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PSICOLOGIA PARA HOJE

Feliz Janeiro!

Passadas as urgências de fim de ano, chega o mês de janeiro, teoricamente mês de paz, calmaria, descanso do ano que terminou, da frenética correria que se instala em muitos nesta época. Essa agitação vem de dentro? Vem de fora? A intensificação da movimentação para dar conta de tudo que se deseja, pretende ou deve fazer para terminar o ano é sentida em vários setores. No trânsito, na rotina alterada que se atropela, nas compras e comidas a serem feitas, nas faxinas e reformas… Ufa! Passou! Agora, o descanso. Muitas agendas se aliviam e há tempo para existir, para pensar, para ser. Mesmo em movimentadas viagens de férias e saída da rotina, as atividades são diferentes e o tempo é de fazer coisas que, no dia a dia, nem sempre são feitas. Também é tempo de voltar-se a si e refletir… Afinal, o que foi aquilo tudo e em quê resultou? Que sentimentos foram aqueles que assolaram a muitos no fim do ano? Sentimentos ou ressonâncias de um tempo frenético em que ninguém se manda, mas muitos querem se encontrar, confraternizar? Poderíamos diluir isso durante o ano? Que ano? Durante o ano não há tempo para isso, é tempo de trabalho e de outro tipo de correria. Ou inconsciência. Jesus! Quando vamos parar? E onde? Mas parar para quê? O que fazer além de correr e esperar a sexta-feira para postar os copos cheios, as falas vazias, esperar as curtidas e lamentar novamente a chegada da segunda-feira?
Bom, o fato é que janeiro chegou e, com ele, uma chance de … reflexão. Para ajudar, temos a campanha Janeiro Branco, instituída em 2014 pelo psicólogo mineiro Leonardo Abrahão Pires Rezende. Coordenada pelo Instituto que tem o mesmo nome, no Janeiro Branco, a idéia é chamar a atenção das pessoas, instituições, sociedade e autoridades para as necessidades relacionadas à Saúde Mental, a fim de constituir uma humanidade mais saudável e isso pressupõe respeito à condição psicológica de todos. Sendo o primeiro mês do ano, janeiro teria a propriedade de inspirar as pessoas à reflexão sobre suas vidas, suas relações, sentidos e objetivos para o novo ano, para a vida, enfim. Como um portal entre dois ciclos, um que se fecha e outro que se abre, janeiro vem com possibilidades de reflexão, ressignificação e conscientização de objetivos pessoais, profissionais, relacionais, enfim de tudo que envolve a vida humana.
A cor branca simboliza “folhas ou telas em branco”, nas quais pode-se projetar, escrever ou desenhar expectativas, desejos, histórias ou mudanças sonhadas e sua concretização. O tema de 2023 é o equilíbrio e este não isenta de desafios. Pelo contrário, é tarefa que constrói um canal de discernimento, é recurso que ajuda a estabelecer a medida do quanto é preciso e saudável se envolver com toda a oferta de estímulos a que estamos sujeitos. Equilíbrio, mais do que nunca é necessário e precioso recurso para fazer frente a este excesso que vêm de todos os lados e o tempo todo. Há que refletir sobre o que serve e o que deve ser evitado. Diante de mudanças cada vez mais desafiadoras e aceleradas que exigem novas atitudes, novas habilidades, novos entendimentos e novos comportamentos, mais do que nunca existe a necessidade de filtro, de discernimento, pois disso depende a saúde emocional e a manutenção da individualidade de cada pessoa. Esta, diluída nas redes sociais virtuais cheias de saberes e prescrições sobre o que é melhor para nós, sobre o que devemos fazer e ser leva à pergunta: como manter saúde mental neste contexto?
Mas o que é saúde mental? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um estado de bem-estar no qual a pessoa é capaz de usar suas habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo e contribuir com a sua comunidade. Questiono a palavra “estresse” aqui colocada. Não seria melhor a palavra cansaço? Trabalhar, estudar e até brincar cansa e cansaço, pede descanso. Como está nossa autorregulação para esta volta ao equilíbrio, para o descanso? Cada pessoa sabe ou deveria saber seu limite e respeitá-lo para que não vire estresse, resultado do não descanso rotineiro. Aqui já estamos falando de ameaça à saúde mental e emocional. A reflexão traz à luz a identificação do sentimento, sensação e do cuidado que cabe a cada um deles para que a doença não seja construída, mesmo sem querer, sem intenção. Temos ainda os sentimentos não cuidados, julgados e reprimidos, quando não silenciados com distrações e drogas lícitas e ilícitas. Estes vão ficando acumulados, não atendidos, causando desconfortos, transtornos e vão evoluindo para doenças, como explica a Psicossomática, ciência que trata de distúrbios físicos decorrentes de causas emocionais.
O objetivo da campanha Janeiro Branco é despertar a necessidade de atenção a estes temas, a fim de combater tabus, como não se deve ficar triste ou com raiva, sorria sempre… Somos humanos e humanos têm sentimentos e estes tem sua forma de expressão. Dificilmente vamos ver alguem tentando reprimir a alegria, mas o contrário é comum, quando se trata da tristeza e raiva. Estes sentimentos, humanos, têm sua causa, sua razão de estar se manifestando e a saúde mental e emocional está em identificar e mobilizar recursos para sua equilibrada vazão. Identificá-los e respeitá-los evita que se acumulem e caiam no descontrole a ponto de perder o equilíbrio e os manifestar com excessos, seja na comida, na bebida, nas compras, na agressividade ao tratar com pessoas. Comportamentos agressivos, anti sociais, violentos como expressões de dor e raiva ou depressivos, no caso da tristeza, para citar somente alguns, são manifestações de desequilíbrio, resultado de desconhecimento de si e da não elaboração de recursos psicológicos saudáveis para lidar com sentimentos, com a vida. Em outras palavras, é desconhecimento da importância de estarmos atentos aos nossos sentimentos para saber o que fazer com eles quando emergem, a fim de lidarmos com eles de modo reflexivo, contrutivo e não imaturamente reativos, como vemos em casos de falta de equilíbrio.
A saúde emocional corresponde à capacidade de controlar as funções psíquicas, ou seja, a capacidade de administrar as próprias emoções, resultando, dessa forma, em um sentimento de bem-estar pelos objetivos atingidos e é possível viver uma vida mais saudável.
Como já visto, a conscientização sobre estes temas tem por objetivo combater tabus, mudar paradigmas, orientar as pessoas e inspirar autoridades a respeito de desafios da vida.
O Janeiro Branco propõe ações e reflexões sobre isso. Qual é a parte de cada um para que este todo se beneficie, se concretize? Prestemos atenção, aprendamos a identificar nossos desconfortos em vez de apenas reagirmos a eles. Cada mal-estar é sintoma, aviso que nos comunica uma disfunção interna e, se esta não for identificada e cuidada, torna-se peso, ameaça à saúde mental, emocional e, finalmente, física. Cuidar é não julgar, mas entender que algo não está bem e precisa de atenção. Não se trata de supervalorizar, mas lidar com o devido respeito e cuidado que cada situação exige. Quando um carro está com defeito no motor, acende uma luz no painel. O mesmo acontece em nós, ou seja, se há um sintoma (luz do painel) é porque algo em nosso emocional está necessitando um olhar mais profundo e reflexivo, sem julgamentos, mas com acolhimento e espaço para que eles sejam identificados, nomeados e vivenciados, pois cada um tem seu pedido, sua forma de expressão, seja verbal ou comportamental. Assim, nos tornamos conscientes de nós mesmos e descobrimos que cada sentimento bem cuidado se torna essência para a criação de um recurso a mais de saúde emocional, física, relacional, social. É disso que precisamos, é o que o mundo merece para que nossa sociedade tão doente, competitiva, agressiva e superficial comece a se recuperar e descubra seu potencial de crescimento e construção de bem estar pessoal e social.

Psicóloga e membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu (ALVI).

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3 Comentários

1 Comentário

  1. Salete

    01/14/2023 a 14:27

    Dra.Maris sempre nos presenteando com assuntos tão ricos, pertinentes ao nosso dia a dia.
    Parabéns pela matéria!

  2. Tania Margaret Ruski

    01/15/2023 a 20:57

    Sempre com gostinho de quero mais!
    Amo seus textos Maris, escritos com sabedoria,profundidade e clareza. Obrigada pelo presente.

  3. Dirce Maria

    01/15/2023 a 22:15

    Gratidão Dra Maris pelo texto esclarecedor, sinalizando uma pausa necessária para cuidarmos de nosso cansaço.

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PSICOLOGIA PARA HOJE

Leni Trentin Gaspari

Grande mulher! Esposa, mãe, avó, professora, pesquisadora, escritora, imortal pela Academia de Letras do Vale do Iguacu…
Mas não é sobre seu currículo que quero aqui escrever. Certamente ficarão faltando menções, pois muito ampla foi sua atuação em nossa sociedade e nossa cultura. Quero escrever sobre a pessoa, a amiga, a acadêmica dedicada que sempre foi. Entusiasmo, palavra de origem grega, significa ter Deus dentro de si. Assim era Leni, nossa guia, nossa referência, com seu jeito afetivo, mas firme de ser, de nos manter dentro dos propósitos da Academia, lembrando sempre de seu lema “Nula dies sine linea”, nos instando a que não passássemos nenhum dia sem escrever uma linha. Todos sabem seu lugar e o que lhes cabe nesta entidade tão produtiva e significativa, mas, Leni ainda assim era nosso farol. Sua alegria era a família, à qual se dedicava com amor e desvelo, mas também o era a docência. Aqui também foi farol.
Quantos e quantos alunos ela iluminou, quantos talentos descobriu e encaminhou para brilharem? Leni “roubou” minha secretária… Não posso deixar de citar este acontecimento quando ela “tirou” de mim uma secretária eficiente, que viabilizava o andamento de meu consultório de Psicologia. Costumo dizer que Dulceli, esta secretária, fazia tudo para mim, no trabalho. Ela só não atendia os clientes… todo o resto era ela que fazia para eu poder trabalhar. E Leni a descobriu na faculdade de História, onde se destacou. A princípio fiquei chateada e sem chão, mas logo entendi que ela era muito grande para um espaço tão pequeno de marcar consultas e fazer serviços de banco…. Leni percebeu seu potencial e o quanto ela podia voar. Convidou-a a participar de um projeto do curso de História, registrando sítios históricos locais e de nossa região, o que resultou em seu primeiro livro. Hoje ela é doutora em História, concursada e atua em Universidade Federal no Mato Grosso do Sul.
Quantos mais a senhora alavancou, professora Leni? Quando do lançamento de seu quinto livro em 27 de abril de 2024, eram muitos os alunos que passaram por suas mãos que estavam comemorando com a senhora, emocionados, mais uma realização sua, pessoal e editorial. Mais uma rica contribuição para nossa cultura, nossa sociedade.
Na Academia, na ALVI, foi intelecto e coração. Para mim, foi e continua sendo uma baliza. Em caso de dúvida, era para ela que eu olhava, era a ela que perguntava. O carinho e a correção com que me respondia era a mesma que dispensava a todos nós, suas confreiras e confrades. Hoje e para sempre, por meio de seu exemplo, teremos sua marca em nossas mentes e corações.
Como tocar a academia sem sua presença, querida Leni? Foi o que pensei quando a perdemos, mas logo veio a resposta: ela, juntamente com os decanos da ALVI, ensinou e observou o tempo todo os cânones, as regras, os caminhos percorridos e a percorrer. Vivenciou em atitudes e palavras a importância e o grande amor que tinha pela entidade. Sempre entusiasmada, sempre com Deus em si nas causas que abraçava.
Usei uma de suas obras, No tempo dos trens nas “Gêmeas do Iguaçu”, de 2011, uma viagem ao passado, em minha tese de doutorado. Neste livro ela dá visibilidade às mulheres trabalhadoras do início de nossa história local. Em 2020, o mundo parou mas, Leni não. Em meio à pandemia, ela lançou As parteiras e seu ofício de aparar bebês.
Os dias que antecederam 27 de abril de 2024, data do lançamento de seu quinto livro, Novos olhares sobre a história de União da Vitória, que tem na capa um sol se pondo…, Leni os viveu com intensidade, com notável dinamismo, emoção, alegria e nos colocou a todos em clima de entusiasmo também. Confesso que me preocupei… mesmo sabendo que a causa era justa, preciosa, digna de todo empenho de realização, ela estava exuberante de alegria e pensei: como ela aguenta estar sob esta intensa energia? Seu rosto, mais do que nunca estava iluminado por mais uma obra concluída, por mais uma contribuição à Academia. Ela parecia não caber em si de entusiasmo e senso de realização e seu tempo cessou. Leni não adoeceu. Ela encerrou seu tempo físico entre nós com a certeza de ter feito o seu melhor, pois se assim não fosse ela não aceitaria. Sempre dando o seu melhor, sempre a sua luz brilhando… O que a movia não era uma força comum, mas uma luz, repito, a luz do entusiasmo, a luz de quem tem a vida vibrando em plenitude dentro de si. Assim ela viveu sua vida, contemplando a família, a vida acadêmica, os escritos. Não combinaria com ela estar na vida sem dela participar com o frescor do entusiasmo, força que sempre a moveu. Assim ela se despediu, saindo de cena em um glorioso momento de sua vida, como fazem os grandes. Antes de ir, ela ainda encaminhou com os acadêmicos as providências para mais um evento da ALVI, a concessão de Comendas Pinhão do Vale a eminências de nossas cidades a serem entregues em maio de 2024. Em seguida, silenciou. Ao sabe-la ausente, lágrimas vieram copiosas aos meus olhos, mas o exemplo e a lembrança de seu rosto sempre alegre e iluminado tomaram seu lugar e assim seguimos, os colegas da ALVI e eu, entendendo mais do que nunca o significado da palavra Imortal. Palmas e graças à sua passagem por entre nós, querida Leni. Sua missão foi cumprida em cada instante de sua vida e isso estará sempre impresso em cada linha que escreveu. Nula dies sine linea.

Por Maris Stela da Luz Stelmachuk

Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Ocupa a Cadeira 16, cujo patrono é Alvir Riesemberg.

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PSICOLOGIA PARA HOJE

A Psicoterapia e o nosso manual de instruções.


Sempre que compramos um aparelho elétrico ou eletrônico, por mais simples que ele seja, vem acompanhado por um manual de instruções. Em geral, conhecemos um pouco do funcionamento do aparelho que adquirimos e passamos a usá-los imediatamente e só recorremos ao manual em caso de alguma dúvida. Ler o manual nem sempre é fácil. Ele é claro, mas não óbvio, pelo menos para nós, comuns, não iniciados em eletrônica ou informática. Até encontrarmos alguém que tenha paciência de ler ou que compreenda os termos do manual, passamos por vários momentos de chateação, de frustração por não podermos obter de nosso aparelho aquilo que ele pode proporcionar.
Não poucas vezes ouvimos e comentamos que seria bom se, como os aparelhos eletrônicos, viéssemos ou se nossos filhos viessem com manual de instruções. Isso facilitaria nossa forma de entendê-los, de educá-los, tudo seria mais fácil. Cada vez mais se ouve da falta que faz um manual de instruções para a condução da vida. Mas… será mesmo que não trazemos conosco um manual de instruções? Observando a vida animal percebe-se que os bichos vivem suas vidas, cumprem sua função, seguem sua determinação genética e não há dúvidas sobre o que devem e o que não devem fazer. Como seres irracionais, não passam pelas vicissitudes humanas de questionamentos e dúvidas sobre o caminho a seguir, que comportamento manifestar. Fácil seria seguir os instintos e dar vazão aos impulsos primários que trazemos em nós, como qualquer animal. No entanto, a condição de vida racional e em sociedade, com todas as suas implicações, não permite aos seres humanos essa linearidade. E aí começam as complicações.
Todos os dias nos deparamos com inúmeras situações, sensações, sentimentos, pensamentos que pedem uma ação. Mas qual a melhor, a mais acertada? Em geral não paramos muito para pensar e tomamos atitudes tranquilamente, sem maiores consequências. Mas nem tudo e nem sempre é assim tão tranquilo. Ao longo da vida, surgem situações às quais respondemos com repetições frustrantes e nem sempre percebemos, nem sempre paramos para refletir sobre elas. Atribuímos à vida… a vida nem sempre é como a gente quer… E os resultados disso vão aparecendo. Alguns bons, satisfatórios, alguns nem tanto, alguns desafiadores, que exigem mais de nós. E tem também aqueles objetivos que não são atingidos. É nessa hora que lembramos de como seria bom ter em mãos um manual de instruções. Mas onde ele está? Será que veio comigo quando nasci? Quem dera ele existisse, nos perguntamos…
A boa notícia é que ele existe e está ao nosso alcance. A má notícia é que, como nos aparelhos eletrônicos, ele é claro, mas não óbvio. É preciso aprender a ler e entender seus termos, as chaves para que funcionem de modo que levem aos objetivos pretendidos. Às vezes precisamos de um técnico que nos ajude a decifrá-lo. E a palavra é essa mesma: decifrar. Tal como declarou a esfinge, se não o deciframos, somos devorados, destruídos. Quando não destruídos, no mínimo funcionamos mal, abaixo de nossas possibilidades, insatisfatoriamente e… o sofrimento vem. A pressa e o imediatismo da sociedade acelerada em que vivemos atrapalham e até impedem a leitura de nosso manual. “Não há tempo!” Após sucessivas frustrações passamos a nos acostumar com as limitações, comprometendo nossa qualidade de vida e até mesmo nossa saúde.
“Mas… já que não encontro as respostas em meu manual, cadê o técnico que me ajude a entendê-lo?” E aí, as alternativas saudáveis que surgem se configuram quando recorremos aos amigos, aos oráculos, à auto-observação, à auto-análise, à análise, à psicoterapia. Cada um desses recursos tem uma função, um alcance, trazem luz ao “indecifrável”. No caso da psicoterapia, o técnico é o psicólogo e o alcance é a descoberta de que o manual está à mão e é auto-explicativo. À cada emergência de uma solicitação interna, seja por meio de um sentimento, de um pensamento, de um sofrimento, de um desejo, de uma dúvida, há uma resposta, bem dentro de nós, em alguma página de nosso manual de instruções.
Em muitos anos de prática em psicoterapia com pessoas de todas as idades, nunca recebi em meu consultório uma só pessoa que não trouxesse consigo o seu manual de instruções, com as respostas e os encaminhamentos adequados às suas necessidades. Em sua busca por acompanhamento psicológico, apenas solicitavam ajuda na leitura desse manual. Cada um deles, cada um com sua complexidade, foi lido juntamente com seu proprietário, que, aos poucos, em seu ritmo, foi aprendendo a fazer sua própria leitura, construindo sua autonomia e passando também a compreender um pouco mais o “manual” dos outros.
Esse manual, muitas vezes, transformou-se em fina literatura, às vezes em pintura, revelando que, por trás das instruções estavam inspirações artísticas, histórias de vida belíssimas, comoventes, dignas de figurar nas mais célebres galerias de arte e literatura, obras sublimes da realização humana. Agradeço a cada uma dessas pessoas pelo compartilhamento da beleza de suas almas e também agradeço por não precisarem mais de mim, pois, com a ajuda para aprenderem a ler seus manuais, conquistaram autonomia e hoje conhecem os caminhos para chagarem, por si mesmos, às páginas que precisam ler para saberem como agir consigo e com os outros.

Por Maris Stela da Luz
Stelmachuk
Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Ocupa a Cadeira 16, cujo patrono é
Alvir Riesemberg.

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PSICOLOGIA PARA HOJE

Psicologia da UnC lança livros de ex-alunos.

O texto aqui apresentado vem com viés diferente dos textos anteriores e isto tem três motivos: um deles é a divulgação de evento, de grande importância para a Psicologia local, regional e nacional. Sendo de importância para a Psicologia, é de importância para todos nós, pois esta ciência e profissão tem como objeto de estudo o ser humano em suas relações, tema que interessa, e muito, a todos. Outro motivo é a visibilidade do curso de Psicologia da UnC para o desenvolvimento regional e, outro motivo ainda é o orgulho de ver nossos egressos dando continuidade a seus estudos em centros maiores, chegando a publicar livros, como parte de seus trabalhos em âmbito nacional.
Post isso, o curso de Psicologia da UnC, campus Porto União, teve a satisfação de lançar para toda comunidade das cidades gêmeas e região, dois livros, nos quais há a participação de dois egressos deste curso. Capítulos destes livros foram escritos pelo psicólogo Vanderlei Woytowicz, versando sobre trabalho com grupos e o outro pela psicóloga Kelen Nahirne, que aborda o atendimento psicológico a crianças por meio de Ludoterapia. O evento de lançamento foi no dia 19 de fevereiro, às 19 horas, no auditório da UnC, campus Porto União, situado no Bairro Cidade Nova, à rua Joaquim Nabuco, 314. Conheça a produção científica e acadêmica de nossos egressos!
Aqui vai um pouco da história da Psicologia em nossa região e destes dois egressos, que terminaram sua graduação nos anos de 2015, Vanderlei e 2018, Kelen. Em sua graduação, Vanderlei fez pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso enfocando grupos, sob título Meditação na infância como recurso para auto-atualização. Kelen Nahirne elaborou para seu trabalho de conclusão de curso, um estudo de um caso de atendimento em Ludoterapia, ambos orientados dentro da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers.
As duas obras ora lançadas foram escritas a várias mãos, sendo a primeira “Abordagem Centrada na Pessoa – Experiências formativas”, vol.1, cujo capítulo 8 é de autoria de Vanderlei. Este foi escrito a partir de uma experiência de atendimento a um Grupo de Encontro realizado on line, em julho de 2022. O título do capítulo é Experiência de um grupo de encontro: o nado de um cardume em processo de atualização. A segunda obra é o volume 2 de Abordagem Centrada na Pessoa – Experiências formativas”, cujo capítulo 6 é de autoria de Kelen Nahirne, com o título A criança e a relação terapêutica além do diagnóstico na Abordagem Centrada na Pessoa.
Importante é conhecermos o empenho e dedicação deste psicólogo e desta psicóloga, ambos egressos do curso de Psicologia, campus Porto União da Universidade do Contestado. Este curso teve início em 2001 e já formou 14 turmas de psicólogos que atuam nas diversas áreas da Psicologia (Clínica, Escolar, Organizacional, Trânsito) local e regional. Atuam também na docência superior em instituições de ensino.
A trajetória de Kelen e Vanderlei teve início durante seu curso na graduação em Psicologia, quando, durante as aulas de Teorias da Personalidade III, que aborda a visão humanista do sujeito humano, sobretudo nas aulas que abordavam a ACP, se identificaram com seus conceitos. Um dos conceitos fundamentais desta abordagem é a consideração positiva incondicional, em outras palavras, aceitação da realidade do sujeito, como ponto de partida para seu autoconhecimento e crescimento. Outro conceito é a congruência, ou seja, alinhamento de sentimento, pensamento e ação. Também um conceito essencial desta abordagem é a compreensão empática ou capacidade de se colocar no lugar do outro, sem com ele se confundir. Estes três conceitos, consideração positiva incondicional, congruência e empatia, além de conceitos, são também atitudes facilitadoras nas relações humanas, não só terapêutica, mas também em todos os outros tipos de relação entre pessoas.
Tanto Kelen como Vanderlei, ao identificarem-se com esta abordagem nas aulas, a escolheram para pautar sua prática clínica em seus estágios curriculares. Mas além dos estágios, eles escolheram esta abordagem para fundamentar suas pesquisas e estudos em seus trabalhos de conclusão de curso, atividades nas quais tive a oportunidade e o gosto de orientá-los.
Após sua graduação, eles iniciaram sua vida profissional e, como é desejável e necessário, deram continuidade à sua capacitação, ampliando e aprofundando seus conhecimentos, buscando pós-graduação e formação nas áreas de sua identificação, a já mencionada Abordagem Centrada na Pessoa. Assim, chegaram ao Grupo Florescimento Humano, que oferece formação em diversas áreas da Psicologia (Escolar, Supervisão, Plantão psicológico, Clínica). A Abordagem Centrada na Pessoa, como o próprio nome indica, é centrada na pessoa e em seu potencial de crescimento, ou seja, não prioriza diagnósticos ou patologias, mas o ser em sua tendência atualizante, de crescimento constante em direção à sua realização como ser humano. Cada um, em sua diferença e peculiaridade, ao longo de sua vida, vai se tornando o melhor que pode ser. Sabemos que não há perfeição e nem finalização neste processo, mas há, sim, crescimento sempre, desde que este seja buscado.
As obras ora lançadas são fruto de trabalhos de conclusão de sua formação em curso em duas áreas da ACP. Vanderlei fez sua formação em Psicologia Clínica. Kelen optou pela Formação em Ludoterapia, área da Psicologia que faz atendimento a crianças. Ambas as formações são ministradas pelo Grupo Florescimento Humano, do Rio de Janeiro. Este grupo é coordenado pelo psicólogo Wagner Durange e Márcia Guimarães, que estiveram presentes no evento de lançamento destes livros. Na mesma data deste lançamento, Wagner e Márcia fizeram atividade presencial com psicólogos de nossa região. Esta atividade aconteceu na manhã do dia 09 de fevereiro, nas dependências do Campus UnC, Porto União.
Conhecer um pouco da trajetória destes dois jovens psicólogos dá visibilidade para o que pode vir a ser a carreira profissional de alunos comprometidos, que teve início em anos anteriores de sua formação. Com sua dedicação estão trazendo contribuições significativas para toda a sociedade regional e para a Psicologia Humanista do Brasil. Parabéns, Kelen! Parabéns, Vanderlei! Parabéns Psicologia da UnC!

Maris Stela da Luz Stelmachuk é membro da Academia de Letras Vale do Iguaçu – ALVI, ocupante da cadeira 16, cujo Patrono é Dr. Alvir Riesemberg.

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