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LITERATURA

O Fantasma do Vale do Iguaçu

Subo e desço por essas ruas enlameadas sem deixar pegadas. A cidade, à noite, no vale, é esse vão escuro e quieto de quase morrer. Cruzo a linha ferroviária nas madrugadas frias de neblina sem deixar sinal ou quase. Passo de um lado para outro, de um mundo para outro, como quem escapa pelo buraco da fechadura. Por diversão, apareço para uns poucos miseráveis que perambulam pelas vielas com seus casacos de feltro a lembrar O Capote, de Gogol. Espio pelas janelas os homens que, preocupados com a ceia, nem notam minha presença. Atravesso portas sem pedir licença. Subo as escadas do prédio que é ou um dia foi uma escola. O piso não range com minhas pisadas. Do forro pulo ao telhado e deste ao chão. Desço até a esquina e dali vou levitando até a prefeitura, que um dia será antiga. Faço caretas para duas senhoras que, depois de se benzerem e gritarem, correm até a igreja em busca de salvação. Algumas horas depois, a polícia faz a ronda à procura do tal fantasma. Foi por aqui? Alguém aponta. Atrás daquele poste. Uma sentinela empunha a pistola e atira em mim. Ecoa na escuridão a risada macabra sem pingos nos is. Migro do passado para o futuro, e deste para aquele, como quem varre o soalho sujo à contrapelo. Estou sempre no presente, esse buraco negro que me traz sempre aqui. Estou preso em mim. E chego a pensar que só existo em um conto, para logo depois duvidar disso também. E se duvido é porque penso, e se penso é porque existo. Sou um ponto de exclamação no breu da encruzilhada.

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LITERATURA

O caso do vampiro


No último dia 14, o célebre vampiro completou 99 anos. Celebrei a data degustando uma lembrança junto com um resto de vinho que encontrei na geladeira. Volto no tempo. Há alguns anos, caminhando pela Rua XV, em Curitiba, deparo-me com o velho autor das “Novelas nada Exemplares”. Qual seria a chance de isso acontecer uma em mil? Como poderia saber que se tratava mesmo dele, se nunca havia o encontrado pessoalmente? Algo me dizia, no entanto: veja, é mesmo ele. Até então, avistara-o apenas em uma meia dúzia de fotografias velhas, dessas que circulam por aí. Poderia não ser, mas era. Avesso a fotos e entrevistas, como todo bom vampiro – talvez simplesmente tímido ou sagaz em mitificar a própria figura – o escritor aparecia ali inteiro, caminhando com relativa pressa que a muitos ali poderia parecer lentidão. Para onde? Com um tempo livre, sentindo-me já dentro de um conto do próprio, resolvi segui-lo. Aparentava os 86 ou 87 anos que deveria ter. Fingindo mirar as vitrines, fui com o canto do olho acompanhando o seu trajeto. Parou. Entrou em uma ótica. Ficou ali os dez minutos em que o esperei sentado lá fora. Voltou. Tornou a caminhar. Vez e outra, olhava para trás, enquanto eu tentava me esconder entre os passantes. Pensando que poderia perdê-lo de vista a qualquer momento, peguei o celular, daqueles antigos com uma câmera ruim, e saquei duas fotos. É a única prova que guardo daquele encontro.

Mais adiante, dobrou a esquina e desapareceu. Pensei em correr para alcançá-lo, apresentar-me diante de seus olhos, estender-lhe a mão mesmo prevendo o constrangimento que fatalmente iria acontecer (ele odeia fãs, embora seja vaidoso), mas era tarde demais. Lamentei a falta de coragem, guardei o celular e voltei para o hotel.
Empolgado com o encontro que não aconteceu, fui até a livraria do Chain na manhã seguinte, lugar que segundo dizem visitava com frequência. Percorrendo as estantes, encontro um exemplar de “Nem te conto, João”, livro que o vampiro acabara de publicar. Abro o livro ao léu. Na página 58, a frase “Curitiba está diferente. Na pensão tem uma bicha-louca. Chama-se Lu. Usa calça bem justa. Tamanquinho”. Fecho o livro e me dirijo ao caixa. Em minha frente, uma jovem comprava um exemplar de Lya Luft. Pede para embalarem o presente. Atrás de mim, aguardando na fila, um senhor, parecido com aquele que eu encontrara na rua XV no dia anterior, me cutuca. “O que está levando aí, jovem?”. “Um Dalton Trevisan”. “Um Dalton? Não seria um livro dele? ”. Eu rio e respondo que os autores ou uma parte deles vem sempre junto com o livro. “Dizem que ele é fera”. “Sim, muito”. Enquanto me aproximo do caixa, percebo duas jovens atendentes olhando surpresas para mim. Riem discretamente uma para a outra. Enquanto pago, olho para trás e não vejo mais o velho. A mais jovem me pergunta com surpresa: “Você conhece ele? ”. “Não”. “É o Dalton”. Saio da livraria procurando pelo velho. Deve ter dobrado a esquina já, ou se escondeu na antessala da livraria para tomar um café e conversar com seu amigo, o velho Chain. A chance de isso acontecer novamente, eu sabia, era nula, como era nula a possibilidade de conhecer no hotel, naquele dia ou em qualquer outro, uma bicha-louca de nome Lu, com calça justa e tamanquinho.
Depois de algum tempo, conversando com o livreiro, descubro que a livraria é o QG do vampiro. Ali, ele recebe correspondências, entrega originais ou revisões a serem encaminhados às editoras. O Aramis Chain me falou também que bastava eu deixar um exemplar ali que ele pediria para o amigo autografar para mim. Nunca tive coragem. Mas agora que o homem fez 99 anos e resolvi reler o “Nem te conto, João”, abro na folha de rosto e encontro ali a assinatura dele. A página me passara despercebida naquele 2013. Deve haver algum sentido nisso tudo. Teria rubricado um ou alguns exemplares que foram para as estantes? Isso tudo parece mentira até para quem conta.

Post scriptum: A literatura sempre fala a verdade, mesmo quando mente. O escritor é sempre um falso mentiroso, lembrando aqui do icônico título de um livro de Silviano Santiago. Fernando Pessoa afirmou categoricamente ser o poeta um fingidor. Fingir tão completamente a dor que deveras sente faz de quem escreve esse ser tortuoso. Quando alguém afirma “eu minto”, e o que diz é verdade, a afirmação será falsa ou verdadeira? Euclides de Mileto que o diga. Eis o jogo de cena. No fundo, como sugeriu Manoel de Barros, no que o poeta escreve só 10% é mentira, o resto é invenção. No caso do vampiro, minto, o que digo é verdade. Sou também um falso mentiroso. Acredite em mim.

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LITERATURA

Boxeadores, índios e outros vaga-lumes (para Roberto Cossan, lutador vaga-iluminado, e para Alberto Pucheu, the boxer):“But the fighter still remains”

O que chamamos de contemporâneo – pautado com o aval do Estado, por exemplo, pela violência policial, desprezo pela constituição, falta de respeito pelas comunidades indígenas, entre tantas outras atrocidades -, tende a cercear, mais do que o pensamento, a nossa capacidade de imaginar, ou seja, de fazer política. É um tempo em que, para usar um argumento de Didi-Huberman, os “conselheiros pérfidos” estão em plena glória luminosa (o fascismo não morreu), enquanto os resistentes “se transformam em vaga-lumes fugidios tentando se fazer tão discretos quanto possível, continuando ao mesmo tempo a emitir seus sinais”. Tempo no qual os potentes refletores das sentinelas – a perseguir o voo (vaga) iluminado dos inimigos – tendem a ofuscar seu discreto brilho. Se a experiência não pode ser completamente destruída, cabe perguntar que comunidade ainda nos é possível imaginar? Ou antes, que pode a poesia na comunidade que ainda podemos partilhar? Nesse sentido, a experiência não pode ser dissociada do exercício de contestar (palavra que vem do latim contestari e que quer dizer “trazer para testemunhar” ou “testemunhar junto”). Contestar parece ser uma das formas possíveis ainda de vermos juntos o tempo. Nessa luta, deparamo-nos, por exemplo, com o anjo boxeador de Carlito Azevedo a testemunhar o “espetáculo” de mais de uma corda “estirada verticalmente no ar tendo em uma de suas extremidades um galho bem resistente e da outra a cabeça de um índio”. Não se trata apenas de, drummondianamente, lutar com palavras, tomando-as como adversárias, mas de com elas combater seja quem for. Que a luta com palavras possa ser apenas uma “luta antes da luta”, como sugeriu Alberto Pucheu em um poema dedicado também ao boxeador. Na música de Caetano Veloso, o lutador (boxeador) se encontra com o índio do porvir, imaginado como Muhammad Ali-Haj. As poéticas ameríndias parecem hoje lutar para afirmar a sobrevivência de suas culturas, bem como combater uma certa ideia que fazemos da própria literatura, devolvendo potência a ela entendida como pensamento selvagem (o ministério dos povos originários parece ser um bom começo, mas ainda falta muito). Por meio de uma concepção perspectivista, segundo a qual não faz sentido pensar na “natureza” e na “cultura” como elementos distintos, devemos buscar responder à seguinte pergunta: o que pode nos ensinar as poéticas ameríndias? O que está em jogo na ética de sua heterogeneidade? Como podemos, ao invés de dar voz a esse outro, nos permitir ouvi-lo? E que possibilidades de experiências interculturais podem brotar dessa poética da alteridade. Incluem-se nesse caso as produções literárias contemporâneas inspiradas na poética ameríndia, como é o caso das traduções/transcriações de Josely Vianna Baptista dos cantos que integram o Ayvu rapyta, dos Mbyá Guarani. É o caso também da cosmogonia dos Tupinambá reescrita por Alberto Mussa (que virou enredo de Escola de Samba, na Sapucaí, este ano, o livro Meu Destino é Ser Onça), bem como da potência poética oriunda das mitologias indígenas que inspiram na literatura brasileira a linguagem de Wilson Bueno e Douglas Diegues. Doar nossos ouvidos à voz e à luta de um xamã parece ser uma forma não só de imaginá-lo, mas também de, politicamente, sabê-lo.

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LITERATURA

A literatura como taxidermia: quem costura o quê para enganar a morte?

A literatura é mesmo uma máquina de costurar. Um livro, consequentemente, o objeto de sua tessitura. Na colcha de seus retalhos imperam sempre os restos de outras peças, ou de pedaços de variados tecidos não cerzidos até então. O cinema também guarda na sua essência essa vocação para o corte e para a costura. Foi justamente nesse quesito que o filósofo Giorgio Agamben demarcou a relação entre a poesia e a arte cinematográfica. Aprendemos com o filósofo italiano, em seu ensaio sobre Guy Debord, que o homem é um animal que vai ao cinema – e por que não dizer à literatura? – porque como nenhum outro ele se interessa pelas imagens mesmo depois de reconhecê-las como tal. Pensando não apenas em Guy Debord, mas também em História(s) do Cinema, de Godard, Agamben observa que o princípio constitutivo do cinema é a montagem, pautada pelos procedimentos de repetição e paragem, fundamentais para a construção de sentidos de suas cenas. Como na poesia, a sua força dependerá principalmente da capacidade do artista em manejar cesuras e encadeamentos, como um alfaiate cerze o linho, a seda ou o algodão. A mesa de trabalho, tanto para cineastas quanto para escritores, nesse sentido, se caracteriza de fato como uma ilha de edição ou um ateliê de confecção. Essas são ideias que me chegaram durante a leitura da reunião de contos “Quem costura quando Mirna costura”, de Fabiano Vianna. Trata-se de seu primeiro livro, lançado em 2021, pela Arte & Letra. O escritor, no entanto, há uns bons anos já vem publicando em jornais e revistas os seus contos. Penso que o primogênito livro de Fabiano deveria ser incluído em uma série imaginária que poderíamos chamar de “Obras de sobrevivência”, a saber, aquelas que parecem ser tocadas direta ou indiretamente pela experiência da pandemia. As publicações que integram esse conjunto, além de serem fruto de um contexto histórico bem específico, formam uma textualidade que imagino ter ajudado seus agentes, escritores e leitores, a atravessar os dias e as noites da peste com menos tristeza e um pouco mais de prazer e alegria. Sem tais elementos, inclusive, a leitura não passaria de exercício monótono. O livro de Fabiano é um desses trabalhos emblemáticos que consegue fazer experiência em um mundo destroçado pela crise pandêmica. Escrever ou ler suas páginas é uma forma de lidar com a crise, bem como um jeito de matar a saudade da rua, da cidade e das pessoas. Sob essa perspectiva, a literatura pode ser encarada como uma máquina capaz também de transformar a solidão em felicidade, ou de manter a tristeza à distância, ou ainda de adiar a morte. Não tem sido assim desde tempos imemoriais? Sherazade tecia histórias para não morrer, assim como Penélope tricotava produzindo um 1 Professor da Unespar (campus de União da Vitória) e escritor. É autor de livros como Esquinas (Micronotas, 2020), Papele (Medusa, 2019), Fábrica de Flores (Medusa, 2019), Oriki Daqui (Medusa, 2019), Dario Vellozo: Em busca do templo perdido (Humana Editora, 2022), Os tempos de Dario Vellozo: Poesia e Magia (Fecilcam, 2022). adiamento perpétuo de seu próprio luto. Em boa parte dos contos de Fabiano, assistimos ao encontro inusitado entre vivos e mortos. Poderia falar aqui da potência pictórica da sua literatura, atravessada por sua atividade como ilustrador, aspecto já apontado por Jonatan Silva, que por sinal caracterizou o autor como um “cronista do invisível”, do irreal, “daquilo que está nas ruas, nos terreiros e nas lembranças de várias gerações”. A dimensão espiritualista embutida aí parece aguçar os sentidos do artista, numa vocação quase rimbaudiana para a vidência, assim como a dimensão de cronista da cidade, à la João do Rio, parece estar presente tanto em seus sketches urbanos quanto em seus contos, assim como a presença da memória de uma Curitiba retrô tende a alimentar também a sua mesa de edição. Aliás, para Waly Salomão, a memória é por si só uma ilha de edição. No livro de Fabiano, o saudosista encontra o autor inventivo, assim como numa mesa de montagem o cineasta encontra o poeta. O livro é sobre tudo isso misturado e também sobre gestos que só podem ser capturados com eficiência no ato de leitura. É quando sua escritura escapa do comentário se instalando em um espaço que transcende a própria razão, e a tudo aquilo que se liga a ela, diga-se de passagem, a interpretação, a crítica, a caracterização de seus gêneros etc. É quando também o escritor faz suas mandingas para seduzir o leitor afinal de contas, como no universo popular, costurar é uma forma mágica de curar uma rasgadura por meio de benzimento. Estamos diante de um livro que correlaciona as dimensões do visível e do invisível em seu sentido sobrenatural – muitas personagens que figuram nos contos são tanto emblemáticas como fantasmáticas -, bem como em seu sentido rememorativo, já que sua narrativa, em especial a do texto “Ana e o Espelho” (um dos mais bonitos do volume), produz imagens dialéticas nas quais passado e presente se interpenetram sem cessar. Nesse conto, uma jovem, enfadada pelo isolamento, volta no tempo depois de entrar em um espelho da família, indo parar em uma Curitiba de décadas atrás. Há uma série de imagens recorrentes no livro que apontam para a literatura entendida como uma máquina não apenas de produzir imagens, tal como em Bioy Casares, mas também de salvar o mundo – entenda-se aqui o mundo dos narradores. Uma máquina capaz de costurar os retalhos de um presente dominado pelo medo da morte e da destruição. Certos signos vão apontando para essa perspectiva ao longo de sua escrita, como, por exemplo, na aparição de um crânio, que “segura a porta para não bater com o vento” ou de um assoalho carcomido, ou de algum mofo numa roupa ou numa determinada parede. A pandemia inclusive chega a aparecer de forma praticamente explícita em alguns textos que compõe a obra. O sentimento dessa decadência tem valor sintomático (basta lembrar das revistas Lama e Lodo, editadas por Fabiano, com uma pegada pulp). O escritor tece a si mesmo como uma espécie de colecionador (sem saber o porquê sinto aqui a presença de Arthur Bispo do Rosário e seus mantos costurados). Isso porque o livro é um lugar capaz de ficticiamente armazenar o que está aqui do lado de fora. Ali, no texto, quem escreve guarda pedaços do mundo, em várias caixas que vão aparecendo ao longo dos contos. A máquina de costura encontra correspondência em outra imagem recorrente no livro, a do taxidermista, que pode ser lida como símbolo do autor compreendido como ente capaz de embalsamar e consequentemente preservar na obra os restos do mundo. Ao lado de signos da decomposição, figura o formol. O espelho, outra imagem recorrente nas histórias, sinaliza não apenas para a presença do duplo, facilmente encontrada na literatura latino-americana, mas também de uma máquina do tempo. Entrar no espelho é aqui uma forma de proliferar não apenas imagens, mas também lembranças, tudo margeado pelo filtro do enigma. Na Curitiba de Vianna, desfilam as balas Zequinha, a figura do lambe-lambe, o dirigível a lembrar uma baleia ou vice-versa, os antigos estabelecimentos e suas paisagens, o Rio Juvevê, o Cine Avenida, a Casa Roskamp etc. A escrita de certos autores familiares a Fabiano ecoa nas narrativas curitibanas do livro. Valêncio Xavier, Manoel Carlos Karam e Dalton Trevisan parecem conversar com Cortázar, García Márquez e Italo Calvino nos jardins do Passeio Público ou nos bancos da Praça Osório e suas calçadas petit-pavé. No livro, a tradição visual de um Poty pervive não apenas nas ilustrações realizadas pelo próprio Vianna, mas também nos curiosos Potypos, esses estranhos gigantes que outrora habitaram a cidade. Tais personagens, assim como certos autômatos, bonecas e fantasmas dão a dimensão criativa de seu nonsense. A prosa de Fabiano, abolindo os limites entre a vida e a morte (invertendo as polaridades da existência, o que nos leva a concluir, por vezes, que os mortos somos nós, como no pequeno conto “Os intrusos”), ressignifica a ideia da literatura como uma forma não apenas de enganar a morte, mas também de congelar (conservar) a vida, sem privá-la necessariamente de seu inerente movimento. Nesse sentido, sua costura devolve vida a uma imagem bastante presente no imaginário da literatura curitibana, a do Frankenstein, como um dia Valêncio Xavier já foi tratado. Tal monstro costurado há de estar passeando, feito um vampiro, pelas ruas noturnas dessa cidade, até porque, todos sabemos, os mortos não morrem mais. Nos tempos recentes de uma crise sanitária, o livro parece dar vida àquilo que julgávamos há muito extinto, assim como problematizar o nosso tempo como um lugar também de morte, creditando à literatura o poder de driblar os fantasmas de nosso presente. Em “Quem costura quando Mirna costura”, quem cura é o pajé que chega de helicóptero no hospital para ministrar suas ervas ao convalescente. Nessa cena, para além do absurdo, a literatura de Fabiano parece se revestir dos sentidos mais profundos de cura. E sobrevivemos graças também às suas histórias.

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