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CULTURA

VENCEDORES DO OSCAR 2019

Esse ano de 2019 é um ano atípico. Em oposição às últimas décadas eu vi poucos filmes dos indicados ao Oscar, não vi os franco favoritos nem A Favorita. Estou em dívida e quero ver Roma e A Favorita ainda nesta semana, então quem sabe nas semanas seguintes a gente conversa melhor sobre eles. Tenho um pouco de preguiça do grande vencedor, Green Book. Se os grandes mestres o estão rechaçando, então deve haver um bom motivo. O que eu quero dizer com isso? Bem, pra vocês terem uma ideia quando o filme foi anunciado como o vencedor do principal prêmio da noite, Spike Lee virou-se de costas ao palco, num ato que demonstra clara discordância. Dizem que um pouco porque o filme é ruim e possui diversos problemas, outro tanto porque filmes sobre racismo com brancos salvadores, feito por gente branca, contestado pela família do artista negro, tudo isso já deu no saco.
Em 2019 o Oscar se pulverizou. Lee levou o prêmio de roteiro adaptado por seu excelente Inflitrado na Klan, e entregou um belo discurso, conclamando artistas a fazerem a coisa certa (numa auto-referência a seu próprio filme). O melhor filme também levou a estatueta de roteiro original. Alfonso Cuarón levou o prêmio de direção por Roma. Olivia Colman foi escolhida melhor atriz por A Favorita e Rami Malek, o melhor ator, por Bohemian Rhapsody. Dois atores negros venceram os prêmios de coadjuvante, Regina King, por Se a Rua Beale Falasse e Mahershela Ali, que igualou-se a Denzel Washington com duas estatuetas para um ator negro, por Green Book
Roma levou o melhor filme estrangeiro e Homem-Aranha no ARANHAVERSO levou o prêmio de animação. Um ano que continuou sua tradição de não premiar ou indicar mulheres na categoria de direção, conseguiu alguma redenção em outras categorias, como direção de arte e figurino, prêmios entregues à mulheres negras. Nas categoria de documentário e curta de documentário também foram premiadas mulheres. Mas a ausência de diretoras nas listas de melhores filmes levam a um dos dados mais desesperadores do Oscar. De todos os indicados apenas 29% das falas eram de mulheres. E isso só ocorreu porque Roma puxou a estatística pra cima, com seus 90% de fala na boca de mulheres. Sem Roma teríamos um mundo bem mais sombrio nesse departamento.
Aqui a lista com os principais vencedores:

Melhor filme
“Green Book – O Guia»

Melhor diretor
Alfonso Cuarón – “Roma”

Melhor ator
Rami Malek – “Bohemian Rhapsody

Melhor atriz
Olivia Colman – “A Favorita»

Melhor ator coadjuvante
Mahershala Ali – “Green Book: O Guia

Melhor atriz coadjuvante
Regina King – “Se a Rua Beale Falasse”

Melhor animação
“Homem-Aranha no Aranhaverso”

Melhor filme estrangeiro
“Roma” – México

Melhor roteiro original

“Green Book: O Guia”

Melhorroteiroadaptado
“Infiltrado na Klan”

Melhor trilha sonora

“Pantera Negra”

Melhor canção original
“Shallow” – “Nasce Uma Estrela”

Melhor documentário de longa-metragem
“Free Solo”

Melhor edição
“Bohemian Rhapsody”

Melhor direção de arte
“Pantera Negra”

Melhor fotografia
“Roma”

1 de março de 2019 – Nina Rosa Sá

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CULTURA

“Estou pensando em acabar com tudo”

Tão complexo quanto interessante. Considero o terceiro ato longo, mas os dois primeiros fazem valer.
Queria ter um pensamento menos cínico pra acreditar que é um filme sobre masculinidade tóxica. Pode ser pode não ser. Mas essa leitura de que tudo se passa na cabeça de um homem que acha que o mundo – e principalmente as mulheres – lhe deve algo me interessa muito mais do que a solidão e o envelhecimento e a morte e até mesmo a arte, todos temas caros a Charlie Kaufman e muito presentes em “Estou pensando em acabar com tudo” (I’m Thinking of Ending Things). Além disso, o filme é um emaranhado de referências e tenho a impressão que funciona pouco numa camada superficial, pelo terreno da “estória” ser tão arenoso. Pontos bônus para imitação/homenagem à Pauline Kael.
Eu diria 4 estrelas de 5.

18 de setembro de 2020 – Nina Rosa Sá

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CULTURA

Filmes e séries para uma ilha deserta

Coisas que levaríamos para uma ilha deserta nem sempre são as melhores. Mas as mais afetivas, aquelas que nos fazem rir ou nos emocionam e deixam o coração quentinho. Minha lista de dez melhores filmes de todos os tempos é praticamente inteira diferente dos filmes para assistir sozinha, isolada em uma ilha da qual talvez eu não pudesse sair. Os filmes que eu veria de novo e de novo e de novo. Por isso, nessa lista não tem os alguns dos filmes mais geniais da história do cinema, não tem Hitchcock, Godard, Truffaut ou Buñuel. Embora eu tenha considerado e reconsiderado a inclusão de Os Pássaros. No fim, Ladybird levou a melhor. Não é irônico

O mesmo com as séries de televisão. Não tem obras seminais como The Sopranos ou BreakingBad, mas tem coisas que eu poderia ficar assistindo para o resto da vida no repeat. E o número de temporadas ajuda na variação.

Por fim, um bônus. Como não entrou nenhum na lista de filmes, fiz uma lista extra de filmes brasileiros. O único que quase chegou na lista principal foi o da Turma da Mônica.

FILMES

  1. Dirty Dancing – Emile Ardolino
  2. Evil Dead – Sam Raimi
  3. Annie Hall – Woody Allen
  4. Uma Equipe Muito Especial – Penny Marshall
  5. Doutor Fantástico – Stanley Kubrick
  6. Retrato de uma Jovem em Chamas – Cèline Sciamma
  7. But I’m a Cheerleader – Jamie Babbit
  8. Ladybird – Greta Gerwig
  9. Selma – Ava Duvernay
  10. Primer – Shane Carrouth

SÉRIES

  1. Gilmore Girls – criada por Amy Sherman-Paladino
  2. Grey’s Anatomy – criada por Shonda Rhimes
  3. Friends – criada por Marta Kauffman e David Crane
  4. Mad Men – criada por Matthew Weiner
  5. The L Word – criada por Ilene Chaiken
  6. Ru Paul’s Drag Race – criada por RuPaul Charles
  7. Parks and Recreation – criada por Greg Daniels e Michael Schur
  8. BoJack Horseman – criada por Raphael Bob-Waksberg
  9. Fleabag – criada por Phoebe Waller-Bridge
  10. Justiça – criada por Manuela Dias

BÔNUS FILMES BRASILEIROS

  1. Turma da Mônica em A Princesa e o Robô – Maurício de Sousa
  2. Bacurau – Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
  3. Entre Nós – Paulo Morelli
  4. Cidade de Deus – Fernando Meirelles
  5. Todas as Mulheres do Mundo – Domingos Oliveira
  6. A Hora da Estrela – Suzana Amaral
  7. Durval Discos – Ana Muylaert
  8. 2 Filhos de Francisco – Breno Silveira
  9. As Melhores Coisas do Mundo – Laís Bodanzky
  10. Hoje eu Quero Voltar Sozinho – Daniel Ribeiro

4 de julho de 2020 – Nina Rosa Sá

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CULTURA

Democracia em vertigem

O filme Democracia em Vertigem, de Petra Costa, acaba de estrear na Netflix, aliás está sendo distribuído pelo serviço de streaming, o que potencializa ainda mais os efeitos almejados pela cineasta: um filme bastante didático, agarrado no lado emocional, para gringo ver e entender o caos político que se tornou este país após o golpe contra a presidente Dilma em 2016 – ou, mais precisamente, o golpe contra a democracia de 16.
Petra desenvolve todo seu documentário em primeira pessoa, se colocando como objeto da história. Algo que parecia muito mais pertinente em seu primeiro filme, Elena. E que aqui soa como jogo simplista de emoções. Algum sentido há em, logo de cara, ela declarar a dicotomia de ser neta dos fundadores da Andrade Gutierrez e filha de guerrilheiros exilados do período da ditadura militar. Talvez o problema resida na quase vergonha dessa elite familiar que torna o filme uma espécie de samba de uma nota só, em que até os momentos de crítica ou autocrítica dos entrevistados do Partido dos Trabalhadores soa artificial e superficial.
Falta ao filme um posicionamento mais assertivo e dizer que sim, apesar da balbúrdia que virou o Brasil e de não vivermos em uma democracia (depois da extensa divulgação dos áudios da lava-jato pelo Greenwald a gente não tem mais como discutir ou justificar a prisão do ex-presidente Lula), os governos de esquerda que ficaram por tanto tempo no poder falharam em fazer as reformas mais básicas, falharam na regulamentação da mídia, falharam no contato com as bases.
Democracia em Vertigem passa rapidamente por esses pontos, em falas breves de Lula, Dilma e outros membros do partido. Mas se concentra mais numa narrativa que às vezes soa explicativa demais, às vezes soa brega com citações bobas. O poder que Petra encontra em algumas imagens é muito maior do que o texto, principalmente na imagem da posse de Dilma, com Temer separado dela e de Lula tentando se colocar nas fotos, a cisão entre partidos que a imagem deixa mais clara do que qualquer texto que ela pudesse utilizar nesse cansativo e extenso voice-over que é o filme.
Porém, isso não justifica as críticas à voz de Petra Costa. A utilização de narração não é das melhores ferramentas e o texto não ajuda muito? Sim. A voz dela ser aguda ou qualquer outro adjetivo é uma crítica pertinente? Não. É uma crítica essencialmente masculina, espalhada por diversos perfis de Facebook e jornais de renome. E isso aí é machismo mesmo. Gente que quer a credibilidade de uma voz profunda e nem repara que está repetindo um comportamento que vem lá dos gregos, de muitos séculos atrás.
A sensação maior é de que o filme se beneficiaria de alguma edição, talvez uns vinte minutos a menos, cortando as inúmeras cenas dos bonitos movimentos de câmera pelo palácio vazio (á noite, á tarde, ao amanhecer, ao entardecer, tem todas as mudanças de luz imagináveis) com a narração didática de Petra que acrescenta muito pouco a história que ela decidiu contar. Os momentos furtivos em que vemos personagens chave dessa história dialogando ou as entrevistas ou as imagens de arquivo tem muito mais potencia do que o dispositivo do V.O. ou que subjetivação da História – agora com agá maiúsculo mesmo. Não digo que as coincidências entre a mãe de Petra e a presidente Dilma não sejam interessantes, que coloca-las juntas não seja uma estratégia de atingir pelo afeto, mas parecem não caber exatamente neste filme. A impressão que dá é que existiam muitos filmes possíveis no extenso material filmado pela equipe, mas que as escolhas ficaram no meio do caminho e, por isso, há mesmo vários filmes possíveis dentro de Democracia em Vertigem, alguns melhores que outros. Mas quando o filme funciona, quando a imagem dita o tom ou a entrevista é contundente a gente consegue entender melhor o que poderia ter sido.
O que sobra é a certeza do grande potencial de Petra Costa, que ainda é jovem e com certeza vai fazer filmes cada vez melhores, cada vez mais importantes. O que não tira a suma importância deste, por mais defeitos que possua. Se é para gringo ver, a notícia requentada do nosso caos contemporâneo, é possível que funcione. E precisamos continuar gritando ao mundo, com as ferramentas que tivermos, o Brasil já não é uma democracia. Se a ferramenta for a arte que o atual governo quer destruir, tanto melhor.

28 de junho de 2019 – Nina Rosa Sá

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