e Vitor Martins, Começar de novo, a nós dedicada pelo querido amigo Jonas Godinho.
Nos primeiros dias de 1994, Marga e eu ainda ensaiando os passos iniciais de nossa relação, certa noite após um jantar no Avahi, quando por lá estávamos, já no início da madrugada, apenas eu, Jonas, Eloi Lara, outro grande e antigo amigo, e, Alceu Schwegler, também caro amigo, depois de umas biritas e muita música, tirada nos violões de Jonas, Eloi e Alceu, decidi fazer uma serenata para Marga, que morava na Rua Benjamin Constant, no prédio onde havia funcionado o Correio.
Entramos no corredor que dava acesso à porta principal e mandamos um samba para acordar minha doce namorada. Quando as luzes se acenderam, Jonas e Eloi deram os primeiros acordes de, Eu sei que vou te amar, já com Marga na porta nos recebendo.
Foi uma noite memorável que devo ao talento e sensibilidade de meus caros amigos, Alceu, Eloi e Jonas, que repito, fiquei muito feliz em reencontrar.
