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PSICOLOGIA PARA HOJE

É doença mesmo? Reflexões sobre a patologização emedicalização da vida

Situação contemporânea cada vez mais presente em nossa cultura é a patologização da vida, em que expressões da natureza humana são associadas a categorias médico-psiquiátricas, a fim de enquadrá-las como doenças mentais. Assim, patologizar é transformar em doença comportamentos ou sofrimentos, dimensões do humano que não necessariamente o são. Tão forte é esta tendência que foi instituído o dia 11 de Novembro como o Dia Nacional de Enfrentamento à Medicalização da Educação e da Sociedade, pelo Conselho Regional de Psicologia do Estado de São Paulo e, tomara, seja abraçada esta causa por todos os outros Estados.
O termo patologização vem de patologia, cuja etimologia vem do grego páthos, que significa doença e logos, que remete a estudo, tratado. Mais do que um termo, a patologização vem se tornando cada vez mais, uma prática que rotula os mais variados comportamentos humanos e os classifica como distúrbio, doença que requer medicação.
Em consequência desta tendência vem sua complementação, a medicalização, ou seja, a utilização de remédios. Tal prática advém, muitas vezes de questões educacionais seja no lar, seja na escola. Diante do desafio e da dificuldade em colocar os limites, promover acolhimento da criança em sofrimento ou desorientada, terceiriza-se para a busca de um diagnóstico que justifique fragilidades e isente os orientadores de sua ação de dar contorno ao sujeito e não à sua suposta doença ou patologia, distúrbio.
Historicamente, pessoas que apresentaram alguma diferença em seu modo de ser foram marginalizadas na sociedade, alvo das mais diversas estratégias de violência física, simbólica, preconceito e exclusão. Na Idade Antiga, as crianças com deficiência eram consideradas subumanas e, por isso, abandonadas. Na Idade Média, a deficiência era encarada como uma questão demoníaca, como um castigo divino. Depois, com a influência da doutrina cristã, as instituições de caridade acolhiam essas pessoas, embora continuassem sendo marginalizadas. Quanto essa história ainda se faz presente no nosso dia a dia, quando não conseguimos ou não sabemos incluir pessoas que estão “fora” da norma? E a norma, o que é? É o que padroniza, iguala, despersonaliza? Muitas são as definições deste termo e aqui não é este o questionamento, mas sim quem é a pessoa rotulada ou “anormal”. Existem doenças, patologias, isto é verdade, mas a cada ano, mais e mais doenças “aparecem” e por trás delas um medicamento a ser vendido, cujos efeitos nem sempre são eficazes. O diagnóstico e o laudo muitas vezes resultam em formas simbólicas de exclusão, como se fazia ao internar ou depositar pessoas com comportamentos não assimilados pela família e sociedade em clínicas ou mesmo em hospícios. Não que não existam distúrbios graves que inviabilizem a convivência. Me refiro à profusão de diagnósticos e medicalização que temos presenciado cada vez mais e cada vez mais cedo, já na vida de crianças e adolescentes. É preciso promover a inclusão da pessoa e não de seus rótulos psiquiátricos cada vez mais numerosos e mais banalizados no vocabulário popular. Quando a relação se estabelece com a patologia, com o problema, com a doença em vez de com o sujeito, incorre-se em confundir a pessoa com seu problema. Muitos de nós temos problemas e sofremos com eles enquanto não os resolvemos. Aprendemos a conviver quando não há solução, mas quando vemos e nos relacionamos com o rótulo e não o ser humano e suas especificidades, é preciso questionar onde realmente está o problema. Tão grande é a banalização dos rótulos psiquiátricos com fins de medicalização que instituiu-se uma data para sensibilizar a sociedade e profissionais da saúde a respeito. Assustador é perceber que muitas, mas muitas pessoas se identificam com seus sintomas e problemas: SOU ansioso (e seu nome, como é?), SOU bipolar, tenho TDAH, fulano é bipolar, narcisista, codependente. Estudiosa do assunto, Adriane Fugh-Berman expõe: “Existe um número muito maior de pessoas saudáveis do que de pessoas doentes no mundo e é importante para a indústria farmacêutica, fazer com que pessoas saudáveis pensem que são doentes. Existem muitas maneiras de fazer isso. Uma delas é mudar o padrão do que se caracteriza como doença. Outra é criar novas doenças”. Altera-se a norma e cria-se enfermidades, diz outra pesquisadora que menciona o livro “Vendendo doenças, vendendo enfermidades”, de dois jornalistas dos Estados Unidos. Este livro foi escrito a partir do acesso de seus autores a atas das reuniões, a vídeos das reuniões das indústrias farmacêuticas. Estamos falando do quê? De diagnóstico? De etiqueta? Ou de uma vida transformada em mercadoria?
Méritos à série Império da dor (Netflix) que também vem dando visibilidade a esta questão.
O DSM-5, catálogo de classificação de doenças, aumenta de páginas a cada edição. A fronteira entre uma angústia normal e um transtorno psiquiátrico é difusa e mudanças nas definições de transtornos e suas aplicações, podem rotular situações humanas como doenças mentais. Com isso, empresas farmacêuticas, travestem dores e sentimentos em doenças psiquiátricas para vender seus remédios. Aflição normal é uma parte da vida e não deve ser falsamente rotulada como patologia mental. Na área educacional, o que todos conheciam como birra, hoje, pelo catálogo acima mencionada é descrito com transtorno desafiador opositor. O sentimento humano conhecido como tristeza, incluindo luto por perda de ente querido, virou depressão. E para cada dor há um remédio… A cada corte de sintomas, indicativos de algo a ser acessado e processado em nossa interioridade, menos introspecção e menos possibilidades de elaborações libertadoras e criativas.
As doenças existem, mas sua banalização e generalização necessita questionamento. Qual seria a resposta para estas perguntas: quanto uma criança pode ser sonhadora e viver no mundo da fantasia sem risco de ser rotulada com déficit de atenção? Quanto uma criança pode fazer birras – e em qual intensidade – sem ser rotulada como portadora de transtorno disruptivo, descontrole de humor? Quanto um jovem pode não gostar de estudar sem risco de ser rotulado como portador de transtorno de aprendizagem ou TDAH? Pode não gostar? Quanto uma criança pode ser agitada e ativa sem risco de ser rotulada como hiperativa? Pode ser agitado? Tempos atrás, as crianças eram espertas, peraltas, desobedientes, sonhadoras, arteiras… Hoje, elas são hiperativas, desatentas, desafiadoras… Como se mede isso? Qual é a norma para definir? Os especialistas saberiam dizer? Rotula-se, medica-se e a arte e o desafio de educar, orientar rende-se à pressão comercial de cortar sintomas com medicamentos e não em mobilizar os recursos pessoais que transformam desatenção, agitação em criatividade e vida.
Em uma época em que há obrigação de ser feliz, evita-se toda e qualquer frustração, prática que tem boa (e equivocada!) intenção por parte de educadores, mas que inibe a possibilidade de criar e aprender a partir do obstáculo, coisa que as crianças fazem com prazer e senso de desafio quando encontrada em joguinhos por eles escolhidos, mas que são recebidos com crises e descontentamento quando encontradas na vida. Seria esta uma possível explicação para o resultado de conhecida e recente pesquisa que aponta, pela primeira vez na história, que o quociente de inteligência das novas gerações está menor que os da geração anterior?

Maris Stela da
Luz Stelmachuk
Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu, ocupante da Cadeira 16, cujo patrono é Alvir Riesemberg

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2 Comentários

1 Comentário

  1. Iara Aparecida Miranda

    10/22/2023 a 13:22

    Parabéns pelo texto! importantíssimo para a conscientização do tema…

  2. JANE MARA FEIJAO

    10/24/2023 a 12:55

    Artigo importantíssimo para todos, especialmente para os profissionais da área da saúde, muitos ávidos por “fechar um diagnóstico” para poder atender seus pacientes. Sem desprezar a importância de avaliações precisas e diagnósticos pertinentes, é preciso pensar que o tratamento é para o sujeito e não para a entidade nosológica.

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PSICOLOGIA PARA HOJE

Leni Trentin Gaspari

Grande mulher! Esposa, mãe, avó, professora, pesquisadora, escritora, imortal pela Academia de Letras do Vale do Iguacu…
Mas não é sobre seu currículo que quero aqui escrever. Certamente ficarão faltando menções, pois muito ampla foi sua atuação em nossa sociedade e nossa cultura. Quero escrever sobre a pessoa, a amiga, a acadêmica dedicada que sempre foi. Entusiasmo, palavra de origem grega, significa ter Deus dentro de si. Assim era Leni, nossa guia, nossa referência, com seu jeito afetivo, mas firme de ser, de nos manter dentro dos propósitos da Academia, lembrando sempre de seu lema “Nula dies sine linea”, nos instando a que não passássemos nenhum dia sem escrever uma linha. Todos sabem seu lugar e o que lhes cabe nesta entidade tão produtiva e significativa, mas, Leni ainda assim era nosso farol. Sua alegria era a família, à qual se dedicava com amor e desvelo, mas também o era a docência. Aqui também foi farol.
Quantos e quantos alunos ela iluminou, quantos talentos descobriu e encaminhou para brilharem? Leni “roubou” minha secretária… Não posso deixar de citar este acontecimento quando ela “tirou” de mim uma secretária eficiente, que viabilizava o andamento de meu consultório de Psicologia. Costumo dizer que Dulceli, esta secretária, fazia tudo para mim, no trabalho. Ela só não atendia os clientes… todo o resto era ela que fazia para eu poder trabalhar. E Leni a descobriu na faculdade de História, onde se destacou. A princípio fiquei chateada e sem chão, mas logo entendi que ela era muito grande para um espaço tão pequeno de marcar consultas e fazer serviços de banco…. Leni percebeu seu potencial e o quanto ela podia voar. Convidou-a a participar de um projeto do curso de História, registrando sítios históricos locais e de nossa região, o que resultou em seu primeiro livro. Hoje ela é doutora em História, concursada e atua em Universidade Federal no Mato Grosso do Sul.
Quantos mais a senhora alavancou, professora Leni? Quando do lançamento de seu quinto livro em 27 de abril de 2024, eram muitos os alunos que passaram por suas mãos que estavam comemorando com a senhora, emocionados, mais uma realização sua, pessoal e editorial. Mais uma rica contribuição para nossa cultura, nossa sociedade.
Na Academia, na ALVI, foi intelecto e coração. Para mim, foi e continua sendo uma baliza. Em caso de dúvida, era para ela que eu olhava, era a ela que perguntava. O carinho e a correção com que me respondia era a mesma que dispensava a todos nós, suas confreiras e confrades. Hoje e para sempre, por meio de seu exemplo, teremos sua marca em nossas mentes e corações.
Como tocar a academia sem sua presença, querida Leni? Foi o que pensei quando a perdemos, mas logo veio a resposta: ela, juntamente com os decanos da ALVI, ensinou e observou o tempo todo os cânones, as regras, os caminhos percorridos e a percorrer. Vivenciou em atitudes e palavras a importância e o grande amor que tinha pela entidade. Sempre entusiasmada, sempre com Deus em si nas causas que abraçava.
Usei uma de suas obras, No tempo dos trens nas “Gêmeas do Iguaçu”, de 2011, uma viagem ao passado, em minha tese de doutorado. Neste livro ela dá visibilidade às mulheres trabalhadoras do início de nossa história local. Em 2020, o mundo parou mas, Leni não. Em meio à pandemia, ela lançou As parteiras e seu ofício de aparar bebês.
Os dias que antecederam 27 de abril de 2024, data do lançamento de seu quinto livro, Novos olhares sobre a história de União da Vitória, que tem na capa um sol se pondo…, Leni os viveu com intensidade, com notável dinamismo, emoção, alegria e nos colocou a todos em clima de entusiasmo também. Confesso que me preocupei… mesmo sabendo que a causa era justa, preciosa, digna de todo empenho de realização, ela estava exuberante de alegria e pensei: como ela aguenta estar sob esta intensa energia? Seu rosto, mais do que nunca estava iluminado por mais uma obra concluída, por mais uma contribuição à Academia. Ela parecia não caber em si de entusiasmo e senso de realização e seu tempo cessou. Leni não adoeceu. Ela encerrou seu tempo físico entre nós com a certeza de ter feito o seu melhor, pois se assim não fosse ela não aceitaria. Sempre dando o seu melhor, sempre a sua luz brilhando… O que a movia não era uma força comum, mas uma luz, repito, a luz do entusiasmo, a luz de quem tem a vida vibrando em plenitude dentro de si. Assim ela viveu sua vida, contemplando a família, a vida acadêmica, os escritos. Não combinaria com ela estar na vida sem dela participar com o frescor do entusiasmo, força que sempre a moveu. Assim ela se despediu, saindo de cena em um glorioso momento de sua vida, como fazem os grandes. Antes de ir, ela ainda encaminhou com os acadêmicos as providências para mais um evento da ALVI, a concessão de Comendas Pinhão do Vale a eminências de nossas cidades a serem entregues em maio de 2024. Em seguida, silenciou. Ao sabe-la ausente, lágrimas vieram copiosas aos meus olhos, mas o exemplo e a lembrança de seu rosto sempre alegre e iluminado tomaram seu lugar e assim seguimos, os colegas da ALVI e eu, entendendo mais do que nunca o significado da palavra Imortal. Palmas e graças à sua passagem por entre nós, querida Leni. Sua missão foi cumprida em cada instante de sua vida e isso estará sempre impresso em cada linha que escreveu. Nula dies sine linea.

Por Maris Stela da Luz Stelmachuk

Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Ocupa a Cadeira 16, cujo patrono é Alvir Riesemberg.

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PSICOLOGIA PARA HOJE

A Psicoterapia e o nosso manual de instruções.


Sempre que compramos um aparelho elétrico ou eletrônico, por mais simples que ele seja, vem acompanhado por um manual de instruções. Em geral, conhecemos um pouco do funcionamento do aparelho que adquirimos e passamos a usá-los imediatamente e só recorremos ao manual em caso de alguma dúvida. Ler o manual nem sempre é fácil. Ele é claro, mas não óbvio, pelo menos para nós, comuns, não iniciados em eletrônica ou informática. Até encontrarmos alguém que tenha paciência de ler ou que compreenda os termos do manual, passamos por vários momentos de chateação, de frustração por não podermos obter de nosso aparelho aquilo que ele pode proporcionar.
Não poucas vezes ouvimos e comentamos que seria bom se, como os aparelhos eletrônicos, viéssemos ou se nossos filhos viessem com manual de instruções. Isso facilitaria nossa forma de entendê-los, de educá-los, tudo seria mais fácil. Cada vez mais se ouve da falta que faz um manual de instruções para a condução da vida. Mas… será mesmo que não trazemos conosco um manual de instruções? Observando a vida animal percebe-se que os bichos vivem suas vidas, cumprem sua função, seguem sua determinação genética e não há dúvidas sobre o que devem e o que não devem fazer. Como seres irracionais, não passam pelas vicissitudes humanas de questionamentos e dúvidas sobre o caminho a seguir, que comportamento manifestar. Fácil seria seguir os instintos e dar vazão aos impulsos primários que trazemos em nós, como qualquer animal. No entanto, a condição de vida racional e em sociedade, com todas as suas implicações, não permite aos seres humanos essa linearidade. E aí começam as complicações.
Todos os dias nos deparamos com inúmeras situações, sensações, sentimentos, pensamentos que pedem uma ação. Mas qual a melhor, a mais acertada? Em geral não paramos muito para pensar e tomamos atitudes tranquilamente, sem maiores consequências. Mas nem tudo e nem sempre é assim tão tranquilo. Ao longo da vida, surgem situações às quais respondemos com repetições frustrantes e nem sempre percebemos, nem sempre paramos para refletir sobre elas. Atribuímos à vida… a vida nem sempre é como a gente quer… E os resultados disso vão aparecendo. Alguns bons, satisfatórios, alguns nem tanto, alguns desafiadores, que exigem mais de nós. E tem também aqueles objetivos que não são atingidos. É nessa hora que lembramos de como seria bom ter em mãos um manual de instruções. Mas onde ele está? Será que veio comigo quando nasci? Quem dera ele existisse, nos perguntamos…
A boa notícia é que ele existe e está ao nosso alcance. A má notícia é que, como nos aparelhos eletrônicos, ele é claro, mas não óbvio. É preciso aprender a ler e entender seus termos, as chaves para que funcionem de modo que levem aos objetivos pretendidos. Às vezes precisamos de um técnico que nos ajude a decifrá-lo. E a palavra é essa mesma: decifrar. Tal como declarou a esfinge, se não o deciframos, somos devorados, destruídos. Quando não destruídos, no mínimo funcionamos mal, abaixo de nossas possibilidades, insatisfatoriamente e… o sofrimento vem. A pressa e o imediatismo da sociedade acelerada em que vivemos atrapalham e até impedem a leitura de nosso manual. “Não há tempo!” Após sucessivas frustrações passamos a nos acostumar com as limitações, comprometendo nossa qualidade de vida e até mesmo nossa saúde.
“Mas… já que não encontro as respostas em meu manual, cadê o técnico que me ajude a entendê-lo?” E aí, as alternativas saudáveis que surgem se configuram quando recorremos aos amigos, aos oráculos, à auto-observação, à auto-análise, à análise, à psicoterapia. Cada um desses recursos tem uma função, um alcance, trazem luz ao “indecifrável”. No caso da psicoterapia, o técnico é o psicólogo e o alcance é a descoberta de que o manual está à mão e é auto-explicativo. À cada emergência de uma solicitação interna, seja por meio de um sentimento, de um pensamento, de um sofrimento, de um desejo, de uma dúvida, há uma resposta, bem dentro de nós, em alguma página de nosso manual de instruções.
Em muitos anos de prática em psicoterapia com pessoas de todas as idades, nunca recebi em meu consultório uma só pessoa que não trouxesse consigo o seu manual de instruções, com as respostas e os encaminhamentos adequados às suas necessidades. Em sua busca por acompanhamento psicológico, apenas solicitavam ajuda na leitura desse manual. Cada um deles, cada um com sua complexidade, foi lido juntamente com seu proprietário, que, aos poucos, em seu ritmo, foi aprendendo a fazer sua própria leitura, construindo sua autonomia e passando também a compreender um pouco mais o “manual” dos outros.
Esse manual, muitas vezes, transformou-se em fina literatura, às vezes em pintura, revelando que, por trás das instruções estavam inspirações artísticas, histórias de vida belíssimas, comoventes, dignas de figurar nas mais célebres galerias de arte e literatura, obras sublimes da realização humana. Agradeço a cada uma dessas pessoas pelo compartilhamento da beleza de suas almas e também agradeço por não precisarem mais de mim, pois, com a ajuda para aprenderem a ler seus manuais, conquistaram autonomia e hoje conhecem os caminhos para chagarem, por si mesmos, às páginas que precisam ler para saberem como agir consigo e com os outros.

Por Maris Stela da Luz
Stelmachuk
Membro da Academia de Letras do Vale do Iguaçu. Ocupa a Cadeira 16, cujo patrono é
Alvir Riesemberg.

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PSICOLOGIA PARA HOJE

Psicologia da UnC lança livros de ex-alunos.

O texto aqui apresentado vem com viés diferente dos textos anteriores e isto tem três motivos: um deles é a divulgação de evento, de grande importância para a Psicologia local, regional e nacional. Sendo de importância para a Psicologia, é de importância para todos nós, pois esta ciência e profissão tem como objeto de estudo o ser humano em suas relações, tema que interessa, e muito, a todos. Outro motivo é a visibilidade do curso de Psicologia da UnC para o desenvolvimento regional e, outro motivo ainda é o orgulho de ver nossos egressos dando continuidade a seus estudos em centros maiores, chegando a publicar livros, como parte de seus trabalhos em âmbito nacional.
Post isso, o curso de Psicologia da UnC, campus Porto União, teve a satisfação de lançar para toda comunidade das cidades gêmeas e região, dois livros, nos quais há a participação de dois egressos deste curso. Capítulos destes livros foram escritos pelo psicólogo Vanderlei Woytowicz, versando sobre trabalho com grupos e o outro pela psicóloga Kelen Nahirne, que aborda o atendimento psicológico a crianças por meio de Ludoterapia. O evento de lançamento foi no dia 19 de fevereiro, às 19 horas, no auditório da UnC, campus Porto União, situado no Bairro Cidade Nova, à rua Joaquim Nabuco, 314. Conheça a produção científica e acadêmica de nossos egressos!
Aqui vai um pouco da história da Psicologia em nossa região e destes dois egressos, que terminaram sua graduação nos anos de 2015, Vanderlei e 2018, Kelen. Em sua graduação, Vanderlei fez pesquisa para Trabalho de Conclusão de Curso enfocando grupos, sob título Meditação na infância como recurso para auto-atualização. Kelen Nahirne elaborou para seu trabalho de conclusão de curso, um estudo de um caso de atendimento em Ludoterapia, ambos orientados dentro da Abordagem Centrada na Pessoa, de Carl Rogers.
As duas obras ora lançadas foram escritas a várias mãos, sendo a primeira “Abordagem Centrada na Pessoa – Experiências formativas”, vol.1, cujo capítulo 8 é de autoria de Vanderlei. Este foi escrito a partir de uma experiência de atendimento a um Grupo de Encontro realizado on line, em julho de 2022. O título do capítulo é Experiência de um grupo de encontro: o nado de um cardume em processo de atualização. A segunda obra é o volume 2 de Abordagem Centrada na Pessoa – Experiências formativas”, cujo capítulo 6 é de autoria de Kelen Nahirne, com o título A criança e a relação terapêutica além do diagnóstico na Abordagem Centrada na Pessoa.
Importante é conhecermos o empenho e dedicação deste psicólogo e desta psicóloga, ambos egressos do curso de Psicologia, campus Porto União da Universidade do Contestado. Este curso teve início em 2001 e já formou 14 turmas de psicólogos que atuam nas diversas áreas da Psicologia (Clínica, Escolar, Organizacional, Trânsito) local e regional. Atuam também na docência superior em instituições de ensino.
A trajetória de Kelen e Vanderlei teve início durante seu curso na graduação em Psicologia, quando, durante as aulas de Teorias da Personalidade III, que aborda a visão humanista do sujeito humano, sobretudo nas aulas que abordavam a ACP, se identificaram com seus conceitos. Um dos conceitos fundamentais desta abordagem é a consideração positiva incondicional, em outras palavras, aceitação da realidade do sujeito, como ponto de partida para seu autoconhecimento e crescimento. Outro conceito é a congruência, ou seja, alinhamento de sentimento, pensamento e ação. Também um conceito essencial desta abordagem é a compreensão empática ou capacidade de se colocar no lugar do outro, sem com ele se confundir. Estes três conceitos, consideração positiva incondicional, congruência e empatia, além de conceitos, são também atitudes facilitadoras nas relações humanas, não só terapêutica, mas também em todos os outros tipos de relação entre pessoas.
Tanto Kelen como Vanderlei, ao identificarem-se com esta abordagem nas aulas, a escolheram para pautar sua prática clínica em seus estágios curriculares. Mas além dos estágios, eles escolheram esta abordagem para fundamentar suas pesquisas e estudos em seus trabalhos de conclusão de curso, atividades nas quais tive a oportunidade e o gosto de orientá-los.
Após sua graduação, eles iniciaram sua vida profissional e, como é desejável e necessário, deram continuidade à sua capacitação, ampliando e aprofundando seus conhecimentos, buscando pós-graduação e formação nas áreas de sua identificação, a já mencionada Abordagem Centrada na Pessoa. Assim, chegaram ao Grupo Florescimento Humano, que oferece formação em diversas áreas da Psicologia (Escolar, Supervisão, Plantão psicológico, Clínica). A Abordagem Centrada na Pessoa, como o próprio nome indica, é centrada na pessoa e em seu potencial de crescimento, ou seja, não prioriza diagnósticos ou patologias, mas o ser em sua tendência atualizante, de crescimento constante em direção à sua realização como ser humano. Cada um, em sua diferença e peculiaridade, ao longo de sua vida, vai se tornando o melhor que pode ser. Sabemos que não há perfeição e nem finalização neste processo, mas há, sim, crescimento sempre, desde que este seja buscado.
As obras ora lançadas são fruto de trabalhos de conclusão de sua formação em curso em duas áreas da ACP. Vanderlei fez sua formação em Psicologia Clínica. Kelen optou pela Formação em Ludoterapia, área da Psicologia que faz atendimento a crianças. Ambas as formações são ministradas pelo Grupo Florescimento Humano, do Rio de Janeiro. Este grupo é coordenado pelo psicólogo Wagner Durange e Márcia Guimarães, que estiveram presentes no evento de lançamento destes livros. Na mesma data deste lançamento, Wagner e Márcia fizeram atividade presencial com psicólogos de nossa região. Esta atividade aconteceu na manhã do dia 09 de fevereiro, nas dependências do Campus UnC, Porto União.
Conhecer um pouco da trajetória destes dois jovens psicólogos dá visibilidade para o que pode vir a ser a carreira profissional de alunos comprometidos, que teve início em anos anteriores de sua formação. Com sua dedicação estão trazendo contribuições significativas para toda a sociedade regional e para a Psicologia Humanista do Brasil. Parabéns, Kelen! Parabéns, Vanderlei! Parabéns Psicologia da UnC!

Maris Stela da Luz Stelmachuk é membro da Academia de Letras Vale do Iguaçu – ALVI, ocupante da cadeira 16, cujo Patrono é Dr. Alvir Riesemberg.

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