Sempre ouço que lá, ali, ela esteve, eu nunca fui apresentado, pode ser que nunca alguém desejou algo sem conhecer como lhe desejo.
Só queria que ela surgisse em minha porta, e não precisa bater, já e sempre esteve aberta à sua espera.
Hoje, eu sei que ela passou perto, não que eu a vi, mesmo que veja, não reconheço. Ouvi como uma criança escuta a dada hora da brincadeira. Olha, é um garoto, sorridente junto à sua mãe, só eles, afinal é mais um filho sem pai. Os dois comemoravam muito, foi como se ela estivesse passado a pouco naquela casa, estavam felizes.
Ah se nosso encontro ocorresse, estaria saltitando, em êxtase, ou ficaria em silêncio? Não sei como reagir em sua presença. Se ela resolvesse aparecer hoje, eu agarraria e dificilmente iria soltá-la, como um garimpeiro ao encontrar uma pepita.
Mais de anos se passaram e ela não veio ao meu encontro, busquei por todos os cantos, vias, vielas, não a vejo. Me desesperei, estou perdida, abandonada, solta no mundo.
Por mais força que eu faça para manter a esperança de sua chegada, está difícil acreditar que esse encontro aconteça. Como pode não ocorrer, buscam elegância, bons relacionamentos, pessoas interessantes, esse desencontro coloca em dúvida a minha própria pessoa.
Por mais difícil que seja enxergar essas qualidades em mim, vez ou outra, alguém me lembra e eu (rê)vivo, como uma flor ao ser regada num verão impiedoso. Não que o elogio seja meu alimento, talvez um álibi, um frescor, não sei ao certo. Nos últimos dias tem sido difícil acreditar, foram tantas dúvidas em meu decorrer, que não sei mais se sou eu, ou, o que rabiscaram sobre mim.
Estou perdido, e nessas perdas eu derrubei a esperança, não aquele inseto verde e esguio, me alerta Clarisse. Quando dei por mim já havia percorrido um longo trecho, não dava para voltar e pegá-la, a esperança fez parte de meu crescimento, não posso agarrar e criar agora, se perde; se foi; fica a lacuna repleta de ausência.
Aquele rapaz, que também foi mais um filho sem pai, sonhou muito, mas não bastou sonhar, era preciso vir para o real. Nessa vida o encontro não aconteceu com ele, não que seja um caso raro, temos muitos pelo Brasil o CARA PÁLIDA.
O jovem, que hoje é um adulto existe, talvez você nunca tenha enxergado, mas passou, e ao não enxergar, você não conta. Se não absorve, significa que além das oportunidades serem servidas numa bandeja, você não reconhece a ausência, e desconhece a gene do problema.
O adulto? Morreu de fome e frio, não teve oportunidade, quem dirá escolha. Veio sentenciado a morte, a fome, ao frio e ao cansaço.