BREVES HISTÓRIAS
Chico e Salmaso nos oferecem show impecável
No final de janeiro passei uns dias em São Paulo, na casa de Nina Rosa e Clarissa.
Cheguei em SP na manhã de 25 de janeiro, quando a cidade completava 469 anos, sendo, portanto, feriado.
Por volta de meio dia, antes do almoço decidi tomar um banho e da janela do banheiro ouvi uma soprano cantar uma ária de La Boheme. Belíssima.
Durante o almoço perguntei às meninas se havia uma cantora de ópera no prédio, pois até então eu nunca a ouvira. Elas me esclareceram que devia tratar-se de uma das atrações artísticas que ocorriam em vários locais da cidade em comemoração ao aniversário desta.
Na noite desta mesma quarta-feira fui jantar sozinho no excelente restaurante Cacilda, que fica ao lado do Teatro Cacilda Becker, há apenas três quarteirões do apartamento de Nina Rosa e Clarissa, na Vila Romana, simpático bairro onde elas moram.
O Restaurante Cacilda além de oferecer um ótimo cardápio, possui uma decoração intimista temperada pela sempre ótima trilha sonora jazzística. Logo ao sentar fui saudado pela genialidade de John Coltrane, vindo a seguir Nina Simone, Bill Evans, Ella Fitzgerald e por aí afora. Formidável.
Na manhã de quinta-feira, 26, eu e Nina Rosa fomos para o Rio de Janeiro, onde assistiríamos naquela mesma noite, no Vivo Rio, o show Que tal um samba, de Chico Buarque e banda, acompanhado pela cantora Mônica Salmaso.
Eu que já havia visto grandes nomes da música popular brasileira, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luiz Melodia, João Bosco, Belchior, João Donato, Flávio Venturini, Sá e Guarabyra, Marisa Monte, MPB 4, Cássia Eller, Simone, Francis Hime, Toquinho, Carlinhos Lyra, Itamara Koorax, Carlinhos Vergueiro entre outros, ainda não havia visto Chico Buarque, para mim o maior letrista do planeta.
Ao chegar no local do show fui tomado por uma enorme emoção e não me cansava de repetir para Nina Rosa, finalmente o Chico.
Eu estava curioso em saber quantas das minhas canções preferidas fariam parte do repertório do show. Foram muitas. A noite foi aberta pela ótima Salmaso interpretando Os saltimbancos. Em seguida veio uma de minhas canções favoritas, a belíssima Beatriz, de Chico e Edu Lobo, ainda só com Salmaso. Mais umas duas canções Chico entra em cena, a plateia vem abaixo com intermináveis aplausos.
Ali pelo meio do show, Chico e Mônica mandam mais uma de minhas favoritas, Sem fantasia. Muita emoção e aí derramo minhas primeiras lágrimas.
Logo a seguir vem outra de minhas eleitas para o top 10 das canções de Chico, Futuros amantes.
Com o show já se encaminhando para o final, Chico manda a poderosa, Caravanas, música que dá nome ao seu último álbum. A pungente letra que rememora o Chico mais político e contestador, levanta o público que se comove ainda mais quando ele engata o refrão de Deus lhe pague, ao final de Caravanas. Neste momento, o público já em êxtase começa a gritar, sem anistia, com todo mundo já em pé e com os punhos cerrados, até que alguém começa a cantar, OLê, olê, olá, Lula lá. O público em uníssono, canta por cerca de 5 minutos. Logo em seguida todo mundo senta e a dupla canta mais umas duas e encerra o show, deixando o palco. Os aplausos se sucedem intermináveis até que eles voltem. Chico então canta a bela, Maninha, música composta em homenagem a sua irmã Miúcha, que morreu em 27 de dezembro de 2018.
A apresentação se encerra com João e Maria, nova e derradeira catarse, com o público, claramente, aludindo aos recentes anos sombrios que vivemos e como diz a música, parecia não ter mais fim, mas também conforme a letra da magnífica canção, agora não temos mais medo, pois e após a vitória de Lula, as sombras deram lugar ao sol e a absoluta certeza de dias melhores, sem ameaças à democracia, com tolerância e muito mais perspectivas de mais justiça e menos desigualdade.
Já de volta a São Paulo, em meu último dia na capital dos paulistas fui com Nina Rosa até a Livraria Martins Fontes, na Avenida Paulista. A Martins Fontes ocupa hoje o lugar que um dia foi da Livraria Cultura que estava em recuperação judicial e segundo li na Folha de São Paulo, por ter descumprido algumas cláusulas de tal processo teve sua falência determinada, que após alguns dias foi suspensa mediante uma liminar.
Coincidência ou não, após seu proprietário ter se declarado apoiador de Bolsonaro, a qualidade da livraria Cultura caiu muito e uma de suas marcas registradas, atendentes muito preparados e conhecedores de literatura, foi paulatinamente desaparecendo. Na última vez que lá estive, em julho de 2022, fui atendido por um rapaz, totalmente, despreparado, sem o mínimo conhecimento sequer dos autores mais conhecidos. Lamentável e entristecedor.
Na Martins Fontes, ao contrário, fui atendido por uma jovem de nome Heloisa e à medida que eu procurava este ou aquele autor, ela não somente demonstrava conhecê-los, como já os havia lido ou estava lendo e ainda me recomendou que olhasse o segundo andar onde havia livros com até 80% de desconto. Recomendo e muito a Martins Fontes, que Nina Rosa já me havia sugerido em julho do ano passado, quando eu lhe contara o lastimável estado da Livraria Cultura.
Johnny Rivers e Pato Branco
Dos meus 12 aos 15 anos eu e minha mãe passávamos o Natal em Pato Branco onde moravam meus tios Lamartine e Nely e minhas cinco primas, Jane, Carmem, Rita, Graça e Lenita.
Eu cresci ouvindo música, fosse em uma antiga radiola, em uma vitrola portátil, que meu primo Zeco, então comandante da Vasp, trouxe dos Estados Unidos. Além de ouvir música em casa eu também ouvia na Rádio União, que na época era gerenciada por tia Lulu.
Meus primeiros compactos datam de 1971 e eu ainda os tenho. Mas foi em 1972, com o dinheiro que recebia de tia Lulu por fazer cobranças de assinaturas do Jornal Caiçara, que ampliei, definitivamente, minha discoteca, comprando meus primeiros Lps.
Mas voltando a Pato Branco, foi lá que, ainda no final dos anos 60, conheci coisas como Johnny Rivers, Gary Lewis & The Playboys, The Archies, The Marmalade entre outros, nos compactos de minha prima Jane.
Foi em Pato Branco, portanto, que ouvi pela primeira vez algumas das mais belas canções de Johnny Rivers, como By the time I get to Phoenix, Do you want to dance, The shadow of your smile e Califórnia dreamin, todas do seminal álbum, Changes, de 1967. De Gary Lewis & The Playboys é a bela balada, Sealed with a kiss, também de 1967, e, que minha mãe gostava muito e Jane por esse motivo, acabou me dando o compacto, que tenho até hoje.
Também foi em Pato Branco que ouvi pela primeira vez a magnífica, F come femme, de Salvatore Adamo e que era tema do casal protagonista da novela Beto Rockefeler, de Dias Gomes, exibida no final dos anos 60, pela extinta Rede Tupi de Televisão. Também foi em PB que ouvi pela primeira vez, Je t’aime moi non plus, de Serge Gainsbourg, com o próprio autor e com Jane Birkin, então sua mulher e musa. O disco é de 1969 e sua venda e radiodifusão foi proibida no Brasil logo após seu lançamento, com os discos remanescentes sendo retirados das lojas. Com o endurecimento da ditadura após a edição do AI 5, em 13 de dezembro de 1968 a censura caiu ainda mais pesada sobre a arte, com a proibição de não apenas filmes, peças de teatro, livros e música que continham crítica social ou política, como em tudo que o conservadorismo obtuso e anacrônico dos generais e suas mulheres que passaram a interferir naquilo que segundo elas afrontava a moral e os bons costumes. Essa insanidade, recentemente, adotada por Bolsonaro, Deus, pátria e família, remonta ao Estado Novo, implantado pelo tirano Getúlio Vargas de 1937 a 1945, e que foi copiada do fascismo de Benito Mussolini e que voltaria com força nos anos de chumbo da ditadura militar, cuja longa noite de trevas duraria de 1964 a 1985.
Após o disco do casal francês ter sido retirado das lojas e proibido de tocar nas rádios, o jornal O Pasquim, em mais uma de suas grandes sacadas, lançou o compacto contendo Je t’aime moi non plus, no lado A e Jane B, com letra de Gainsbourg colocada na maravilhosa Prelúdio número 4 em mi menor, de Chopin.
O jornal circulou e com ele o disco, numa genial sacada que driblou a censura. Claro que tanto a edição do jornal, como o disco, foram retirados das bancas, mas mesmo assim Jane comprou o jornal e tinha o disco. Os milicos podiam retirá-lo das bancas, mas era impossível confiscá-lo de quem o havia comprado.
Foi também em Pato Branco que ouvi pela primeira a banda Barrabas, no emblemático álbum onde está Woman. Tanto o Barrabas, como o Black Sabbath me foram apresentados por outra de minhas primas, Rita de Cássia, que logo em seguida se renderia a Música Popular Brasileira.
Mas isso é conversa para outro dia. Até lá.
De qualquer forma sou, eternamente, grato a tia Lulu e às minhas primas Jane e Rita, que contribuíram, efetivamente, para o meu amor pela música.
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BREVES HISTÓRIAS
Vida de Lulu Augusto e Caiçara são indissociáveis

Em nossa derradeira edição não poderíamos deixar de mencionar a trajetória de vida de Lulu Augusto, que se confunde e se amalgama com a trajetória do Jornal Caiçara por ela criado em 1953.
Lulu Augusto, nasceu em 15 de março de 1930, em União da Vitória, Paraná. Filha de Maria Joana Linhares Augusto e Didio Augusto.
Cresceu na Rua Barão do Cerro Azul, em três diferentes endereços.
Em 1949, com apenas 19 anos, passou a residir em Curitiba, onde ao lado da amiga, Maria Alba Mendes da Silva, fundou o jornal literário Jandaia.
No início de 1953, retornou a União da Vitória, embora ainda mantivesse até meados de 1954, em Curitiba, a publicação do Jandaia.
Em meados de 1953, no intuito de continuar as denúncias contra os algozes da menina Zilda Santos,
vítima de brutal assassinato, escreveu a radionovela, O Crime do Iguaçu, levada ao ar pelos microfones da Rádio União.
Com isso, Lulu dava continuidade às denúncias de impunidade do hediondo crime, iniciadas por seu irmão, Dante de Jesus Augusto, em seu programa matinal, Bom Dia para Você, também na Rádio União.
Ao aproximar-se o derradeiro capítulo da novela, era anunciado nos microfones da Rádio União, que no último capítulo, seriam revelados os nomes verdadeiros dos assassinos da menina Zilda.
Numa época de impunidade ainda maior que a de hoje, quando marginais ricos e poderosos silenciavam a justiça, o último capítulo foi proibido de ir ao ar e Lulu e os atores, assim como diretores da rádio ameaçados de prisão, caso insistissem em levar ao ar o derradeiro capítulo.
Temendo pela prisão de Lulu Augusto e dos membros do elenco da novela, inúmeras meretrizes da Rua Cruzeiro, em Porto União, endereço do lupanar onde Zilda foi seviciada e assassinada, postaram-se em frente a emissora, em um cordão humano para proteger Lulu e seus acólitos.
O capítulo não foi ao ar, motivando Didio Augusto, pai de Lulu, que na época era colaborador do jornal O Comércio, tentar publicar no supracitado hebdomadário, o último capítulo da novela. O jornal O Comércio, temendo represálias judiciais decidiu não fazer a publicação. Indignado, Didio Augusto declarou que fundaria um jornal nem que este tivesse apenas um número, para denunciar os algozes de Zilda.
Ao chegar em casa Didio disse que iria fundar um jornal, ideia, imediatamente, acolhida por Lulu, que em 12 de agosto de 1953, fundaria o Jornal Caiçara, hoje com quase 72 anos de idade, e, não apenas com um único número, mas chegando agora ao número 2621.
Na segunda metade dos anos 60, Lulu, ao lado da professora Arlete Bordin, fundaria o Centro de Letras Didio Augusto, confraria que reunia escritores e intelectuais para discutir e refletir a literatura e a arte em geral.
Lulu além jornalista era poeta de rara sensibilidade, exímia cronista da cotidianidade, além, de ser talentosa desenhista.
No início dos anos 60, Lulu gerenciou a Rádio Colmeia, onde passaria de agitadora cultural a espécie de promoter, iniciando tal atividade com a promoção de um show humorístico, com o cantor e menestrel, Juca Chaves, na época o enfant terrible da sátira e da paródia.
Logo em seguida Lulu retornaria à Rádio União, gerenciando a emissora até o começo da década seguinte.
Foi nos microfones da União que Lulu criaria dois quadros que se tornariam célebres no radialismo local, as crônicas diárias, Falando francamente e posteriormente, A vida em espiral.
Foi também nessa época que Lulu promoveria em União da Vitória o concurso de beleza Glamour Girl e traria para as cidades irmãs os cantores Wanderley Cardoso, JerryAdriani e Martinha, todos no auge da popularidade, surfando nas ondas da Jovem Guarda.
Em 1975, Lulu Augusto, fundaria Caiçara Gráfica e Editora Ltda., tendo como sócios Sulamita da Costa, Gilberto Francisco Brittes e Gilberto Abrão. Mais tarde, Lulu compraria as partes de Gilberto Brittes e Gilberto Abrão. Em 1986, Delbrai Augusto Sá compraria a parte de Sulamita da Costa e seguiria como sócio de Lulu até 1994, quando a impressão do Jornal Caiçara seria terceirizada e a Gráfica Caiçara encerraria suas atividades. Em 1998 foi criado o Jornal Caiçara online.
No final da década de 70, Lulu conclui o curso de técnica jornalística, na União dos Profissionais de Imprensa do Rio de Janeiro.
Em 24 de novembro de 1994, Lulu Augusto recebe em Curitiba uma Medalha de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à Ordem e à comunidade, outorgada pelo Grão Mestre, do Grande Oriente do estado do Paraná, João Darcy Ruggeri.
No final da década de 90, Lulu Augusto é homenageada pelo Conselho da Mulher Executiva de Porto União e União da Vitória, laureada reconhecida como mulher fazedora da história.
Em 26 de agosto de 2005, Lulu Augusto recebe o título de Irmã Honorária da Academia de Cultura do Paraná.
Durante a década de 70, Lulu Augusto mantém a publicação da revista Em Voga.
Na segunda metade da década de 80, Lulu Augusto ao lado de Delbrai Augusto Sá e Tereza Vitória Ruski, funda a revista Atual.
Em 1997, Lulu Augusto cria com Sulamita da Costa, a revista Perfil.
Também nos anos 90, Lulu Augusto em parceria com a publicitária Janice da Penha Augusto Rost, criaria a agência de publicidade e propaganda, Skema Publicidade.
No final dos anos 90, Lulu Augusto, lançaria pelo Jornal Caiçara uma coleção de livros denominada Grandes Clássicos da Literatura Mundial, que objetivava incentivar a leitura e era uma parceria com a tradicional Livraria do Chaim, de Curitiba.
Lulu Augusto faleceu em 13 de março de 2016, dirigindo o Jornal Caiçara até os últimos dias de sua vida, deixando um vasto legado de coragem, persistência e criatividade, ousando como mulher e solteira, criar um órgão de comunicação em uma época ainda mais dominada pelo conservadorismo e pelo patriarcalismo, muitas vezes desafiando poderosos de plantão, aos quais jamais se curvou.
Feminista convicta, desde sempre, defendeu a igualdade de gênero, exortando as mulheres que propugnavam por esta causa e repudiando peremptoriamente toda e qualquer manifestação misógina.
Religiosa que era, dizia que apenas se ajoelhava diante de Deus.
Em 2018, em homenagem prestada pela Associação de Artistas Plásticos Amadeu Bona, Lulu foi retratada pela artista plástica, Beatriz Bolbuck.
Em 2019, em obra denominada Mulheres Fazedoras, publicada pela Editora Life, organizada por Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski e Silvia Regina Delong, a jornalista é enfocada em artigo de autoria de Elaine Schmitt e Karina JanzWoitowicz, cujo título é Lulu Augusto e o Jornal Caiçara: Protagonismo feminino no jornalismo do interior paranaense.
Em 21 de fevereiro de 2022, o então prefeito, Bachir Abbas, sancionou a Lei que denomina de Travessa Jornalista Lulu Augusto a via pública que une União da Vitória a Porto União.
A Lei de nº 4986/2021, de 30 de novembro do mesmo ano, foi um projeto do Executivo, sendo, unanimemente, aprovada pelo Legislativo Municipal.
Oportuno ressaltar que em Porto União, o então prefeito, Eliseu Mibach, sancionou em 28 de outubro de 2021, a Lei nº 4766/2021, que também denomina o lado catarinense da mesma via, de Jornalista Lulu Augusto, em projeto/Lei de autoria do vereador Luiz Alberto Pasqualin.
Como nosso fiel leitor pôde observar e conforme o título desse texto, a vida da jornalista, minha querida tia Lulu, está indissociavelmente, ligada a trajetória do Jornal Caiçara, que neste 21 de maio de 2025, se despede de seus leitores, com a firme certeza de que fizemos um jornalismo único, vanguardista e corajoso.
Paramos por aqui, mas seguiremos pelo resto de nossos dias a reverenciar a memória de Lulu Augusto, que um dia sonhou em fazer um jornal e o fez por 71 anos, 9 meses e9 dias.
Obrigado tia Lulu por um dia ter me permitido fazer parte de Caiçara. Minha primeira coluna foi publicada em 6 de agosto de 1977, portanto há mais de 47 anos. Obrigado tia Lulu pelos ensinamentos e lições de vida que me ajudaram a ser quem eu sou.
BREVES HISTÓRIAS
Uma estrela a mais no firmamento

O polêmico, controverso e competentíssimo professor de Educação Física, treinador e um dos maiores formadores de atletas dos estados, de Santa Catarina e Paraná, Jorge Sérgio Schwartz, faleceu no dia 4 de janeiro de 2025, consternando as cidades irmãs.
Jorge por mais de 40 anos emprestou seu talento e sua pena afiada como uma navalha às páginas de Caiçara, onde assinou sua coluna Sem Censura.
Em 2020, Jorge trocaria as páginas de Caiçara, mediante divergências ideológicas, pelas páginas do Jornal O Iguassu, de propriedade de meu amigo, Claudio Gugelmin.
A última vez que vi Jorge, foi durante a projeção do filme Ainda estou aqui, em dezembro de 2024, no Cine Gracher, em Porto União
Ao término do filme, quando subiam os créditos, puxei os aplausos e ainda gritei: Ditadura nunca mais. Jorge que estava perto de nós, também se incorporou aos aplausos.
Esse meu caro amigo deixa uma lacuna impreenchível nos meios esportivos e jornalísticos regionais e estaduais e por que não nacionais, porque elevou quase ao máximo o nome de Porto União no cenário do Basquetebol feminino brasileiro
Em meu livro de crônicas, Meus caros amigos, publicado em 2014, escrevi uma crônica em homenagem a Jorge e que transcrevo a seguir, prestando, dessa forma, minha última homenagem ao amigo e endereçando, minhas condolências a seus familiares.
Um fim de tarde ao som de Travessia
Na manhã de terça-feira, 13 de outubro, enquanto trabalhava, ouvia algumas canções armazenadas na memória de meu micro e eis que me deparo com “Bridges”, com Sarah Vaughan e Milton Nascimento. “Bridges” nada mais é que a versão em inglês da magnífica “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que compôs um belíssimo disco da inigualável Sarah Vaughan em homenagem à música popular brasileira
Sempre achei “Travessia” uma das mais belas canções brasileiras e ainda garoto, na época dos festivais, fiquei pra lá de indignado, quando em 1967 ela foi derrotada no II Festival Internacional da Canção Popular, por “Margarida”, de Gutemberg Guarabira, também uma bela canção, mas muito aquém de “Travessia”.
Essa versão com Saraha Vaughan a que me refiro ouvi na casa de meu dileto amigo, Orleans Antunes de Oliveira Filho, a quem já dediquei uma de minhas crônicas e a quem recentemente homenageei, oferecendo a canção “What´s new”, um dos mais belos standards da canção americana, quando aqui estiveram se apresentando no Bistrô da Cultura, Saul Trumpet, Fernando Montanari e Gerson Bientine
Como “Bridges”, também ouvi pela primeira vez na casa de Orleans a versão de “What’s new”, na voz da cantora de country music, Linda Ronstadt, que gravou um disco com algumas das mais belas torch songs da canção americana, tendo ao seu lado a fantástica orquestra de Nelson Riddle, que por muitos anos acompanhou Frank Sinatra.
Mas voltando à manhã de 13 de outubro e à “Travessia”, um de seus mais belos registros me foi propiciado por meu amigo Jorge Sérgio Schwartz
No final de 1993, alguns dias após o término de meu primeiro casamento eu estava em minha casa em um fim de tarde de verão, limpando a piscina, ouvindo música e tomando um scotch, quando ouço um carro entrar na garagem. Nem fui ver quem era pois eu já deixava a porta da garagem aberta naquela hora do dia em que sempre recebia amigos para um happy hour
Ouço uma música e vou ver de que se trata. Encontro Jorge Sérgio Schwartz com seu indefectível acordeão em punho, adentrando em minha casa e tocando “Travessia” que, com sua emblemática letra, dizia muito naquele momento de minha vida.
Jorge foi sem dúvida o autor de uma das mais belas e inesperadas homenagens que recebi ao longo de minha vida
Tomamos o litro de Chivas que ali estava acompanhado por uns canapés, esperando a chegada de alguns outros amigos que vinham para a sessão diária de bate-papo
Diante de tudo isso e da data, 13 de outubro, um dia após o aniversário de meu amigo Jorge, procuro, de forma bem menos inspirada, homenageá-lo, dedicando-lhe essa crônica.
Vida longa caro amigo.
BREVES HISTÓRIAS
Ainda estamos aqui

Há mais ou menos duas semanas, fui com Margarete e alguns amigos assistir o belo e pungente, Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr.
Margarete tentou comprar o ingresso pela Internet e por algum bug do site, não conseguiu. Resolvemos no sábado ir até lá e comprarmos os ingressos para a sessão das 17h, de segunda-feira. Chegando lá fomos informados que não é possível comprar ingressos antecipados para outro dia. Acabamos desenvolvendo uma conversa com um rapaz que estava na bilheteria e aproveitei para indagá-lo se os filmes, A substância e Megalopolis, seriam exibidos aqui. A resposta foi não, o que motivou a fazer nova indagação. Por que aqui, basicamente, somente são exibidos blockbuster, comédias e filmes infantis, não sobrando quase nunca espaço para filmes de temáticas mais reflexivas. Recebemos como resposta que o fato de Porto União possuir apenas três salas, enquanto outras cidades que também tem o Cine Gracher, possuem quatro salas, o que facilita a exibição de filmes como, A substância, por exemplo. Também ficamos sabendo que aqui, tais filmes cumprem más performances de bilheteria e que também é onde o público mais solicita filmes dublados.
Fiquei ainda mais perplexo ao saber que um cidadão retirou de um display do filme, A freira, um crucifixo, alegando que se tratava de propaganda ofensiva a religião católica. Minha perplexidade e indignação aumentou ao saber que uma comitiva de mães foi até o cinema para solicitar a retirada do último Toy story. Em que em certo momento, duas meninas dão as mãos e seguem caminhando. A tal obtusa comitiva, parece que saindo da Idade Média, alegou que tal cena era ofensiva a moral e aos bons costumes e a coisa não parou por aí. Outra comitiva foi solicitar que a nova versão de A arca de Noé, não fosse exibida aqui porque distorcia uma parábola bíblica, trazendo-a para os dias atuais.
Como sou um provocador, aproveitei para dizer que o conservadorismo e a hipocrisia da extrema direita, além de acéfalo, não tem limites.
Mas falemos um pouco de Ainda estou aqui, que narra a obstinada luta da grande brasileira, Eunice Paiva, primeiro para saber o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva, covardemente arrancado de sua casa, em janeiro de 1971, por gorilas militares, sem nenhuma justificativa plausível. Eunice lutou tenazmente com as armas que tinha, até que em 1996, já no governo de Fernando Henrique Cardoso, conseguiu, mesmo sem um corpo, que jamais foi encontrado, finalmente, obter o Atestado de Óbito.
Eunice foi uma das grandes artífices do movimento pela anistia, que em mais uma terrível manobra da ditadura, também anistiou os torturadores e assassinos que agiam em nome do regime covarde e brutal que com a promulgação da Lei de Anistia, contrariou resolução da ONU que determina que crimes contra a humanidade são imprescritíveis.
A Presidente Dilma Roussef, tentou anular a Lei de Anistia e punir os praticantes de atos vis e covardes de tortura. Sua solicitação foi protocolada no STF, que estranhamente a negou, mantendo impunes os torturadores.
Na sessão em que estávamos não havia mais de 20 pessoas, que não pouparam aplausos no final do filme. Eu por minha vez, indignado, não pude deixar de gritar: Ditadura nunca mais.
E para aqueles que se diziam os corajosos e intentaram contra o estado de direito, tentando derrubar um governo legítima e democraticamente constituído e que agora acovardados temendo as prisões que a cada dia se avizinham, lembro, Ainda estamos aqui e não descansaremos até que o último golpista seja, severamente, punido.
Lágrimas
Para o falecimento do velho comunista, professor Ciro Costa, pai de minha querida amiga, Desiré e, do médico, Arthur Costa, ocorrido em 11 de outubro de 2024. Ciro foi mais uma vítima da sanha ignóbil da ditadura militar. Foi preso em 1969, condenado a um ano de prisão e teve seus direitos políticos cassados, apenas por que havia sido no início dos anos 60, um dos fundadores do PCB – Partido Comunista Brasileiro em União da Vitória. Cumpriu sua pena inicialmente em Curitiba e, posteriormente, aqui em Porto União.
Esse foi mais um ato vergonhoso praticado por um regime de exceção, que ainda é saudado por brasileiros desprovidos de consciência histórica, de qualquer espécie de compaixão e de tolerância, ao contrário enaltecem personagens nefastos como Bolsonaro, que em seus quatro anos de desgoverno, exaltou o preconceito, a intolerância e a negação da ciência, da arte, da cultura e da educação.
As outras lágrimas vão para o falecimento de minha caríssima amiga Jana Portes, ocorrido em 2 de novembro. Jana é esposa de meu grande amigo Renato Portes, a quem fui abraçar no infausto acontecimento.
Reencontro
Ainda no velório de Jana, fiquei feliz ao reencontrar meu caro amigo, Jonas Godinho, com quem não falava já há algum tempo, motivado por desentendimento que tivemos.
Em 1989, a convite de meu dileto amigo, Carlos Alberto Santos, ingressei no Clube das Terças, onde lá estavam outros caros amigos como, Renato Portes, Márcio Monte, Gilberto Brittes, Cezar Lemos, Ary Carneiro Jr, Brittes Antônio Brittes e Jonas Godinho, entre outros. Logo em seguida, tornei-me sócio do Avahi Futebol Clube, novamente, levado por Carlos Alberto Santos, Renato Portes e Márcio Monte.
Na Festa de Natal do Avahi, em 1993, fiz talvez minha primeira aparição pública com minha então namorada Margarete Schwab, hoje minha esposa.
Como chegamos um pouco atrasados, o salão já estava, praticamente, lotado e ao darmos os primeiros passos em direção à nossa mesa, onde Carlos Santos e sua então esposa, Margarete Pereira Bozza, nos aguardavam, fomos surpreendidos pelos acordes da bela e emblemática, para nós, canção de Ivan Lins e Vitor Martins, Começar de novo, a nós dedicada pelo querido amigo Jonas Godinho.
Nos primeiros dias de 1994, Marga e eu ainda ensaiando os passos iniciais de nossa relação, certa noite após um jantar no Avahi, quando por lá estávamos, já no início da madrugada, apenas eu, Jonas, Eloi Lara, outro grande e antigo amigo, e, Alceu Schwegler, também caro amigo, depois de umas biritas e muita música, tirada nos violões de Jonas, Eloi e Alceu, decidi fazer uma serenata para Marga, que morava na Rua Benjamin Constant, no prédio onde havia funcionado o Correio.
Entramos no corredor que dava acesso à porta principal e mandamos um samba para acordar minha doce namorada. Quando as luzes se acenderam, Jonas e Eloi deram os primeiros acordes de, Eu sei que vou te amar, já com Marga na porta nos recebendo.
Foi uma noite memorável que devo ao talento e sensibilidade de meus caros amigos, Alceu, Eloi e Jonas, que repito, fiquei muito feliz em reencontrar.
