BREVES HISTÓRIAS
Democracia para sempre
Já havia alguns anos que eu não me emocionava tanto com a política partidária e seus efetivos desdobramentos, como o que ocorreu agora em 2022 com a vitória de Lula e, posteriormente, em 1º de janeiro deste ano, com sua posse.
Cresci e, consequentemente, passei da infância à adolescência e desta para a idade adulta, durante o tenebroso período da ditadura militar.
Quando Médici decretou o AI 5, em 13 de dezembro de 1968, eu tinha 10 anos de idade, e, antes ainda, quando o poder foi tomado de assalto pelos militares, no golpe de 1º de abril de 1964, eu tinha 5 anos e ainda lembro que na manhã deste que foi um dos mais sombrios dias de nossa história, ao acordar recebi de tia Lulu a notícia de que o governo João Goulart havia sido derrubado, e, ainda pairava a possibilidade de uma luta armada. Levantei e fui até a janela da sala para ver se haviam pessoas lutando na rua.
Ainda menino, muitas vezes fui com tio René às Delegacias de Polícia, onde ele ia para coletar dados dos recentes acontecimentos policiais. Lembro que nas paredes das delegacias estavam afixados cartazes de procurados pela justiça, se é que se poderia chamar aquela justiça por este nome. Lá estavam entre outros que lembro, os nomes de dois grandes brasileiros assassinados pela ditadura, Carlos Marighella e Carlos Lamarca, cujas histórias eu, já adolescente, conheceria a fundo, ao ler não apenas a história de suas vidas, como outros livros paralelos. Ainda no final de minha adolescência e início da vida adulta passei a cultuar a memória desses gigantescos brasileiros.
Em 1977, quando Ernesto Geisel decretou o nefasto Pacote de abril, que resultou entre outras medidas de exceção, na cassação de inúmeros parlamentares, eu estava com 18 anos e começava a flertar com o ideário anarquista.
Em 1978, quando o MDB infligiu nova fragorosa derrota a ARENA, a exemplo do que havia feito em 1974, eu então com 20 anos, fui com tia Lulu, ao Clube Operário em um comício dos próceres da oposição, como José Richa e o grande orador, Alencar Furtado. Saí de lá com profunda admiração por esses líderes oposicionistas e durante a campanha eleitoral daquele ano, mantive em minha coluna, então intitulada, Câmera 1, aqui em Caiçara o seguinte: “Não sou de briga, sou de Richa”.
Faço esse longo introito para falar daquela que foi minha primeira grande emoção com a política, que foi a decretação da Anistia em 1979, ou mais, especificamente, com a volta dos anistiados, desembarcando no Brasil e saudados por centenas de familiares e amigos. Foi muito emocionante vê-los voltando ao som da magnífica, O bêbado e a equilibrista, de Aldir Blanc e João Bosco.
Mas se por um lado nos emocionávamos com a volta dos anistiados, nos entristecíamos com o fato de a tal anistia ampla geral e irrestrita, gestada por Golbery do Couto e Silva, beneficiar também os torturadores e assassinos, que como em outros países aqui da América do Sul, como a Argentina, levou os famigerados algozes da ditadura que durou de 1976 a 1982, para a prisão, sendo o maior exemplo disso o General Jorge Rafael Videla, tirano sanguinário, que foi condenado a prisão perpétua por crimes contra a humanidade e morreu na cadeia.
A Presidenta, Dilma Roussef, tentou retirar do processo de anistia aqueles que cometeram crimes contra a humanidade, que são imprescritíveis, mas acabou derrotada no STF e os algozes da ditadura permaneceram impunes e ainda hoje são saudados por quem não tem nenhuma consciência histórica, ou se tem, são fascistas como Bolsonaro e seu séquito.
Em 30 de abril de 1981, em um episódio que remete aos dias atuais, em um show para 20 mil pessoas no Rio Centro, dois militares descaracterizados perpetraram um ato terrorista que seria a explosão de bombas que mataria milhares e cuja autoria seria atribuída à esquerda. Mas o tiro saiu pela culatra e uma das bombas explodiu dentro do carro onde estavam os terroristas, matando um deles e ferindo, gravemente, o outro. Isso ocorreu em plena ditadura nunca se soube quem foram os mandantes do ato terrorista que visava impedir ali o final de ditadura.
No final de 1983, toma corpo o movimento pelas diretas e eclodem país afora monumentais comícios pedindo Diretas Já, que era uma emenda parlamentar do deputado Dante de Oliveira. Os comícios riscaram o país de ponta a ponta e chegaram a União da Vitória, sendo realizado no Ginásio de Esportes do Clube Apolo, com a participação de todas as lideranças de oposição do Paraná e ainda com a participação do cantor Wando. Lá estava eu envergando uma camiseta amarela, onde se lia, Diretas Já. Tenho dito a amigos e amigas, que não sei se um dia voltarei a usar amarelo, acho que não.
Minha terceira grande comoção com fatos originários da política partidária, foi a vitória de Lula em 2002. Aqui cabe um parêntese, esse foi meu primeiro voto em Luiz Inácio Lula da Silva e, consequentemente, no PT.
Eu era eleitor do PSDB, mais especificamente, de Fernando Henrique Cardoso, intelectual de esquerda, que havia sido banido do país, tendo vivido na França, onde deu aulas na Sorbonne. Não é pouco. Eu, de forma ingênua, acreditei no ideário social democrata do PSDB e já vislumbrava o Brasil como uma Dinamarca dos trópicos, com muito menos desigualdade. Ledo engano, de social democrata o PSDB só tinha o nome. Era um partido de direita, neoliberal e como tal, altamente, privatista. A coisa piorou quando FHC para aprovar a emenda que permitiria a reeleição, abriu um balcão de negócios no governo e saiu comprando meio mundo. Comprou e a reeleição foi aprovada. Em 1998, ainda fui convencido por seu discurso de campanha, no qual ele dizia que agora sim poderíamos nos transformar em um país social democrata. Nada disso aconteceu e votei em Lula em 2002, em sua proposta socialista de diminuir desigualdades e oferecer oportunidades senão para todos, para muito mais gente.
Em 2002, eu fazia um Mestrado em Comunicação e Linguagens, na Universidade Tuiuti do Paraná. As aulas eram as sextas-feiras e uma vez por mês eram quinta e sexta. Na sexta-feira que antecedia as eleições, eu saí de Curitiba as 19h, e vi a cidade tomada de bandeiras vermelhas e tive a certeza de que ganharíamos as eleições. Vendo aquele espetáculo belíssimo, com as ruas tomadas pelo vermelho, ali mesmo no ônibus, em meio a uma profusão de redentoras lágrimas, escrevi uma crônica, contando essa insólita experiência e a publiquei em Caiçara no sábado seguinte. Finalmente, o PT ganhava uma eleição e com a vitória a certeza de dias melhores, que de fato vieram e com eles, o projeto Minha casa minha vida, a Farmácia popular, o Bolsa família, o FIES, o Prouni, a acentuada melhoria na educação com a instalação dos Institutos Federais, entre tantas outras coisas, que não podem ser negadas nem pelo mais insano dos terroristas fanáticos que agora estão por aí e surgiram sabe-se lá de onde.
Já há 20 anos eu não era tomado por uma emoção visceral, como fui agora na vitória de Lula.
Mas nem tudo saiu como planejado e a eleição foi para o segundo turno.
Mais que entristecido, fiquei indignado e muito preocupado e por vários dias não assisti TV e nem li a Folha de São Paulo, que desde 1979, leio diariamente, ou melhor, agora escuto.
Mas em nenhum momento me acovardei e continuei indo para as ruas.
Ao contrário do que fiz no primeiro turno, decidi não acompanhar a marcha das apurações. Enquanto, Marga acompanhava na sala, me deitei e acabei dormindo, sendo acordado por um ruído de meu celular, era minha filha Nina Rosa, que mora em São Paulo e me dizia com voz embargada, Lula acaba de virar. Antes mesmo de responder à mensagem, meu celular toca e é Mayara, minha outra filha, me ligando de San Francisco, na Califórnia, onde mora. Ela me diz, pai com 98% dos votos apurados, Lula abre uma diferença, que não poderá mais ser alcançada. Conversamos mais um pouco, Mayara me fala que desafiou bolsonaristas nas ruas, anunciando que para eles o fim estava bem perto.
Saí finalmente do quarto e encontro Marga já eufórica, nos abraçamos e choramos.
Volto para o quarto e grito a plenos pulmões, em minha janela, acabou o pesadelo.
Nesse momento recebo uma mensagem de minha amiga, Delamar Corrêa, dizendo que está indo para a Praça Coronel Amazonas. Eu e Marga pegamos nossa bandeira e como moramos muito perto da Praça em questão, vamos a pé, ignorando a chuva, que vai se misturando com nossas lágrimas. Ao chegar na Praça, já começando a ficar, totalmente, tomada e banhada pelo vermelho, encontramos muitos amigos e aí a catarse foi total. Fim do pesadelo, a certeza de novos dias, sem preconceito, sem intolerância e com o firme propósito da diminuição da desigualdade.
Dia 1º de janeiro de 2023 vem a posse, que é o maior símbolo de nossa breve história da retomada da democracia, o maior símbolo da diversidade, de um Brasil fraterno, sem ódio e, finalmente, com a certeza de dias melhores.
Viva a democracia, viva LULA.
Veja Também
BREVES HISTÓRIAS
Vida de Lulu Augusto e Caiçara são indissociáveis

Em nossa derradeira edição não poderíamos deixar de mencionar a trajetória de vida de Lulu Augusto, que se confunde e se amalgama com a trajetória do Jornal Caiçara por ela criado em 1953.
Lulu Augusto, nasceu em 15 de março de 1930, em União da Vitória, Paraná. Filha de Maria Joana Linhares Augusto e Didio Augusto.
Cresceu na Rua Barão do Cerro Azul, em três diferentes endereços.
Em 1949, com apenas 19 anos, passou a residir em Curitiba, onde ao lado da amiga, Maria Alba Mendes da Silva, fundou o jornal literário Jandaia.
No início de 1953, retornou a União da Vitória, embora ainda mantivesse até meados de 1954, em Curitiba, a publicação do Jandaia.
Em meados de 1953, no intuito de continuar as denúncias contra os algozes da menina Zilda Santos,
vítima de brutal assassinato, escreveu a radionovela, O Crime do Iguaçu, levada ao ar pelos microfones da Rádio União.
Com isso, Lulu dava continuidade às denúncias de impunidade do hediondo crime, iniciadas por seu irmão, Dante de Jesus Augusto, em seu programa matinal, Bom Dia para Você, também na Rádio União.
Ao aproximar-se o derradeiro capítulo da novela, era anunciado nos microfones da Rádio União, que no último capítulo, seriam revelados os nomes verdadeiros dos assassinos da menina Zilda.
Numa época de impunidade ainda maior que a de hoje, quando marginais ricos e poderosos silenciavam a justiça, o último capítulo foi proibido de ir ao ar e Lulu e os atores, assim como diretores da rádio ameaçados de prisão, caso insistissem em levar ao ar o derradeiro capítulo.
Temendo pela prisão de Lulu Augusto e dos membros do elenco da novela, inúmeras meretrizes da Rua Cruzeiro, em Porto União, endereço do lupanar onde Zilda foi seviciada e assassinada, postaram-se em frente a emissora, em um cordão humano para proteger Lulu e seus acólitos.
O capítulo não foi ao ar, motivando Didio Augusto, pai de Lulu, que na época era colaborador do jornal O Comércio, tentar publicar no supracitado hebdomadário, o último capítulo da novela. O jornal O Comércio, temendo represálias judiciais decidiu não fazer a publicação. Indignado, Didio Augusto declarou que fundaria um jornal nem que este tivesse apenas um número, para denunciar os algozes de Zilda.
Ao chegar em casa Didio disse que iria fundar um jornal, ideia, imediatamente, acolhida por Lulu, que em 12 de agosto de 1953, fundaria o Jornal Caiçara, hoje com quase 72 anos de idade, e, não apenas com um único número, mas chegando agora ao número 2621.
Na segunda metade dos anos 60, Lulu, ao lado da professora Arlete Bordin, fundaria o Centro de Letras Didio Augusto, confraria que reunia escritores e intelectuais para discutir e refletir a literatura e a arte em geral.
Lulu além jornalista era poeta de rara sensibilidade, exímia cronista da cotidianidade, além, de ser talentosa desenhista.
No início dos anos 60, Lulu gerenciou a Rádio Colmeia, onde passaria de agitadora cultural a espécie de promoter, iniciando tal atividade com a promoção de um show humorístico, com o cantor e menestrel, Juca Chaves, na época o enfant terrible da sátira e da paródia.
Logo em seguida Lulu retornaria à Rádio União, gerenciando a emissora até o começo da década seguinte.
Foi nos microfones da União que Lulu criaria dois quadros que se tornariam célebres no radialismo local, as crônicas diárias, Falando francamente e posteriormente, A vida em espiral.
Foi também nessa época que Lulu promoveria em União da Vitória o concurso de beleza Glamour Girl e traria para as cidades irmãs os cantores Wanderley Cardoso, JerryAdriani e Martinha, todos no auge da popularidade, surfando nas ondas da Jovem Guarda.
Em 1975, Lulu Augusto, fundaria Caiçara Gráfica e Editora Ltda., tendo como sócios Sulamita da Costa, Gilberto Francisco Brittes e Gilberto Abrão. Mais tarde, Lulu compraria as partes de Gilberto Brittes e Gilberto Abrão. Em 1986, Delbrai Augusto Sá compraria a parte de Sulamita da Costa e seguiria como sócio de Lulu até 1994, quando a impressão do Jornal Caiçara seria terceirizada e a Gráfica Caiçara encerraria suas atividades. Em 1998 foi criado o Jornal Caiçara online.
No final da década de 70, Lulu conclui o curso de técnica jornalística, na União dos Profissionais de Imprensa do Rio de Janeiro.
Em 24 de novembro de 1994, Lulu Augusto recebe em Curitiba uma Medalha de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à Ordem e à comunidade, outorgada pelo Grão Mestre, do Grande Oriente do estado do Paraná, João Darcy Ruggeri.
No final da década de 90, Lulu Augusto é homenageada pelo Conselho da Mulher Executiva de Porto União e União da Vitória, laureada reconhecida como mulher fazedora da história.
Em 26 de agosto de 2005, Lulu Augusto recebe o título de Irmã Honorária da Academia de Cultura do Paraná.
Durante a década de 70, Lulu Augusto mantém a publicação da revista Em Voga.
Na segunda metade da década de 80, Lulu Augusto ao lado de Delbrai Augusto Sá e Tereza Vitória Ruski, funda a revista Atual.
Em 1997, Lulu Augusto cria com Sulamita da Costa, a revista Perfil.
Também nos anos 90, Lulu Augusto em parceria com a publicitária Janice da Penha Augusto Rost, criaria a agência de publicidade e propaganda, Skema Publicidade.
No final dos anos 90, Lulu Augusto, lançaria pelo Jornal Caiçara uma coleção de livros denominada Grandes Clássicos da Literatura Mundial, que objetivava incentivar a leitura e era uma parceria com a tradicional Livraria do Chaim, de Curitiba.
Lulu Augusto faleceu em 13 de março de 2016, dirigindo o Jornal Caiçara até os últimos dias de sua vida, deixando um vasto legado de coragem, persistência e criatividade, ousando como mulher e solteira, criar um órgão de comunicação em uma época ainda mais dominada pelo conservadorismo e pelo patriarcalismo, muitas vezes desafiando poderosos de plantão, aos quais jamais se curvou.
Feminista convicta, desde sempre, defendeu a igualdade de gênero, exortando as mulheres que propugnavam por esta causa e repudiando peremptoriamente toda e qualquer manifestação misógina.
Religiosa que era, dizia que apenas se ajoelhava diante de Deus.
Em 2018, em homenagem prestada pela Associação de Artistas Plásticos Amadeu Bona, Lulu foi retratada pela artista plástica, Beatriz Bolbuck.
Em 2019, em obra denominada Mulheres Fazedoras, publicada pela Editora Life, organizada por Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski e Silvia Regina Delong, a jornalista é enfocada em artigo de autoria de Elaine Schmitt e Karina JanzWoitowicz, cujo título é Lulu Augusto e o Jornal Caiçara: Protagonismo feminino no jornalismo do interior paranaense.
Em 21 de fevereiro de 2022, o então prefeito, Bachir Abbas, sancionou a Lei que denomina de Travessa Jornalista Lulu Augusto a via pública que une União da Vitória a Porto União.
A Lei de nº 4986/2021, de 30 de novembro do mesmo ano, foi um projeto do Executivo, sendo, unanimemente, aprovada pelo Legislativo Municipal.
Oportuno ressaltar que em Porto União, o então prefeito, Eliseu Mibach, sancionou em 28 de outubro de 2021, a Lei nº 4766/2021, que também denomina o lado catarinense da mesma via, de Jornalista Lulu Augusto, em projeto/Lei de autoria do vereador Luiz Alberto Pasqualin.
Como nosso fiel leitor pôde observar e conforme o título desse texto, a vida da jornalista, minha querida tia Lulu, está indissociavelmente, ligada a trajetória do Jornal Caiçara, que neste 21 de maio de 2025, se despede de seus leitores, com a firme certeza de que fizemos um jornalismo único, vanguardista e corajoso.
Paramos por aqui, mas seguiremos pelo resto de nossos dias a reverenciar a memória de Lulu Augusto, que um dia sonhou em fazer um jornal e o fez por 71 anos, 9 meses e9 dias.
Obrigado tia Lulu por um dia ter me permitido fazer parte de Caiçara. Minha primeira coluna foi publicada em 6 de agosto de 1977, portanto há mais de 47 anos. Obrigado tia Lulu pelos ensinamentos e lições de vida que me ajudaram a ser quem eu sou.
BREVES HISTÓRIAS
Uma estrela a mais no firmamento

O polêmico, controverso e competentíssimo professor de Educação Física, treinador e um dos maiores formadores de atletas dos estados, de Santa Catarina e Paraná, Jorge Sérgio Schwartz, faleceu no dia 4 de janeiro de 2025, consternando as cidades irmãs.
Jorge por mais de 40 anos emprestou seu talento e sua pena afiada como uma navalha às páginas de Caiçara, onde assinou sua coluna Sem Censura.
Em 2020, Jorge trocaria as páginas de Caiçara, mediante divergências ideológicas, pelas páginas do Jornal O Iguassu, de propriedade de meu amigo, Claudio Gugelmin.
A última vez que vi Jorge, foi durante a projeção do filme Ainda estou aqui, em dezembro de 2024, no Cine Gracher, em Porto União
Ao término do filme, quando subiam os créditos, puxei os aplausos e ainda gritei: Ditadura nunca mais. Jorge que estava perto de nós, também se incorporou aos aplausos.
Esse meu caro amigo deixa uma lacuna impreenchível nos meios esportivos e jornalísticos regionais e estaduais e por que não nacionais, porque elevou quase ao máximo o nome de Porto União no cenário do Basquetebol feminino brasileiro
Em meu livro de crônicas, Meus caros amigos, publicado em 2014, escrevi uma crônica em homenagem a Jorge e que transcrevo a seguir, prestando, dessa forma, minha última homenagem ao amigo e endereçando, minhas condolências a seus familiares.
Um fim de tarde ao som de Travessia
Na manhã de terça-feira, 13 de outubro, enquanto trabalhava, ouvia algumas canções armazenadas na memória de meu micro e eis que me deparo com “Bridges”, com Sarah Vaughan e Milton Nascimento. “Bridges” nada mais é que a versão em inglês da magnífica “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que compôs um belíssimo disco da inigualável Sarah Vaughan em homenagem à música popular brasileira
Sempre achei “Travessia” uma das mais belas canções brasileiras e ainda garoto, na época dos festivais, fiquei pra lá de indignado, quando em 1967 ela foi derrotada no II Festival Internacional da Canção Popular, por “Margarida”, de Gutemberg Guarabira, também uma bela canção, mas muito aquém de “Travessia”.
Essa versão com Saraha Vaughan a que me refiro ouvi na casa de meu dileto amigo, Orleans Antunes de Oliveira Filho, a quem já dediquei uma de minhas crônicas e a quem recentemente homenageei, oferecendo a canção “What´s new”, um dos mais belos standards da canção americana, quando aqui estiveram se apresentando no Bistrô da Cultura, Saul Trumpet, Fernando Montanari e Gerson Bientine
Como “Bridges”, também ouvi pela primeira vez na casa de Orleans a versão de “What’s new”, na voz da cantora de country music, Linda Ronstadt, que gravou um disco com algumas das mais belas torch songs da canção americana, tendo ao seu lado a fantástica orquestra de Nelson Riddle, que por muitos anos acompanhou Frank Sinatra.
Mas voltando à manhã de 13 de outubro e à “Travessia”, um de seus mais belos registros me foi propiciado por meu amigo Jorge Sérgio Schwartz
No final de 1993, alguns dias após o término de meu primeiro casamento eu estava em minha casa em um fim de tarde de verão, limpando a piscina, ouvindo música e tomando um scotch, quando ouço um carro entrar na garagem. Nem fui ver quem era pois eu já deixava a porta da garagem aberta naquela hora do dia em que sempre recebia amigos para um happy hour
Ouço uma música e vou ver de que se trata. Encontro Jorge Sérgio Schwartz com seu indefectível acordeão em punho, adentrando em minha casa e tocando “Travessia” que, com sua emblemática letra, dizia muito naquele momento de minha vida.
Jorge foi sem dúvida o autor de uma das mais belas e inesperadas homenagens que recebi ao longo de minha vida
Tomamos o litro de Chivas que ali estava acompanhado por uns canapés, esperando a chegada de alguns outros amigos que vinham para a sessão diária de bate-papo
Diante de tudo isso e da data, 13 de outubro, um dia após o aniversário de meu amigo Jorge, procuro, de forma bem menos inspirada, homenageá-lo, dedicando-lhe essa crônica.
Vida longa caro amigo.
BREVES HISTÓRIAS
Ainda estamos aqui

Há mais ou menos duas semanas, fui com Margarete e alguns amigos assistir o belo e pungente, Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr.
Margarete tentou comprar o ingresso pela Internet e por algum bug do site, não conseguiu. Resolvemos no sábado ir até lá e comprarmos os ingressos para a sessão das 17h, de segunda-feira. Chegando lá fomos informados que não é possível comprar ingressos antecipados para outro dia. Acabamos desenvolvendo uma conversa com um rapaz que estava na bilheteria e aproveitei para indagá-lo se os filmes, A substância e Megalopolis, seriam exibidos aqui. A resposta foi não, o que motivou a fazer nova indagação. Por que aqui, basicamente, somente são exibidos blockbuster, comédias e filmes infantis, não sobrando quase nunca espaço para filmes de temáticas mais reflexivas. Recebemos como resposta que o fato de Porto União possuir apenas três salas, enquanto outras cidades que também tem o Cine Gracher, possuem quatro salas, o que facilita a exibição de filmes como, A substância, por exemplo. Também ficamos sabendo que aqui, tais filmes cumprem más performances de bilheteria e que também é onde o público mais solicita filmes dublados.
Fiquei ainda mais perplexo ao saber que um cidadão retirou de um display do filme, A freira, um crucifixo, alegando que se tratava de propaganda ofensiva a religião católica. Minha perplexidade e indignação aumentou ao saber que uma comitiva de mães foi até o cinema para solicitar a retirada do último Toy story. Em que em certo momento, duas meninas dão as mãos e seguem caminhando. A tal obtusa comitiva, parece que saindo da Idade Média, alegou que tal cena era ofensiva a moral e aos bons costumes e a coisa não parou por aí. Outra comitiva foi solicitar que a nova versão de A arca de Noé, não fosse exibida aqui porque distorcia uma parábola bíblica, trazendo-a para os dias atuais.
Como sou um provocador, aproveitei para dizer que o conservadorismo e a hipocrisia da extrema direita, além de acéfalo, não tem limites.
Mas falemos um pouco de Ainda estou aqui, que narra a obstinada luta da grande brasileira, Eunice Paiva, primeiro para saber o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva, covardemente arrancado de sua casa, em janeiro de 1971, por gorilas militares, sem nenhuma justificativa plausível. Eunice lutou tenazmente com as armas que tinha, até que em 1996, já no governo de Fernando Henrique Cardoso, conseguiu, mesmo sem um corpo, que jamais foi encontrado, finalmente, obter o Atestado de Óbito.
Eunice foi uma das grandes artífices do movimento pela anistia, que em mais uma terrível manobra da ditadura, também anistiou os torturadores e assassinos que agiam em nome do regime covarde e brutal que com a promulgação da Lei de Anistia, contrariou resolução da ONU que determina que crimes contra a humanidade são imprescritíveis.
A Presidente Dilma Roussef, tentou anular a Lei de Anistia e punir os praticantes de atos vis e covardes de tortura. Sua solicitação foi protocolada no STF, que estranhamente a negou, mantendo impunes os torturadores.
Na sessão em que estávamos não havia mais de 20 pessoas, que não pouparam aplausos no final do filme. Eu por minha vez, indignado, não pude deixar de gritar: Ditadura nunca mais.
E para aqueles que se diziam os corajosos e intentaram contra o estado de direito, tentando derrubar um governo legítima e democraticamente constituído e que agora acovardados temendo as prisões que a cada dia se avizinham, lembro, Ainda estamos aqui e não descansaremos até que o último golpista seja, severamente, punido.
Lágrimas
Para o falecimento do velho comunista, professor Ciro Costa, pai de minha querida amiga, Desiré e, do médico, Arthur Costa, ocorrido em 11 de outubro de 2024. Ciro foi mais uma vítima da sanha ignóbil da ditadura militar. Foi preso em 1969, condenado a um ano de prisão e teve seus direitos políticos cassados, apenas por que havia sido no início dos anos 60, um dos fundadores do PCB – Partido Comunista Brasileiro em União da Vitória. Cumpriu sua pena inicialmente em Curitiba e, posteriormente, aqui em Porto União.
Esse foi mais um ato vergonhoso praticado por um regime de exceção, que ainda é saudado por brasileiros desprovidos de consciência histórica, de qualquer espécie de compaixão e de tolerância, ao contrário enaltecem personagens nefastos como Bolsonaro, que em seus quatro anos de desgoverno, exaltou o preconceito, a intolerância e a negação da ciência, da arte, da cultura e da educação.
As outras lágrimas vão para o falecimento de minha caríssima amiga Jana Portes, ocorrido em 2 de novembro. Jana é esposa de meu grande amigo Renato Portes, a quem fui abraçar no infausto acontecimento.
Reencontro
Ainda no velório de Jana, fiquei feliz ao reencontrar meu caro amigo, Jonas Godinho, com quem não falava já há algum tempo, motivado por desentendimento que tivemos.
Em 1989, a convite de meu dileto amigo, Carlos Alberto Santos, ingressei no Clube das Terças, onde lá estavam outros caros amigos como, Renato Portes, Márcio Monte, Gilberto Brittes, Cezar Lemos, Ary Carneiro Jr, Brittes Antônio Brittes e Jonas Godinho, entre outros. Logo em seguida, tornei-me sócio do Avahi Futebol Clube, novamente, levado por Carlos Alberto Santos, Renato Portes e Márcio Monte.
Na Festa de Natal do Avahi, em 1993, fiz talvez minha primeira aparição pública com minha então namorada Margarete Schwab, hoje minha esposa.
Como chegamos um pouco atrasados, o salão já estava, praticamente, lotado e ao darmos os primeiros passos em direção à nossa mesa, onde Carlos Santos e sua então esposa, Margarete Pereira Bozza, nos aguardavam, fomos surpreendidos pelos acordes da bela e emblemática, para nós, canção de Ivan Lins e Vitor Martins, Começar de novo, a nós dedicada pelo querido amigo Jonas Godinho.
Nos primeiros dias de 1994, Marga e eu ainda ensaiando os passos iniciais de nossa relação, certa noite após um jantar no Avahi, quando por lá estávamos, já no início da madrugada, apenas eu, Jonas, Eloi Lara, outro grande e antigo amigo, e, Alceu Schwegler, também caro amigo, depois de umas biritas e muita música, tirada nos violões de Jonas, Eloi e Alceu, decidi fazer uma serenata para Marga, que morava na Rua Benjamin Constant, no prédio onde havia funcionado o Correio.
Entramos no corredor que dava acesso à porta principal e mandamos um samba para acordar minha doce namorada. Quando as luzes se acenderam, Jonas e Eloi deram os primeiros acordes de, Eu sei que vou te amar, já com Marga na porta nos recebendo.
Foi uma noite memorável que devo ao talento e sensibilidade de meus caros amigos, Alceu, Eloi e Jonas, que repito, fiquei muito feliz em reencontrar.
