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CONFESSO QUE TENTEI

Confesso que tentei

Para dar título a essas minhas novas crônicas memorialísticas, que agora inicio, me inspirei, primeiramente, no belíssimo livro autobiográfico de Pablo Neruda, Confesso que vivi e também no emocionante livro de memórias, Confesso que perdi, de Juca Kfouri, que por sua vez se inspirou no título do livro de Neruda.

Aqui vou tentar relatar minha experiência como gestor cultural, iniciada em 1980, quando fui assessor de imprensa do então prefeito, Gilberto Brittes, e acabei por assumir a responsabilidade pelos assuntos culturais da municipalidade. Na época não havia ainda uma Fundação de Cultura e nem uma Secretaria de Cultura, dessa maneira, assumi, informalmente, a incumbência, designado que fui pelo então prefeito. Naquele momento, ou seja, no final dos anos 70, União da Vitória começava a viver um período de quase euforia artístico-cultural, motivada pelo formidável trabalho do então secretário de Estado da Cultura, Luiz Roberto Soares, que como era daqui, passou a incluir União da Vitória no roteiro cultural do estado. Para isso chamou o prefeito Gilberto Brittes, que me chamou e conseguimos trazer shows e peças de teatro memoráveis para a cidade, entre os quais eu destacaria: Dóris Monteiro, Sérgio Ricardo, Maurício Tapajós, Viva Voz, João Lopes e Luis Melodia, culminando com o fantástico Festival Todos os Cantos, que percorreu nove cidades do estado, sendo uma das etapas em União da Vitória, quando aqui estiveram como jurados e também se apresentaram nas duas noites do festival, Carlinhos Lyra e sua bela mulher, a americana, Kate Lyra, Billy Blanco, Reginaldo Bessa, Cesar Costa Filho, Célia, Cris e Cristina e o grande Raulzinho de Souza, que logo em seguida passaria a residir nos Estados Unidos, onde fez brilhante carreira que o consagraria como um dos maiores trombonistas do mundo. No aniversário de União da Vitória em 1982, com Brittes quase deixando a prefeitura, por força de legislação eleitoral, trouxemos pela primeira vez para a cidade a banda Blindagem, que fez antológico show na Praça Coronel Amazonas. Com a saída de meu amigo Gil da prefeitura, fui trabalhar na Fundação de Saúde Caetano Munhoz da Rocha, administrando o então Centro de Saúde de União da Vitória. Trabalho, extremamente, burocrático que eu exercia a duras penas, até que no início de março de1983, o então prefeito Alcides Fernandes manda me chamar na Prefeitura Municipal e pede para eu organizar alguma coisa para o aniversário da cidade. Ponderei com o prefeito de que necessitaria de uma solicitação formal do município pedindo minha disponibilidade junto à 6ª Regional de Saúde. O então chefe da regional, Warrib Motta, concedeu minha disponibilidade parcial, sendo que teria que trabalhar no Centro de Saúde pela manhã e a tarde poderia organizar a programação cultural do aniversário da cidade. Como estava em cima da hora, não conseguiria mais fazer muita coisa e sugeri ao prefeito montarmos uma grande exposição de Artes Plásticas, experiência que havia adquirido ainda no governo de Brittes, quando União da Vitória sediou o Salão de Novos do Paraná, com artistas de todo o estado, em mostra competitiva. Foi nessa época que a prefeitura confeccionou paineis que circundavam todo o auditório da FAFI, então dirigida pelo professor Almir Rosa, outro grande amigo e grande parceiro. A exposição de 1983 foi muito bem sucedida, contando com a participação de praticamente todos os artistas plásticos da cidade, inclusive daqueles que não mais residiam aqui. Para montar a exposição contei com o auxílio luxuoso, como diria o compositor Luis Melodia, de outro grande amigo, Ari Passos. O prefeito Alcides gostou do resultado e mais uma vez mandou me chamar e me convidou para cuidar dali em diante dos assuntos culturais da cidade. Aceitei na hora, pois amava o fazer cultural, dizendo, entretanto, que mais uma vez o pedido teria que ser formalizado. Assim o foi e fiquei a frente dos assuntos culturais até dezembro de 1986, porque em janeiro eu pediria demissão da Fundação de Saúde, porque não suportaria a pressão política, pois havia me envolvido na campanha derrotada de Alencar Furtado, para o governo do estado.

Na época do governo de Alcides também conseguimos trazer alguns ótimos espetáculos para União da Vitória, como a peça teatral Colônia Cecília, baseada em um dos primeiros núcleos anarquistas a se instalar no país, em Palmeira, aqui no Paraná. Em parceria com a Sul América Seguros, trouxemos para União da Vitória um concerto do pianista Jean Louis Steuerman, um dos maiores intérpretes, senão o maior, de Bach. Vale ressaltar que esse concerto só pode ser viabilizado devido ao enorme empenho do professor Flávio Canabarro, responsável pelo escritório local da Sul América, que envidou todos os esforços imagináveis para que o pianista viesse para cá. Foi uma bela parceria entra a Sul América, o município e mais uma vez a FAFI, hoje UNESPAR.

De 1987 a 2002, eu ficaria longe da gestão cultural, até que em uma noite do Carnaval de 2003, recebo um telefonema do prefeito, Hussein Bakri, que me convida para presidir a Fundação de Cultura de União da Vitória. O convite foi no dia 6 de março. Perguntei para Hussein quando ele queria que eu assumisse e ele respondeu, amanhã e há um inconveniente, quero inaugurar efetivamente, o Cine Teatro Luz, no dia 27 de março, com um grande filme e salientou, não existe sistema de projeção, exceto o que já existia e também não temos nenhum contato com as distribuidoras, você terá que começar quase do zero. Aceita o desafio? Aceitei, e, dia 27 de março, conforme determinação de Hussein o cinema abriria suas portas para o público, que lotaria, completamente, a sala, para assistir ao filme Cidade de Deus, recém lançado no circuito nacional. Mas isso é história para uma próxima crônica. Até lá então.

17 de maio de 2019 – Delbrai Augusto Sá

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