BREVES HISTÓRIAS
Músicas do acaso II
As músicas que marcam nossas vidas são de diferentes origens. Algumas são escolhidas por nós, para uma serenata, para uma festa, para um momento por nós considerado importante. As outras, originadas pelo mais inextricável dos acasos, parecem nos escolher. É dessas que falarei hoje. Em dezembro de 1973, já bem perto do Natal, eu e minha mãe viajaríamos para Pato Branco, onde passaríamos o Natal ao lado da família de meu tio Lamartine. No dia escolhido por minha mãe para viajarmos, iríamos com o ônibus das 13h e dessa forma almoçamos mais cedo. Por volta do meio dia e meia eu com meu rádio de pilhas em punho esperava em frente à minha casa meu amigo Nivaldo Camargo, para nossas últimas reflexões pré-natalinas. Eu com 15 anos e Nivaldo já com 16, começávamos a discutir temas como liberdade, felicidade, tempo e sobretudo nossas escolhas. Meu pequeno rádio estava sintonizado na Excelsior de São Paulo e o locutor anuncia o mais novo hit de Elton John, Goodbye yellow brick road, do álbum homônimo e que considero o melhor disco do cantor e que neste ano completou 50 anos de lançamento.
A música belíssima me paralisou na hora e viajei com o intuito de dentro da maior brevidade comprar o disco o que somente consegui fazer em janeiro de 1974, em uma viagem que fiz com tia Lulu, ao Rio de Janeiro, onde também compraria outro disco que marcaria minha vida, Stone gon’, de Barry White.
Como tenho boa memória, ainda lembro o local onde nos hospedamos, Hotel Monterey, no Catete. Desde aquela época eu já era um notívago e é claro, havia levado meu rádio. Entre as 23 horas e meia noite eu me sentava na sacada de nosso quarto e sintonizava a Rádio JB para ouvir o programa TAP pelos caminhos do mundo e da meia noite até 1 hora eu ouvia Ritmos de Boate, com o genial Big Boy. E foi exatamente nessa sacada que ouvi pela primeira vez a música Manhãs de setembro, na voz da cantora Vanusa, de quem eu não gostava, mas a letra da referida canção impactou demais meus adolescentes 15 anos.
Preciso fazer um recorte e voltar, não sei exatamente se para o final dos anos 60, ou início dos anos 70. Eu com 11 ou 12 anos começava a me interessar, efetivamente, pela música e após jantar, enquanto minha mãe e tia Dina assistiam a então novela das 8, e, tios René e Lulu já haviam saído para compromissos sociais ou de lazer, eu rumava para a sala da casa onde morava e hoje voltei a morar e onde havia uma velha radiola e muitos discos.
Certa noite descobri o disco, Strangers in the night, de 1966, do maestro e arranjador Bert Kaemperfent. Ainda lembro que repeti a música, título do disco, por 10 vezes e o referido disco ainda está comigo. Alguns anos depois eu ouviria a seminal canção com Frank Sinatra e ficaria ainda mais apaixonado por ela.
Da música Jane B, já falei por aqui, até mais de uma vez, mas não posso deixar de mencioná-la novamente. Trata-se do Prelúdio em Mi Menor, Op. 28 de Chopin, apropriado pelo francês Serge Gainsbourg, que colocou letra na magnífica música para homenagear sua musa e mulher, Jane Birkin. Como já contei por aqui, ouvi a aludida canção em Pato Branco, em 1969, ano de seu lançamento, em compacto de minha prima, Janice da Penha Augusto, e, que havia saído juntamente com uma edição do jornal O Pasquim. Os milicos, no auge da ditadura, após a edição do famigerado AI 5, em 13 de dezembro de 1968, apreendiam e cortavam, tudo considerado contrário ao que eles apregoavam e também, segundo eles, contrários aos bons costumes e ofensivos a moral das famílias brasileiras, ou ainda a tudo aquilo que eles não entendiam e, diga-se, não entendiam quase nada. Resumo da ópera, o jornal foi para as bancas com o compacto de Gainsbourg e Birkin de brinde e quase que imediatamente foi retirado das bancas pelos truculentos fardados, que não contavam que muita gente havia comprado o jornal com o disco antes de sua apreensão. Com 11 anos ouvi maravilhado os sussurros de Birkin em Je T’aime moi non plus, no lado A do compacto e Jane B, no outro lado e que gostei ainda mais.
Fiquei anos sem ouvir a canção, que os fardados haviam se encarregado de proibir a execução pública. Também já contei por aqui que em 1973, eu com 15 anos tinha uma amiga e vizinha, Marisa Salussoglia, com 12 ou 13 anos que de vez em quando, no começo da noite aparecia em minha casa e não sei como descobrira que meu apelido caseiro era Neco e do portão de casa me chamava de Neco Pedreira, personagem da novela O Bem-Amado, do mesmo ano. Marisa vinha com um monte de compactos embaixo do braço, que creio eram de suas irmãs mais velhas, Silvia e Denize. Eu a recebia e levava minha vitrola portátil, que ainda existe e está com minha filha Nina Rosa. Nos sentávamos na garagem de minha casa e ouvíamos os discos que ela trouxera e também os meus. Entre os dela, lá estava a maravilhosa, Jane B.
Com o advento do Napster, o genial e primeiro baixador de músicas pela Internet, achei não apenas Jane B, mas também mais uma infinidade de pérolas perdidas, mas nunca esquecidas. Há cerca de uns 15 anos ganhei de minha caríssima amiga Paola Cazamajou um CD por ela gravado e que continha belas gravações de clássicos da Bossa Nova e do Jazz e lá, mais uma vez estava Jane B, em magnifica gravação de Gerry Mulligan. Mais uma vez o acaso me trazia a canção.
Em janeiro de 1977, fui com tia Lulu para o Guarujá, onde meu primo Zeco tinha um apartamento, que ficava em uma rua lateral ao mar. Era um pequeno prédio, acho que de três andares e o apartamento de meus primos se não me engano ficava no segundo. Bem em frente havia uma casa de aspecto bem praiano, com enormes janelas em sua parte frontal.
Logo no primeiro dia percebi que nessa casa estavam três pessoas, duas garotas e um rapaz. Presumi que a mais velha, uma morena de longos cabelos negros, devia ter uns 18 anos, a mais nova, talvez uns 16 e também era bonita, mas não como a irmã. Finalmente havia o rapaz que imagino ter uns 20 anos. Nesse primeiro dia, no final da tarde, eu de minha sacada as vi chegar em casa. Após uns 20 minutos a garota mais velha saiu pela porta da sala carregando uma caixa de som e a colocou em cima do muro que era baixo, em seguida retornou para dentro da casa e trouxe mais uma caixa acústica e também a colocou em cima do muro, um pouco afastada da primeira. Retornou para o interior da casa e colocou no estéreo de excelente qualidade, a belíssima balada, This time around, do disco, Come taste the band, do Deep Purple. Eu tinha esse disco que é de 1975, e, minha faixa predileta também era, This time around.
A menina repetia a música de umas cinco a dez vezes e todos três que presumia serem irmãos ficavam ali sentados no muro. Fiquei lá por uns 15 dias, e em todo final de tarde a garota repetia o ritual e tocava a mesma música por várias vezes.
Trocávamos longos e lânguidos olhares. Eu esperando que um dia ela me chamasse e imagino que ela esperando que eu descesse até lá, o que nunca fiz. Em uma manhã, percebi que a casa estava toda fechada. Ela havia ido embora e nunca nos falamos e sempre que ouço This time around, lembro daqueles emblemáticos finais de tarde.
Por hoje é só. Em janeiro volto ao assunto, rememorando outras músicas que ao acaso, marcaram minha existência.
A meus poucos, mas caros e fiéis leitores, desejo um feliz Natal e um ótimo 2024!
Até a próxima!
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BREVES HISTÓRIAS
Vida de Lulu Augusto e Caiçara são indissociáveis

Em nossa derradeira edição não poderíamos deixar de mencionar a trajetória de vida de Lulu Augusto, que se confunde e se amalgama com a trajetória do Jornal Caiçara por ela criado em 1953.
Lulu Augusto, nasceu em 15 de março de 1930, em União da Vitória, Paraná. Filha de Maria Joana Linhares Augusto e Didio Augusto.
Cresceu na Rua Barão do Cerro Azul, em três diferentes endereços.
Em 1949, com apenas 19 anos, passou a residir em Curitiba, onde ao lado da amiga, Maria Alba Mendes da Silva, fundou o jornal literário Jandaia.
No início de 1953, retornou a União da Vitória, embora ainda mantivesse até meados de 1954, em Curitiba, a publicação do Jandaia.
Em meados de 1953, no intuito de continuar as denúncias contra os algozes da menina Zilda Santos,
vítima de brutal assassinato, escreveu a radionovela, O Crime do Iguaçu, levada ao ar pelos microfones da Rádio União.
Com isso, Lulu dava continuidade às denúncias de impunidade do hediondo crime, iniciadas por seu irmão, Dante de Jesus Augusto, em seu programa matinal, Bom Dia para Você, também na Rádio União.
Ao aproximar-se o derradeiro capítulo da novela, era anunciado nos microfones da Rádio União, que no último capítulo, seriam revelados os nomes verdadeiros dos assassinos da menina Zilda.
Numa época de impunidade ainda maior que a de hoje, quando marginais ricos e poderosos silenciavam a justiça, o último capítulo foi proibido de ir ao ar e Lulu e os atores, assim como diretores da rádio ameaçados de prisão, caso insistissem em levar ao ar o derradeiro capítulo.
Temendo pela prisão de Lulu Augusto e dos membros do elenco da novela, inúmeras meretrizes da Rua Cruzeiro, em Porto União, endereço do lupanar onde Zilda foi seviciada e assassinada, postaram-se em frente a emissora, em um cordão humano para proteger Lulu e seus acólitos.
O capítulo não foi ao ar, motivando Didio Augusto, pai de Lulu, que na época era colaborador do jornal O Comércio, tentar publicar no supracitado hebdomadário, o último capítulo da novela. O jornal O Comércio, temendo represálias judiciais decidiu não fazer a publicação. Indignado, Didio Augusto declarou que fundaria um jornal nem que este tivesse apenas um número, para denunciar os algozes de Zilda.
Ao chegar em casa Didio disse que iria fundar um jornal, ideia, imediatamente, acolhida por Lulu, que em 12 de agosto de 1953, fundaria o Jornal Caiçara, hoje com quase 72 anos de idade, e, não apenas com um único número, mas chegando agora ao número 2621.
Na segunda metade dos anos 60, Lulu, ao lado da professora Arlete Bordin, fundaria o Centro de Letras Didio Augusto, confraria que reunia escritores e intelectuais para discutir e refletir a literatura e a arte em geral.
Lulu além jornalista era poeta de rara sensibilidade, exímia cronista da cotidianidade, além, de ser talentosa desenhista.
No início dos anos 60, Lulu gerenciou a Rádio Colmeia, onde passaria de agitadora cultural a espécie de promoter, iniciando tal atividade com a promoção de um show humorístico, com o cantor e menestrel, Juca Chaves, na época o enfant terrible da sátira e da paródia.
Logo em seguida Lulu retornaria à Rádio União, gerenciando a emissora até o começo da década seguinte.
Foi nos microfones da União que Lulu criaria dois quadros que se tornariam célebres no radialismo local, as crônicas diárias, Falando francamente e posteriormente, A vida em espiral.
Foi também nessa época que Lulu promoveria em União da Vitória o concurso de beleza Glamour Girl e traria para as cidades irmãs os cantores Wanderley Cardoso, JerryAdriani e Martinha, todos no auge da popularidade, surfando nas ondas da Jovem Guarda.
Em 1975, Lulu Augusto, fundaria Caiçara Gráfica e Editora Ltda., tendo como sócios Sulamita da Costa, Gilberto Francisco Brittes e Gilberto Abrão. Mais tarde, Lulu compraria as partes de Gilberto Brittes e Gilberto Abrão. Em 1986, Delbrai Augusto Sá compraria a parte de Sulamita da Costa e seguiria como sócio de Lulu até 1994, quando a impressão do Jornal Caiçara seria terceirizada e a Gráfica Caiçara encerraria suas atividades. Em 1998 foi criado o Jornal Caiçara online.
No final da década de 70, Lulu conclui o curso de técnica jornalística, na União dos Profissionais de Imprensa do Rio de Janeiro.
Em 24 de novembro de 1994, Lulu Augusto recebe em Curitiba uma Medalha de Honra ao Mérito, pelos relevantes serviços prestados à Ordem e à comunidade, outorgada pelo Grão Mestre, do Grande Oriente do estado do Paraná, João Darcy Ruggeri.
No final da década de 90, Lulu Augusto é homenageada pelo Conselho da Mulher Executiva de Porto União e União da Vitória, laureada reconhecida como mulher fazedora da história.
Em 26 de agosto de 2005, Lulu Augusto recebe o título de Irmã Honorária da Academia de Cultura do Paraná.
Durante a década de 70, Lulu Augusto mantém a publicação da revista Em Voga.
Na segunda metade da década de 80, Lulu Augusto ao lado de Delbrai Augusto Sá e Tereza Vitória Ruski, funda a revista Atual.
Em 1997, Lulu Augusto cria com Sulamita da Costa, a revista Perfil.
Também nos anos 90, Lulu Augusto em parceria com a publicitária Janice da Penha Augusto Rost, criaria a agência de publicidade e propaganda, Skema Publicidade.
No final dos anos 90, Lulu Augusto, lançaria pelo Jornal Caiçara uma coleção de livros denominada Grandes Clássicos da Literatura Mundial, que objetivava incentivar a leitura e era uma parceria com a tradicional Livraria do Chaim, de Curitiba.
Lulu Augusto faleceu em 13 de março de 2016, dirigindo o Jornal Caiçara até os últimos dias de sua vida, deixando um vasto legado de coragem, persistência e criatividade, ousando como mulher e solteira, criar um órgão de comunicação em uma época ainda mais dominada pelo conservadorismo e pelo patriarcalismo, muitas vezes desafiando poderosos de plantão, aos quais jamais se curvou.
Feminista convicta, desde sempre, defendeu a igualdade de gênero, exortando as mulheres que propugnavam por esta causa e repudiando peremptoriamente toda e qualquer manifestação misógina.
Religiosa que era, dizia que apenas se ajoelhava diante de Deus.
Em 2018, em homenagem prestada pela Associação de Artistas Plásticos Amadeu Bona, Lulu foi retratada pela artista plástica, Beatriz Bolbuck.
Em 2019, em obra denominada Mulheres Fazedoras, publicada pela Editora Life, organizada por Dulceli de Lourdes Tonet Estacheski e Silvia Regina Delong, a jornalista é enfocada em artigo de autoria de Elaine Schmitt e Karina JanzWoitowicz, cujo título é Lulu Augusto e o Jornal Caiçara: Protagonismo feminino no jornalismo do interior paranaense.
Em 21 de fevereiro de 2022, o então prefeito, Bachir Abbas, sancionou a Lei que denomina de Travessa Jornalista Lulu Augusto a via pública que une União da Vitória a Porto União.
A Lei de nº 4986/2021, de 30 de novembro do mesmo ano, foi um projeto do Executivo, sendo, unanimemente, aprovada pelo Legislativo Municipal.
Oportuno ressaltar que em Porto União, o então prefeito, Eliseu Mibach, sancionou em 28 de outubro de 2021, a Lei nº 4766/2021, que também denomina o lado catarinense da mesma via, de Jornalista Lulu Augusto, em projeto/Lei de autoria do vereador Luiz Alberto Pasqualin.
Como nosso fiel leitor pôde observar e conforme o título desse texto, a vida da jornalista, minha querida tia Lulu, está indissociavelmente, ligada a trajetória do Jornal Caiçara, que neste 21 de maio de 2025, se despede de seus leitores, com a firme certeza de que fizemos um jornalismo único, vanguardista e corajoso.
Paramos por aqui, mas seguiremos pelo resto de nossos dias a reverenciar a memória de Lulu Augusto, que um dia sonhou em fazer um jornal e o fez por 71 anos, 9 meses e9 dias.
Obrigado tia Lulu por um dia ter me permitido fazer parte de Caiçara. Minha primeira coluna foi publicada em 6 de agosto de 1977, portanto há mais de 47 anos. Obrigado tia Lulu pelos ensinamentos e lições de vida que me ajudaram a ser quem eu sou.
BREVES HISTÓRIAS
Uma estrela a mais no firmamento

O polêmico, controverso e competentíssimo professor de Educação Física, treinador e um dos maiores formadores de atletas dos estados, de Santa Catarina e Paraná, Jorge Sérgio Schwartz, faleceu no dia 4 de janeiro de 2025, consternando as cidades irmãs.
Jorge por mais de 40 anos emprestou seu talento e sua pena afiada como uma navalha às páginas de Caiçara, onde assinou sua coluna Sem Censura.
Em 2020, Jorge trocaria as páginas de Caiçara, mediante divergências ideológicas, pelas páginas do Jornal O Iguassu, de propriedade de meu amigo, Claudio Gugelmin.
A última vez que vi Jorge, foi durante a projeção do filme Ainda estou aqui, em dezembro de 2024, no Cine Gracher, em Porto União
Ao término do filme, quando subiam os créditos, puxei os aplausos e ainda gritei: Ditadura nunca mais. Jorge que estava perto de nós, também se incorporou aos aplausos.
Esse meu caro amigo deixa uma lacuna impreenchível nos meios esportivos e jornalísticos regionais e estaduais e por que não nacionais, porque elevou quase ao máximo o nome de Porto União no cenário do Basquetebol feminino brasileiro
Em meu livro de crônicas, Meus caros amigos, publicado em 2014, escrevi uma crônica em homenagem a Jorge e que transcrevo a seguir, prestando, dessa forma, minha última homenagem ao amigo e endereçando, minhas condolências a seus familiares.
Um fim de tarde ao som de Travessia
Na manhã de terça-feira, 13 de outubro, enquanto trabalhava, ouvia algumas canções armazenadas na memória de meu micro e eis que me deparo com “Bridges”, com Sarah Vaughan e Milton Nascimento. “Bridges” nada mais é que a versão em inglês da magnífica “Travessia”, de Milton Nascimento e Fernando Brant, que compôs um belíssimo disco da inigualável Sarah Vaughan em homenagem à música popular brasileira
Sempre achei “Travessia” uma das mais belas canções brasileiras e ainda garoto, na época dos festivais, fiquei pra lá de indignado, quando em 1967 ela foi derrotada no II Festival Internacional da Canção Popular, por “Margarida”, de Gutemberg Guarabira, também uma bela canção, mas muito aquém de “Travessia”.
Essa versão com Saraha Vaughan a que me refiro ouvi na casa de meu dileto amigo, Orleans Antunes de Oliveira Filho, a quem já dediquei uma de minhas crônicas e a quem recentemente homenageei, oferecendo a canção “What´s new”, um dos mais belos standards da canção americana, quando aqui estiveram se apresentando no Bistrô da Cultura, Saul Trumpet, Fernando Montanari e Gerson Bientine
Como “Bridges”, também ouvi pela primeira vez na casa de Orleans a versão de “What’s new”, na voz da cantora de country music, Linda Ronstadt, que gravou um disco com algumas das mais belas torch songs da canção americana, tendo ao seu lado a fantástica orquestra de Nelson Riddle, que por muitos anos acompanhou Frank Sinatra.
Mas voltando à manhã de 13 de outubro e à “Travessia”, um de seus mais belos registros me foi propiciado por meu amigo Jorge Sérgio Schwartz
No final de 1993, alguns dias após o término de meu primeiro casamento eu estava em minha casa em um fim de tarde de verão, limpando a piscina, ouvindo música e tomando um scotch, quando ouço um carro entrar na garagem. Nem fui ver quem era pois eu já deixava a porta da garagem aberta naquela hora do dia em que sempre recebia amigos para um happy hour
Ouço uma música e vou ver de que se trata. Encontro Jorge Sérgio Schwartz com seu indefectível acordeão em punho, adentrando em minha casa e tocando “Travessia” que, com sua emblemática letra, dizia muito naquele momento de minha vida.
Jorge foi sem dúvida o autor de uma das mais belas e inesperadas homenagens que recebi ao longo de minha vida
Tomamos o litro de Chivas que ali estava acompanhado por uns canapés, esperando a chegada de alguns outros amigos que vinham para a sessão diária de bate-papo
Diante de tudo isso e da data, 13 de outubro, um dia após o aniversário de meu amigo Jorge, procuro, de forma bem menos inspirada, homenageá-lo, dedicando-lhe essa crônica.
Vida longa caro amigo.
BREVES HISTÓRIAS
Ainda estamos aqui

Há mais ou menos duas semanas, fui com Margarete e alguns amigos assistir o belo e pungente, Ainda estou aqui, de Walter Salles Jr.
Margarete tentou comprar o ingresso pela Internet e por algum bug do site, não conseguiu. Resolvemos no sábado ir até lá e comprarmos os ingressos para a sessão das 17h, de segunda-feira. Chegando lá fomos informados que não é possível comprar ingressos antecipados para outro dia. Acabamos desenvolvendo uma conversa com um rapaz que estava na bilheteria e aproveitei para indagá-lo se os filmes, A substância e Megalopolis, seriam exibidos aqui. A resposta foi não, o que motivou a fazer nova indagação. Por que aqui, basicamente, somente são exibidos blockbuster, comédias e filmes infantis, não sobrando quase nunca espaço para filmes de temáticas mais reflexivas. Recebemos como resposta que o fato de Porto União possuir apenas três salas, enquanto outras cidades que também tem o Cine Gracher, possuem quatro salas, o que facilita a exibição de filmes como, A substância, por exemplo. Também ficamos sabendo que aqui, tais filmes cumprem más performances de bilheteria e que também é onde o público mais solicita filmes dublados.
Fiquei ainda mais perplexo ao saber que um cidadão retirou de um display do filme, A freira, um crucifixo, alegando que se tratava de propaganda ofensiva a religião católica. Minha perplexidade e indignação aumentou ao saber que uma comitiva de mães foi até o cinema para solicitar a retirada do último Toy story. Em que em certo momento, duas meninas dão as mãos e seguem caminhando. A tal obtusa comitiva, parece que saindo da Idade Média, alegou que tal cena era ofensiva a moral e aos bons costumes e a coisa não parou por aí. Outra comitiva foi solicitar que a nova versão de A arca de Noé, não fosse exibida aqui porque distorcia uma parábola bíblica, trazendo-a para os dias atuais.
Como sou um provocador, aproveitei para dizer que o conservadorismo e a hipocrisia da extrema direita, além de acéfalo, não tem limites.
Mas falemos um pouco de Ainda estou aqui, que narra a obstinada luta da grande brasileira, Eunice Paiva, primeiro para saber o paradeiro de seu marido, Rubens Paiva, covardemente arrancado de sua casa, em janeiro de 1971, por gorilas militares, sem nenhuma justificativa plausível. Eunice lutou tenazmente com as armas que tinha, até que em 1996, já no governo de Fernando Henrique Cardoso, conseguiu, mesmo sem um corpo, que jamais foi encontrado, finalmente, obter o Atestado de Óbito.
Eunice foi uma das grandes artífices do movimento pela anistia, que em mais uma terrível manobra da ditadura, também anistiou os torturadores e assassinos que agiam em nome do regime covarde e brutal que com a promulgação da Lei de Anistia, contrariou resolução da ONU que determina que crimes contra a humanidade são imprescritíveis.
A Presidente Dilma Roussef, tentou anular a Lei de Anistia e punir os praticantes de atos vis e covardes de tortura. Sua solicitação foi protocolada no STF, que estranhamente a negou, mantendo impunes os torturadores.
Na sessão em que estávamos não havia mais de 20 pessoas, que não pouparam aplausos no final do filme. Eu por minha vez, indignado, não pude deixar de gritar: Ditadura nunca mais.
E para aqueles que se diziam os corajosos e intentaram contra o estado de direito, tentando derrubar um governo legítima e democraticamente constituído e que agora acovardados temendo as prisões que a cada dia se avizinham, lembro, Ainda estamos aqui e não descansaremos até que o último golpista seja, severamente, punido.
Lágrimas
Para o falecimento do velho comunista, professor Ciro Costa, pai de minha querida amiga, Desiré e, do médico, Arthur Costa, ocorrido em 11 de outubro de 2024. Ciro foi mais uma vítima da sanha ignóbil da ditadura militar. Foi preso em 1969, condenado a um ano de prisão e teve seus direitos políticos cassados, apenas por que havia sido no início dos anos 60, um dos fundadores do PCB – Partido Comunista Brasileiro em União da Vitória. Cumpriu sua pena inicialmente em Curitiba e, posteriormente, aqui em Porto União.
Esse foi mais um ato vergonhoso praticado por um regime de exceção, que ainda é saudado por brasileiros desprovidos de consciência histórica, de qualquer espécie de compaixão e de tolerância, ao contrário enaltecem personagens nefastos como Bolsonaro, que em seus quatro anos de desgoverno, exaltou o preconceito, a intolerância e a negação da ciência, da arte, da cultura e da educação.
As outras lágrimas vão para o falecimento de minha caríssima amiga Jana Portes, ocorrido em 2 de novembro. Jana é esposa de meu grande amigo Renato Portes, a quem fui abraçar no infausto acontecimento.
Reencontro
Ainda no velório de Jana, fiquei feliz ao reencontrar meu caro amigo, Jonas Godinho, com quem não falava já há algum tempo, motivado por desentendimento que tivemos.
Em 1989, a convite de meu dileto amigo, Carlos Alberto Santos, ingressei no Clube das Terças, onde lá estavam outros caros amigos como, Renato Portes, Márcio Monte, Gilberto Brittes, Cezar Lemos, Ary Carneiro Jr, Brittes Antônio Brittes e Jonas Godinho, entre outros. Logo em seguida, tornei-me sócio do Avahi Futebol Clube, novamente, levado por Carlos Alberto Santos, Renato Portes e Márcio Monte.
Na Festa de Natal do Avahi, em 1993, fiz talvez minha primeira aparição pública com minha então namorada Margarete Schwab, hoje minha esposa.
Como chegamos um pouco atrasados, o salão já estava, praticamente, lotado e ao darmos os primeiros passos em direção à nossa mesa, onde Carlos Santos e sua então esposa, Margarete Pereira Bozza, nos aguardavam, fomos surpreendidos pelos acordes da bela e emblemática, para nós, canção de Ivan Lins e Vitor Martins, Começar de novo, a nós dedicada pelo querido amigo Jonas Godinho.
Nos primeiros dias de 1994, Marga e eu ainda ensaiando os passos iniciais de nossa relação, certa noite após um jantar no Avahi, quando por lá estávamos, já no início da madrugada, apenas eu, Jonas, Eloi Lara, outro grande e antigo amigo, e, Alceu Schwegler, também caro amigo, depois de umas biritas e muita música, tirada nos violões de Jonas, Eloi e Alceu, decidi fazer uma serenata para Marga, que morava na Rua Benjamin Constant, no prédio onde havia funcionado o Correio.
Entramos no corredor que dava acesso à porta principal e mandamos um samba para acordar minha doce namorada. Quando as luzes se acenderam, Jonas e Eloi deram os primeiros acordes de, Eu sei que vou te amar, já com Marga na porta nos recebendo.
Foi uma noite memorável que devo ao talento e sensibilidade de meus caros amigos, Alceu, Eloi e Jonas, que repito, fiquei muito feliz em reencontrar.
