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BREVES HISTÓRIAS

Nova York é uma festa

Em junho deste ano estive em Nova York, acompanhado de minhas filhas Nina Rosa e Mayara que veio de San Francisco, onde reside, nos encontrar. Organizei a viagem de maneira a passar o Dia dos Pais, que nos EUA é comemorado no terceiro domingo de junho, ao lado de minhas duas filhas. Por conta de um fenômeno climático, que proporcionou o cancelamento de vários voos, acabamos ficando um pouco mais do que o planejado, mas não em NY e sim em San Francisco. Num primeiro olhar e talvez apressado, Nova York parece ser uma cidade cara, afinal uma taça de vinho não sai por menos de 12 dólares. Em Portugal, onde estive com Margarete em março deste ano, uma taça de vinho pode custar apenas 2 dólares. A diferença está no fato de o imposto sobre bebidas alcoólicas ser bastante baixo em Portugal e alto em Nova York. Mas nem tudo é caro na Big Apple, você pode pagar 5 dólares em um hambúrguer, mas também pode pagar 30 dólares. Em locais simples e também em bairros de Manhattan, não tão caros, como o Upper West Side, onde ficava nosso hotel, paguei 6 dólares em um hambúrguer e paguei 29 dólares em um restaurante no Village, onde segundo a crítica especializada, se come um dos melhores hambúrgueres da cidade. Bairros no sul da ilha, como o Village, Soho e Nolito entre outros, são mais caros, mas também, são muito mais bacanas. Mas nem tudo é caro nestes bairros acima mencionados, comemos uma fatia de pizza no Soho, por apenas 4 dólares. A pizza é excelente, o lugar é minúsculo, onde se come em pé, dentro do estabelecimento ou na rua. Essa pequena pizzaria é frequentada por famosos como Leonardo DiCaprio e mais uma legião de artistas de cinema e televisão. Já disse por aqui que detesto a, tal, música sertaneja universitária e nos dias em que estive nos EUA me vi livre dela. No Village, onde está o lendário bar da Blue Note, ouve-se muito jazz e soul music, sendo que este se ouve não apenas em toda mítica ilha, como também no Brooklyn, onde também se ouve muito jazz. No domingo, Dia dos Pais, saímos do hotel por volta de 9h da manhã. Tomamos o metrô em uma das estações do Upper West Side que fica a meia quadra do hotel e descemos na Estação World Trade Center. Mayara que já havia estado em NY, acho que pela sétima vez, já conhecia um aprazível café naquelas imediações. Dali seguimos até a Ponte do Brooklyn, que atravessamos a pé e depois de passearmos pelo parque que fica do outro lado da ponte, decidimos almoçar. Pesquisa dali e de lá optamos por um excelente restaurante italiano no Brooklyn. Dali seguimos para uma sorveteria e depois para o lendário bar Sunken Harbor Club, que imita um navio afundado, onde há até uma performance do barman, avisando que o navio vai zarpar. O bar estava quase lotado e sentamos no balcão. Vale mencionar que a quase totalidade dos bares em que estive em NY, San Francisco e Los Angeles, tem longos balcões e, sempre com confortáveis banquetas. Ali reinava solene a soul music. Em uma outra manhã fomos levados por Mayara e é claro pelo metrô, até o High Lyne Park, que fica em Chelsea. O High Lyne transformou-se em parque após a revitalização de uma antiga e já inoperante estação de trem. Ficou sensacional. Em uma das pontas do parque, já no nível da rua, uma vez que o parque é suspenso, há o excelente mercado gastronômico, Chelsea Market, onde é possível degustar a culinária de diversos países e por preços moderados. Lugar sensacional. O trânsito é muito organizado em NY, especialmente em Manhattan, onde as calçadas são muito largas e totalmente planas, onde um sujeito de visão precária, como eu, pode andar muito tranquilamente. A cidade é totalmente interligada pelo metrô e também é muito fácil andar a pé por ela, totalmente plana. Nosso hotel ficava entre duas grandes avenidas, a Brodway e a Amsterdam. Se saíssemos do hotel e seguíssemos à esquerda, em três quarteirões chegaríamos ao Central Park, sendo que do outro lado do mítico parque está o Upper East Side, onde está o Metropolitan Museum e onde ainda reside Woody Allen, o mais nova-iorquino dos cineastas. Se saíssemos do hotel e seguíssemos à direita, em dois quarteirões, chegaríamos ao Riverside Park. Se seguíssemos pela Broadway em direção ao sul chegaríamos a simpática Washington Square, que é cercada por imóveis pertencentes a NY University e por isso mesmo o local é literalmente tomado por jovens e por muita música, dividida por trios e quartetos de jazz, bandas de rock e de soul. Simplesmente espetacular.

Se atravessarmos a praça, já estamos no Village, que é colado no Soho. Naquela região, que é sem nenhum exagero, a mais bacana de Manhattan, também estão Nolito, Noho, Chinatown, Little Italy e o antigo cais do porto de Manhattan, que antes de sua revitalização era uma região perigosa e hoje é belíssima, com seus magníficos piers.
Mais ao sul da ilha está a região do World Trade Center e ainda mais ao sul,Wall Street.
Ao norte da ilha e ainda em Manhattan, está o Harlem e o Spanish Harlem. Mayara já havia voltado para San Francisco, quando eu e Nina Rosa resolvemos ir almoçar no Harlem. Saímos do hotel que ficava na 94 Street, andamos umas 15 quadras e já estávamos no Harlem. Almoçamos em um restaurante italiano, ouvindo muita soul music.
Depois do Harlem, está o Bronx, onde confesso que tomado por um certo receio, não estive.
Claro que também estivemos na Times Square, onde estão os principais teatros e cinemas da ilha, além de muitas lojas de grife e onde é quase impossível andar, espremido pela multidão. Em um trecho da 5º Avenida também há muitas lojas famosas e caríssimas. No número 150 da 5º Avenida havia uma loja de discos da Blue Note Records. Pesquisamos no Google e descobrimos que a loja foi fechada. E que naquele endereço havia uma loja da New Balance. Não me conformei e fomos até lá e, infelizmente, o Google estava certo.
Para finalizar, não posso deixar de mencionar os museus de arte de Manhattan. Lá estão o Metropolitan Museum, o MoMa e o Guggenheim, para citar apenas os maiores. No Met, o maior de todos, há de tudo, desde arte moderna e contemporânea, até grandes obras do renascimento, além de arte da antiguidade. Nos outros dois há mais arte contemporânea.
Todos são imperdíveis. Nova York é uma festa.

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Não se vencem eleições na véspera

Como nos aproximamos de mais um pleito municipal, lembrei das eleições de União da Vitória em 1988.
Nesse aludido ano fui um dos coordenadores da campanha de meu amigo Gilberto Brittes à Prefeitura Municipal e também atuei na coordenação da campanha para vereador de outro dileto amigo, Mário Patruni.

Gilberto Brittes acabou derrotado por Mário Riesemberg, enquanto Mário Patruni foi eleito vereador pelo PTB, com 396 votos. O PTB também elegeu nesse ano Hussein Bakri e Décio Pacheco.
A bem sucedida campanha de Mário Patruni foi ancorada, primeiramente, no excelente trabalho que ele fazia na direção da empresa Ivo Kerber, propiciando que ela apresentasse sensível crescimento naquele período. O que também contribuiu muito para a eleição de Mário, foi sua notável performance como dirigente esportivo. Mário montou um verdadeiro esquadrão de futebol de salão na empresa Ivo Kerber, que foi campeã paranaense dos Jogos do SESI.
Naquele período, mais ou menos em 86 ou 87, Mário foi candidato à presidência do Clube Aliança, enfrentando a poderosa chapa da situação, encabeçada por Olaf Sohn, sucessor de Antônio Swierk, cujo grupo, há muitos anos dirigia o Clube. Foi uma eleição muito acirrada e Mário perdeu por pequena margem de votos.
Cabe aqui ressaltar que a profícua atuação de Mário como vereador, fez com que ele quase triplicasse sua votação nas eleições de 1992, quando ele chegou próximo dos 800 votos.
Acompanhei de perto a atuação de Mário como vereador e dessa forma ainda lembro de alguns de seus projetos, que foram transformados em importantes Leis, como Vereador por um dia, Disque Câmara e a Fila especial nos bancos para idosos, gestantes e portadores de deficiência.
Mas o título desse breve relato prende-se ao fato de que terminada a apuração dos votos, que era realizada no Ginásio de Esportes Isael Pastuch, com os votos ainda impressos, Mário acabou não sendo eleito, apenas se elegendo pelo PTB, Hussein Bakri, o mais votado daquele pleito, com mais de 1000 votos e Décio Pacheco, com 800 votos.
O candidato Airton Maltauro Filho, que se não me engano, concorreu pelo PDS acabou eleito com essa legenda, ultrapassando o quociente eleitoral, por apenas alguns votos.
Saímos do Ginásio já desolados com a derrota de Gilberto Brittes e ainda mais cabisbaixos com a não eleição de Mário. Como eu era um razoável conhecedor da fórmula pela qual se calcula o quociente eleitoral, assim como o quociente partidário e de posse da votação nominal de todos os candidatos e dos votos atribuídos apenas às legendas, ao chegar em casa resolvi refazer os cálculos e eis que após vários recálculos, observei que o partido pelo qual Maltauro Filho havia concorrido, na verdade não atingira votos suficientes, ficando abaixo do quociente eleitoral.
Fui imediatamente à casa de Mário, com os cálculos nas mãos e disse que precisávamos interpor, imediatamente, um recurso solicitando a recontagem de votos, especificamente, do partido pelo qual concorrera Maltauro Filho.
Fomos até o Distrito de São Cristóvão, onde residia, Wilson da Silva, então presidente do PTB. Expliquei a situação e solicitei papel timbrado do partido, já assinado em branco, para que eu escrevesse o recurso. Fomos para minha casa, escrevi o recurso e levamos em mãos para Walter Ressel, então Juiz eleitoral.
Os votos foram recontados e de fato o partido de Maltauro não havia atingido o número de votos suficientes para a configuração do quociente eleitoral.
Portanto, Maltauro, que já comemorava a vitória no Barril 2001, não foi eleito, sendo eleito Mário Cesar Patruni.
Finalizo voltando ao título desse breve texto, afirmando com todas as letras, que eleição não se vence na véspera e, às vezes, nem no próprio dia.
E ainda existem negacionistas da extrema direita que advogam a volta do voto impresso.
Com o voto digital isso jamais teria acontecido.

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BREVES HISTÓRIAS

O que teria sido de nós?

Li recentemente o livro, A fábrica de cretinos digitais, de autoria do sociólogo francês, Michel Desmurget.
Nas mais de 400 páginas o autor discorre sobre os malefícios do abuso da Internet, principalmente, em crianças e adolescentes. Desmurget comprova, por meio de pesquisas, que pela primeira em várias décadas, essa geração tem um QI menor que o de seus pais.
Nessa mesma premissa, vou começar a ler nos próximos dias, A geração ansiosa – Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, de autoria Jonathan Haidt.
O autor vai na mesma toada de Desmurget e analisa o, suposto, colapso mental da juventude e sugere medidas para uma infância mais saudável e livre de telas.
Embora o assunto seja instigante e perturbador, não me acho abalizado para discuti-lo por aqui, deixando-o ao encargo de minha amiga e também colunista de Caiçara, Maris Stela Stelmachuk, doutora em Psicologia e com anos de experiência.
Dessa forma, meus caríssimos e poucos, mas fiéis leitores, devem estar se perguntando porque abordei o assunto.
Posso explicar. A leitura do primeiro livro aqui mencionado, assim como de artigos e mesmo filmes sobre o assunto, me remeteu a minha adolescência, ou mais especificamente, a meus longínquos 15 anos, quando já disse por aqui, comecei a abandonar a bola de futebol, substituindo-a pelas primeiras paixões juvenis.
Como também já contei aqui nas páginas de Caiçara, minha primeira paixão juvenil foi por uma menina de nome Maristela. Como não tenho autorização dela, por que nunca falei com ela em toda minha vida, embora ela seja moradora de União da Vitória, omito seu sobrenome.
Ela como eu estudava no Túlio de França, acho que uma série depois de mim, embora fosse dois anos mais nova do que eu.
Volto a contar que tanto nos recreios das aulas, como na saída do colégio, nos olhávamos, mutuamente, mas nada de conversarmos. Acho que isso durou alguns meses. Como também já contei por aqui, certo dia, após o término das aulas, eu e Nivaldo Camargo, meu inseparável amigo, subíamos a Manoel Ribas, andando uns 20 metros atrás de Maristela e de Débora, sua também inseparável amiga, de repente elas se viraram e vieram em nossa direção. Apavorados entramos em uma loja, evitando assim o encontro. Não tenho certeza, pois aí já se vão mais de 50 anos, mas acho que foi aí que nosso caso nunca começado, tenha acabado.
Logo depois disso, ou talvez antes disso, eu Nivaldo e Paulo Murara, outro grande amigo, começamos a nos interessar por Rosa, uma linda garotinha que morava próxima de nós. Nenhum dos três teve a coragem de falar com ela, até que, em algum momento de 1973, ela se mudou da cidade.
Logo depois disso, já em 1974, eu ficava fascinado com a garotinha da bicicleta verde, que dava voltas e mais voltas em sua quadra e passava por mim, cada vez mais magnetizado por sua beleza e leveza. Para mim ela não andava em sua bicicleta, mas voava. Era Rossandra Monteiro da Cunha, hoje Codagnone e hoje minha amiga e que me autorizou a declinar seu nome.
Meu primeiro contato, com minha primeira namorada, Sônia Carneiro, foi por meio de um ex-vizinho e então vizinho dela e depois por bilhetes e até por um walkie talkie que eu e meu amigo Edson Mendes, compramos em sociedade. Com o precário alcance do aparelho e como eu já morava aqui na Barão do Cerro Azul e ela no Bairro São Bernardo, deixei o meu rádio com ela, enquanto eu falava com ela da casa de Edson, que era seu vizinho.
Meu querido leitor/leitora ainda deve estar se perguntando o que isso tem a ver com a Internet, que abordo no início dessas mal traçadas linhas?
Tem tudo a ver, ou melhor, como eu teria agido se naquela época, já houvesse telefone celular e redes sociais.
Será que protegido pela distância física eu teria tido coragem de falar com Maristela, Rosa e Rossandra, pelo Whats App ou Facebook?
Boa pergunta, mas impossível de responder. Mas lembrando de como eu era, acho que continuaria sem coragem para um primeiro contato. Acho, por outro lado, que enviaria músicas, esperando receber um sinal qualquer para depois efetivar o contato.
Com Sônia já teria sido diferente, e eu já do alto de meus 16 anos, e muito menos introvertido, teria trocado os radiotransmissores e os indefectíveis bilhetes pelo Whats App.
E você caro leitor/leitora, o que teria feito em situação semelhante a minha?
Até a próxima.

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BREVES HISTÓRIAS

Sutil e delicado

Neste ano de 2024, consegui assistir a todos os filmes concorrentes ao Oscar de melhor filme. Comecei assistindo Oppenheimer. Gosto bastante do trabalho de Christopher Nolan. Gostei do filme, embora o tenha achado convencional demais. Depois assisti Barbie. Apreciei a mensagem de empoderamento das mulheres, mas achei o filme, demasiadamente, juvenil. Já Assassinos da lua das flores, comecei a assistir duas vezes e acabei desistindo. Vou dar mais uma chance, mas confesso que ainda não fui seduzido pela história, embora a saiba pungente e revoltante.
Do diretor Bradley Cooper, eu havia assistido em 2018, Nasce uma estrela e agora com Maestro, que conta a vida de Leonard Bernstein, mas dá pouca importância à sua obra. Erro imperdoável.
Gostei muito de Anatomia de uma queda. Palma de Ouro em Cannes em 2023 e Oscar de melhor roteiro original. Assim como gostei de Os rejeitados, de Alexander Payne. Sou um fã incondicional de Paul Giamatti. Eu torcia por ele na categoria de melhor ator.
Também gostei muito de Ficção americana, cujo surpreendente roteiro adaptado valeu ao filme o Oscar nessa categoria
Mas vamos agora aos meus favoritos. O segundo melhor filme, para mim, foi Pobres criaturas, do grego, Yorgos Lanthimos e que foi o vencedor na categoria de melhor atriz, para Emma Stone, com atuação digna de antologia. O filme ainda levou os Oscars de Direção de Arte, Figurino e cabelo e maquiagem. Todos justíssimos. Pobres criaturas é um filme fantástico que inicia como um épico cômico e vai, gradualmente, evoluindo para uma crítica à supressão da liberdade, os bolsonaristas e os hipócritas conservadores não vão gostar e tampouco entender. Mas o filme segue avançando para uma crítica social da desigualdade e como se não bastasse ainda é, extremamente, feminista, recolocando gradualmente a mulher em seu lugar de destaque. Simplesmente genial.
Mas antes de abordar meu filme favorito, não posso deixar de mencionar o inquietante, denso e candente, Zona de interesse, Oscar de melhor filme internacional
Zona de interesse é um dos melhores filmes sobre o nazismo e expressa com todas as letras, ou melhor com imagens e sons, aquilo que Hanna Arendt chamou de a banalidade do mal. Imperdível.
Vamos então não apenas ao melhor dos concorrentes ao Oscar, como para mim, o melhor filme de 2023, e não apenas isso, um dos melhores filmes dos últimos anos.
Falo sim de Vidas passadas de Celine Song, que se inspirou em sua própria vida de imigrante para compor sua belíssima obra. Vidas passadas, é o filme de estreia da sul coreana, que além de diretora é também a roteirista do filme, que começa com uma cena em um bar onde três pessoas, dois homens e uma mulher conversam.
Aí há um corte e a cena retrocede 24 anos, quando um menino e uma menina caminham conversando. Com maestria, leveza e delicadeza Song vai desvelando a história.
Em certo momento da narrativa a personagem da mãe da protagonista, magnificamente vivida por Greta Lee, diz, em cada escolha que fazemos, ganhamos alguma coisa, mas irremediavelmente, perdemos outra.
O filme fala das escolhas que fazemos e de suas consequências, da reverberação de um primeiro amor, para alguns facilmente esquecido e para outros, como o casal de personagens, ao contrário, reverberando ao longo de suas vidas.
Doze anos após a partida da protagonista, primeiramente, com seus pais para o Canadá e depois para os EUA, eles se reencontram por uma rede social e aquele passado nunca esquecido é revisitado.
Em determinado momento da trama Nora decide interromper o contato com Hae Sung, temendo que o envolvimento deles atrapalhe sua carreira. Logo em seguida, em uma residência artística ela conhece Arthur, personagem interpretado pelo também excelente, John Magaro. Eles namoram e acabam antecipando o casamento para que ela obtenha o green card.
Mais doze anos se passam e o casal se reencontra em Nova Iorque, daí em diante o filme ganha ainda mais em densidade e sutileza, com a câmera os acompanhando de longe e quase sempre com os dois enquadrados em planos separados, denotando com isso a impossibilidade de um relacionamento, mesmo havendo uma profunda conexão entre eles. O distanciamento não é apenas geográfico e como na bela canção de Ivan Lins e Vitor Martins, Lembra de mim, ” perto daqui, mas tarde demais”. O tempo passou eles trilharam outros caminhos e mesmo conectados, parece que não há mais tempo para uma reaproximação, pelo menos nesta vida.
Ao fazermos nossas escolhas, lá na frente não será mais possível saber se elas foram as certas ou não, pois não podemos voltar no tempo e alterá-las.
A cena final, primeiro no restaurante quando o casal conversa em coreano, com o marido de Nora ouvindo, não entendendo e não interferindo, é magnífica e depois, enquanto Hae espera um Uber é de uma beleza poucas vezes vista no cinema.
A música de Stevie Wonder, All in loves fair, nos diz que no amor tudo é possível, nem sempre é assim, pois algumas de nossas decisões e escolhas podem ser irrevogáveis. O tempo terá passado e dificilmente, ou quase nunca, seremos os mesmos, embora certas lembranças nos acompanhem por toda vida.
Vidas passadas não é apenas imperdível, é memorável e é dessas lembranças que nos acompanham eternamente.

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